Enheduana: autora, sacerdotisa e exilada

Enheduana (c.2285-c.2250 aC) foi uma princesa acadiana, alta sacerdotisa da deusa Inanna e a primeira autora conhecida no mundo.

Enheduana viveu durante um período tumultuado na história da Mesopotâmia. Ela nasceu na cidade de Ur, na antiga Mesopotâmia, atual Iraque, durante o reinado de seu pai, o rei Sargão de Acade. Por volta de 2350 aC Sargão conquistou toda a Mesopotâmia e criou o Império de Acade, então o primeiro estado imperial do Antigo Oriente Próximo. Enheduana foi nomeada sacerdotisa de Nanna, o deus lua sumério, cujo principal santuário ficava em Ur.

Sargão conquistou muitos territórios, mas seu governo foi problemático. Logo apareceram várias rebeliões durante seu reinado. Em uma época de grande agitação e rebelião, Enheduanna enfrentou o exílio.

Exílio e autora

Como alta sacerdotisa e consorte do deus da lua tinha uma posição de grande poder e influência. Mas quando uma rebelião liderada por Lugal-Ane chegou ao poder na cidade de Ur, sua fortuna mudou. Lugal-Ane reivindicou a legitimidade do deus da cidade Nanna e exigiu que Enheduanna confirmasse sua subida ao poder. Mas Enheduanna, leal à dinastia sargônida, recusou-se a apoiar o novo governante.

Enfurecido em ser desafiado, Lugal-Ane destituiu Enheduanna de seu cargo e a expulsou da cidade. Sem ter para onde ir, Enheduanna fugiu para a cidade de Ĝirsu. Foi lá, em seu exílio, compôs a canção Nin me šara (A exaltação de Innana) um apelo à deusa Inanna para que interviesse em nome do Império Acadiano.

A rebelião de Lugal-Ane e outros reis ameaçou destruir o império. Em resposta, Enheduanna invocou a ajuda divina. Não sabemos as implicações públicas de seu poema. Quem sabe inspirou o moral público para enfrentar o usurpador.

Finalmente, chegou o dia do acerto de contas. Seu sobrinho, o rei Narām-Sîn, liderou as forças sargônidas na batalha contra os rebeldes. Foi um conflito brutal, mas no final Narām-Sîn saiu vitorioso. A autoridade sargônida foi restaurada e Enheduanna provavelmente retornou a Ur.

Isso leva a crer que Enheduanna permaneceu uma mulher resoluta, determinada a fazer o que fosse necessário para proteger seu império. Seus poemas são um testemunho de sua bravura e de seu exílio.

Enheduana: autora, sacerdotisa e exilada

Suas obras

Sua obra maior é a Exaltação de Inanna, um hino em sumério que celebra o poder e a beleza da deusa Inanna. No poema, Enheduana descreve a jornada de Inanna ao submundo e sua subsequente ressurreição, usando imagens vívidas e linguagem emocional para transmitir o poder da deusa. Ela também usa esse hino épico de cerca de 400 linhas para pedir que o poder e a influência da deusa Inanna ajudem o império acadiano.

Já no Hino a Inanna elogia Inanna e descreve seu poder, beleza e influência como deusa do amor, da guerra e da fertilidade. É relativamente curto, com apenas 27 linhas.

Ainda sobre as peripécias da deusa do amor e da guerra, escreveu o poema Inanna e Ebih. No poema, Inanna luta contra Ebih, uma montanha que se recusa a se curvar a ela. Inanna finalmente triunfa, provando seu poder e força. São 156 linhas.

A coleção de Hinos a Nanna louvam o deus da lua e da sabedoria, e descrevem seu papel no panteão sumério. Os hinos dedicados a Nanna são escritos em sumério e acadiano. Eles variam em comprimento e estrutura, variando de orações curtas a composições mais longas com várias partes.

A coleção de Hinos do templo celebram a grandeza e o poder de vários templos na antiga Mesopotâmia, incluindo os templos de Ishtar, Enlil e Ningal. Os hinos do templo foram escritos tanto em sumério quanto em acadiano e variam em extensão e estrutura. Alguns eram curtos e simples, enquanto outros eram mais longos e complexos. Eles eram frequentemente divididos em várias partes, cada uma com um foco diferente nos deuses e seus atributos.

A importância de Enheduana

Suas obras são os exemplos mais antigos conhecidos da literatura da antiga Mesopotâmia e são consideradas algumas das primeiras obras escritas da história humana. Sua poesia expressa uma profundidade emocional e imagens vívidas. É um avanço na história da literatura por serem obras a reivindicarem autoria. Em tempos que saber escrever (e recitar) era um trabalho em tempo integral, uma autora fora da classe escribal era uma excepcionalidade.

Seus poemas foram encontrados espalhados e publicados no final do século XX. Há um pouco de dúvida sobre sua autoria, mas é bem provável. A posição de Enheduana como alta sacerdotisa e autora era altamente incomum para uma mulher na antiga Mesopotâmia. As mulheres eram geralmente excluídas de posições de poder e autoridade, e poucas mulheres na história antiga foram autoras. A posição de Enheduana como alta sacerdotisa deu a ela certa influência e respeito em uma sociedade dominada por homens, e sua poesia é uma prova de seu intelecto e criatividade. Seu legado como autora pioneira e mulher poderosa contrasta também por ser a primeira autora migrante conhecida da história.

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