Atrahasis: criação, dilúvio e recriação

O Atrahasis é um antigo épico acadiano que conta a história da criação do mundo e da história primeva. O título vem de seu protagonista, Atrahasis ou Atra-hasis (“o muito devoto” ou “extremamente sábio” ), nesse épico que liga eventos desde a Criação até o Dilúvio.

: criação, dilúvio e recriação

Atrahasis: criação, dilúvio e recriação

A estória está dividida em três tabuletas cuneiformes.

Tabuleta I – a criação

“Quando os deuses estavam nos caminhos dos homens”, na criação do cosmo, os deuses Anu (céu), Enlil (vento e terra) e Enki ou Ea (água) dividiram seus domínios.

Enlil ordenou aos dingirs (ou igigi), deuses menores, a cultivarem a terra, bem como manter os rios e canais. Após 40 anos, os dingirs cansaram-se e fizeram uma greve. O gente-boa e ponderado Enki sugere criar os humanos para o trabalho pesado.

A deusa mãe Mami cria os humanos moldando estatuetas de argila misturadas com a carne e o sangue do deus morto Geshtu-E, o custódio da sabedoria. O barro também continha o cuspe de outros deuses. Após 10 meses de gestação, nascem os humanos. Do barro saem sete pares de seres humanos.

Tabuleta II – humanos e problemas

Seis mil anos passaram-se e a população humana cresceu demais. Fazem muito barulho e a algazarra incomoda o soninho de Enlil. Para reduzir essa população, Enlil envia fome, seca e peste em intervalos fixos de 1200 anos. O bom Enki alerta seu favorito, o pio e trabalhador Atrahasis.

Instruído, Atrahasis e os humanos param de trabalhar e de fazer sacrifícios. Os deuses sentem a falta da devoção dos humanos e os males acabam.

A tabuinha falta muitas partes, mas termina com a decisão de Enlil de enviar um dilúvio destruidor da humanidade. Antecipando as ações de Enki, obriga-o um juramento de guardar o segredo proibindo-o de falar cara-a-cara com o mortal.

Tabuleta III – o dilúvio

Aqui aparece o dilúvio. Enki mantém seu juramento, mas acha um jeitinho: comunica com Atrahasis através de uma parede de junco. Instrui dizendo ao herói para desmontar sua casa e construir um barco. O navio deve ter um teto “como Abzu” (ou Apsi), acomodar as espécies de animais e ser selado com betume.

Atrahasis embarca no barco com sua família e animais, depois fecha a porta. A chuva vem. O deus Nergal arrancou os suportes das comportas celestiais e Ninurta forçou as represas transbordarem. Adad jogou a escuridão nos céus. As ondas cobriram até o topo das montanhas. Seguem seis dias e sete noites a terra é arrasada por rajadas, chuvas torrenciais, trovões, relâmpagos e furacões.

A tempestade e a inundação é tanta que até os deuses ficam com medo e escondem-se como cãezinhos assustados. Após sete noites de chuva o dilúvio termina. O barco encalha no monte Nishir, uma montanha alta. O insólito navegador manda três pássaros sucessivamente: uma pomba, uma andorinha e um corvo. Os dois primeiros pássaros voltaram, mas o corvo não voltou – ou seja, a terra estava secando.

O sábio homem preparando sacrifícios apetitosos. Prepara sete vasos, incensário, cimbo, cedro e murta. Os deuses sentem o cheiro o churrasco e aparecem. Fazem uma aliança com a humanidade de não mais tentar destruí-la.

Enlil, porém, está furioso com Enki. Enki nega. Ele só garantiu de que a vida fosse preservada. Por fim, Enki e Enlil concordam em outros meios para controlar a população humana. Doenças e esterilidades reduzirão a população e garantirão uma população mais manejável.

Atrahasis, por sua coragem e ato piedoso, passa a viver para sempre com Enki no paraíso de Dilmun.

História textual e da recepção

Atrahasis possui outros nomes nas diferentes tradições mesopotâmicas. O nome Ziusudra aparece nas listas de reis sumérios e no Gênesis de Eridu. No entanto, recebe o nome de Utnapishtim no Épico de Gilgamesh. Atrahasis era um membro da família real de Shuruppak antes do dilúvio, filho de Ubar-Tutu, o rei dessa cidade.

O épico de Atrahasis apareceram somente em três tabuletas feitas pelo escriba acádio Nur-Aya datadas de 1636/1635 a.C. foram descobertas por volta de 1890 na antiga cidade babilônica de Sippur. Em 1898 foram publicadas pelo assirologista Pe. Jean-Vincent Scheil.

O motivo literário e várias versões do conto existe. A passagem do dilúvio foi incorporada e reescrita no Épico de Gilgamesh, apresenta paralelos com o Dilúvio de Noé, o Dilúvio de Manu, o Dilúvio de Ogiges e o Dilúvio de Deucalião.

SAIBA MAIS

Bottéro, Jean; Kramer, Samuel Noah. Lorsque les dieux faisaient l’homme. Paris: Éditions Gallimard, 1989

Dalley, Stephanie, ed. Myths from Mesopotamia: creation, the flood, Gilgamesh, and others. Oxford University Press, 1998.

Frymer-Kensky, Tikva. “The Atrahasis epic and its significance for our understanding of Genesis 1-9.” The Biblical Archaeologist 40.4 (1977): 147-155.

Moran, William L. “Atrahasis: the Babylonian story of the flood.” Biblica 52.1 (1971): 51-61.

A epopeia de Gilgamesh

Enuma Elish: o épico babilônico da criação

O ciclo de Baal em Ugarit

Nataraja: a cosmogonia dançante do hinduísmo

Criação: as cosmogonias bíblicas

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