Sinopse dos livros de Aristóteles

Por Leonardo Marcondes Aves. Atualizado em 25.08.2025

A obra de Aristóteles (384-322 a.C.), aluno de Platão e tutor de Alexandre, o Grande, constitui outro pilar fundamental do pensamento ocidental, abrangendo praticamente todas as áreas do conhecimento de sua época. Nascido em Estagira, sua abordagem filosófica e científica, desenvolvida em grande parte no Liceu, sua escola em Atenas, diferencia-se da de seu mestre por um maior empirismo e uma sistematização rigorosa, buscando compreender o mundo através da observação e da lógica.

  1. Os livros de Aristóteles
    1. A transmissão do corpus aristotélico
    2. O legado inicial e a perda temporária
    3. Alexandria e a preservação inicial
    4. A redescoberta e a edição de Andrônico de Rodes
    5. Transmissão árabe
    6. A recepção europeia medieval e moderna
    7. A edição de Bekker e a erudição consolidada
  2. Sinopse das Obras
    1. Categorias
    2. Da Interpretação
    3. Analíticos Anteriores
    4. Analíticos Posteriores
    5. Tópicos
    6. Refutações Sofísticas
    7. Física
    8. Sobre o Céu
    9. Da Geração e da Corrupção
    10. Meteorológicos
    11. Da Alma
    12. Metafísica
    13. Ética a Nicômaco
    14. Política
    15. Retórica
    16. Poética
    17. Sobre a Filosofia
    18. Das Partes dos Animais
    19. Do Movimento dos Animais
    20. Da Geração dos Animais
    21. História dos Animais
    22. Sobre a Sensação e os Sensíveis
    23. Sobre a Memória e a Reminiscência
    24. Sobre o Sono e o Despertar
    25. Sobre os Sonhos
    26. Sobre a Adivinhação pelo Sono
    27. Da Longevidade e da Brevidade da Vida
    28. Sobre a Juventude e a Velhice, Sobre a Vida e a Morte
    29. Sobre a Respiração
    30. Problemas
    31. Metafísica α
  3. Obras de autoria questionada
    1. Magna Moralia
    2. Sobre o Mundo
    3. Sobre as Cores
    4. Mecânica
    5. As Situações e Nomes dos Ventos
    6. Economia
  4. Obras fragmentárias e perdidas
    1. Sobre as Ideias
    2. Protrepticus
  5. Bonus
    1. A Isagoge (Introdução) de Porfírio
Estátua de Aristóteles. Postagem com resumo dos livros de Aristóteles e sua história de transmissão.

Os livros de Aristóteles

Ao contrário dos diálogos platônicos, os escritos do Estagirita que chegaram até nós são, em sua maioria, tratados sistemáticos ou notas de aula, caracterizados por uma análise metódica e detalhada. Sua produção intelectual é vasta, cobrindo lógica, física, biologia, psicologia, metafísica, ética, política, retórica e poética. Essa natureza enciclopédica e a profundidade de suas investigações moldaram disciplinas inteiras por séculos. Sua notas supostamente existiam em duas formas: umas seriam exotéricas, destinadas à publicação, porém mais simplificadas. Outras seriam esotéricas, notas de aula com tópicos curtos e fragmentários, mas suplementados pela instrução oral aos iniciados.

A transmissão do corpus aristotélico

A história da transmissão das obras de Aristóteles é uma saga complexa, marcada por perdas, redescobertas, traduções e interpretações que formaram o pensamento contemporâneo. Desde a sua escola em Atenas até as bibliotecas de Alexandria e os centros de estudo medievais, a jornada dos escritos de Aristóteles por si só é uma aventura dos livros

O legado inicial e a perda temporária

Aristóteles, ele próprio um ávido colecionador de livros, legou sua biblioteca a Teofrasto, que continuou a tradição da escola peripatética. No entanto, após a morte de Teofrasto, a posse da biblioteca passou para Neleu de Scepsis. As fontes antigas divergem sobre o destino exato desses manuscritos.

Uma versão relata que Neleu levou os livros para Scepsis, onde seus herdeiros, desprovidos de interesse filosófico, os mantiveram guardados de forma inadequada. Temendo a busca por livros da biblioteca de Pérgamo, esses herdeiros teriam escondido os manuscritos em uma espécie de trincheira subterrânea, onde sofreram danos causados pela umidade e traças. Eventualmente, esses manuscritos danificados, incluindo obras de Aristóteles e Teofrasto, foram vendidos por um alto preço a Apeliconte de Teos.

Apeliconte, mais bibliófilo do que filósofo, tentou restaurar os textos, mas suas edições foram consideradas imperfeitas e repletas de erros. Essa negligência na preservação e edição dos textos contribuiu para um período em que o conhecimento das obras de Aristóteles entre os primeiros peripatéticos se tornou limitado, restringindo-se principalmente a obras exotéricas.

Alexandria e a preservação inicial

Paralelamente a essa história de perda e redescoberta, a cidade de Alexandria foi local para a história da recepção das obras de Aristóteles. Demétrio de Falero, um discípulo de Teofrasto, teve algum protagonismo na criação da Biblioteca de Alexandria, que se tornou um importante centro de aprendizado. É provável que Demétrio tenha adquirido cópias de muitas das obras de Aristóteles e Teofrasto.

A existência de cópias em Alexandria antes da posse de Neleu diminui a importância exclusiva do episódio de Scepsis e sugere que as obras de Aristóteles continuaram circulando no período helenístico. No entanto, a destruição parcial da Biblioteca de Alexandria foi um baque. A perda não foi total dos escritos de Aristóteles.

A redescoberta e a edição de Andrônico de Rodes

No século I a.C., ocorreu a redescoberta dos manuscritos de Apeliconte. O general romano Sula, após capturar Atenas, levou a biblioteca de Apeliconte para Roma. Lá, o gramático Tirânio trabalhou na organização desses textos.

Foi Andrônico de Rodes quem desempenhou um papel fundamental na edição e publicação das obras de Aristóteles. Andrônico organizou o Corpus Aristotelicum, incluindo a compilação do Organon (as obras lógicas), e estabeleceu uma ordem para os tratados, que influenciou as edições subsequentes. Sua edição, embora relevante para a preservação e disseminação das obras de Aristóteles, não estava isenta de críticas, com questionamentos sobre a precisão textual e a influência de suas próprias interpretações.

Alexandre de Afrodísias (c. 160 – c. 220 d.C.), um filósofo peripatético cuja erudição e clareza de pensamento lhe renderam o título de “o Exegeta” (o Comentador), dedicou-se a interpretar e defender as obras de Aristóteles. Comentou sobre a Metafísica e De Anima, buscando eliminar interpretações neoplatônicas e restaurar o que ele considerava o verdadeiro significado do pensamento aristotélico. Seus extensos comentários influenciaram profundamente a filosofia tardo-antiga e medieval, tanto no Oriente Médio quanto na Europa.

Na Antiguidade Tardia, a preservação do pensamento aristotélico no mundo latino foi restrito. Embora o grego continuasse sendo a língua da erudição filosófica, algumas obras de Aristóteles, especialmente as de lógica, foram traduzidas para o latim e integradas ao currículo educacional. Boécio (c. 480-524/525 d.C.) traduziu e comentar obras do Organon, como as Categorias e Da Interpretação, contribuindo para a formação da lógica medieval. Além das traduções, a filosofia aristotélica foi transmitida através de compêndios, resumos e obras de autores latinos que incorporaram ideias aristotélicas em seus próprios escritos, embora muitas vezes com influências neoplatônicas. Um exemplo, é a obra de Porfírio, Isagogue.

Transmissão árabe

A tradução e apropriação das obras de Aristóteles no mundo árabe durante o período abássida (750-1258 d.C.) representam um momento pivotal na história das ideias. Esse movimento apenas preservou o legado aristotélico e o enriqueceu e o integrou a novas correntes de pensamento, influenciando a filosofia, a ciência e a cultura islâmica.

O califado abássida, com sua capital em Bagdá, tornou-se um centro de aprendizado e erudição. O interesse pela filosofia grega, incluindo as obras de Aristóteles, cresceu entre a elite governante e os intelectuais.

Os cristãos siríacos, com sua longa tradição de estudo da filosofia grega, foram pioneiros na tradução de textos do grego para o siríaco, que serviu como intermediário para o árabe. Eles já conheciam uma versão truncada do Organon alexandrino (a Isagoge de Porfírio, As Categorias, Da Interpretação e os primeiros capítulos dos Analíticos Anteriores). Hunayn ibn Ishāq (809-873 d.C.) foi um dos maiores tradutores da época. Ele e sua escola produziram traduções integrais de obras de Aristóteles, incluindo partes do Organon, e de outras obras científicas e médicas gregas (especialmente de Galeno).

A filosofia árabe adotou logo as obras de Aristóteles. Abū Yūsuf Ya’qūb ibn Ishāq al-Kindī (c. 800-c. 870 d.C.) foi um dos primeiros filósofos árabes a se envolver ativamente com o pensamento aristotélico. Escreveu um resumo do Organon e incentivou a tradução e o estudo das obras de Aristóteles. Abū Nasr al-Farabi (c. 872-c. 950 d.C.), um dos maiores filósofos muçulmano, escreveu comentários sobre muitas das obras de Aristóteles e tentou harmonizar a filosofia aristotélica com o pensamento neoplatônico. Ibn Sina (Avicena, 980-1037 d.C.) foi outro filósofo e cientista islâmico que se baseou fortemente nas obras de Aristóteles. Sua obra O Cânon da Medicina e O Livro da Cura (que trata de lógica, física e metafísica) são exemplos notáveis da influência aristotélica. Por fim, já na Espanha árabe, Ibn Rushd (Averróis, 1126-1198 d.C.), um filósofo e jurista, produziu extensos comentários sobre as obras de Aristóteles, que tiveram uma grande influência na filosofia medieval europeia.

A recepção europeia medieval e moderna

Inicialmente, o conhecimento de Aristóteles estava limitado a algumas obras lógicas que sobreviveram em versões latinas, mas a partir do século XII, traduções do árabe e do grego bizantino intensificaram o acesso a um leque mais amplo de seus escritos.

A transmissão do pensamento aristotélico na Europa medieval foi grandemente impulsionada por uma série de tradutores espanhois. Toledo tornou-se um centro de erudição. Copistas, tradutores e disseminadores de obras filosóficas e científicas trouxeram diversos livros para os estudiosos europeus. Averróis, com seus extensos comentários sobre Aristóteles, influenciou os escolásticos, como Tomás de Aquino, que buscaram harmonizar a filosofia aristotélica com a teologia cristã. Hermannus Alemannus traduziu comentários de Averróis sobre obras de Aristóteles, incluindo a Retórica, a Poética (cuja tradução foi importante para a recepção medieval da obra) e a Ética a Nicômaco; Johannes Hispalensis (João de Sevilha) traduziu tanto obras de Aristóteles quanto de filósofos árabes como Al-Farabi e Avicena; Gerardo de Cremona, embora não se limitasse a Aristóteles, verteu para o latim uma vasta gama de textos científicos e filosóficos do árabe, como o Almagesto de Ptolomeu e obras de Euclides; Michael Scot trouxe para o latim obras de Averróis e Aristóteles, abrangendo áreas como filosofia natural e metafísica; e Dominicus Gundissalinus contribuiu para a tradução e adaptação da filosofia árabe e aristotélica no contexto intelectual latino. Em outros lugares da Europa, tradutores como Guilherme de Moerbeke, disponibilizaram Metafísica, a Ética a Nicômaco e a Poética em latim.

Nesse contexto, a trágica perda do segundo livro da Poética de Aristóteles, dedicado à comédia, cujo último exemplar conhecido teria sido destruído em um incêndio em uma abadia beneditina em 1327, privando a posteridade de uma parte valiosa do pensamento aristotélico sobre a arte dramática.

As edições impressas renascentistas ampliaram a disseminação das obras de Aristóteles. A invenção da imprensa de Gutenberg permitiu a reprodução de livros em larga escala, tornando o conhecimento aristotélico mais acessível a um público mais amplo de estudiosos e intelectuais. Edições notáveis, como a Aldina (1495-1498) de Aldus Manutius, que foi a primeira edição impressa em grego das obras completas de Aristóteles, estabeleceram um novo padrão de qualidade e precisão textual, influenciando as edições subsequentes. Essas edições renascentistas preservaram o texto aristotélico e contribuíram para um renovado interesse e uma nova interpretação de suas ideias no contexto do humanismo e do florescimento cultural da época.

A recepção de Aristóteles por figuras como Francis Bacon e Pierre Ramus teve uma mistura complexa de crítica e adaptação. Bacon, um dos principais defensores do método indutivo e da observação empírica, rejeitou a ênfase aristotélica na lógica dedutiva e nas causas finais, argumentando que a ciência deveria se basear na experiência e na experimentação para obter conhecimento útil e controlar a natureza. Ramus, por sua vez, buscou reformar a lógica e a retórica, criticando a estrutura tradicional do Organon aristotélico e promovendo uma abordagem mais clara e prática do pensamento. Essa crítica ao aristotelismo, embora não representasse uma rejeição completa, influenciou no desenvolvimento da nova ciência. Isso porque desafiava a autoridade intelectual estabelecida e abria caminho para novas metodologias e abordagens no estudo do mundo natural.

No campo científico, a crítica ao aristotelismo, especialmente na física e na astronomia, impulsionou a Revolução Científica, com figuras como Galileu e Newton questionando e reformulando as teorias aristotélicas sobre o movimento e o cosmos. Na filosofia, o pensamento aristotélico continuou a ser debatido e reinterpretado, influenciando áreas como a lógica, a ética (particularmente através da ética das virtudes) e a filosofia política (com a análise das formas de governo). Embora o aristotelismo não tenha permanecido incontestado, sua influência persistiu como um ponto de referência essencial, tanto para a aceitação quanto para o questionamento, no desenvolvimento do pensamento moderno.

A edição de Bekker e a erudição consolidada

No século XIX, a edição de Immanuel Bekker tornou-se a edição padrão das obras de Aristóteles. A edição de Bekker, encomendada pela Academia Prussiana de Ciências, baseou-se em uma rigorosa colação de manuscritos gregos e estabeleceu um sistema de paginação (números de Bekker) que ainda é usado hoje.

A edição de Bekker, intitulada Aristotelis Opera, publicada em cinco volumes entre 1831 e 1836, tinha como objetivo estabelecer um texto padronizado das obras de Aristóteles. Bekker realizou uma minuciosa colação de importantes manuscritos gregos, como o Parisinus Graecus 1853 e o Marcianus Graecus 201, para reconstruir o texto mais preciso possível. A organização da edição seguiu a ordem tradicional das obras de Aristóteles, mas sua principal inovação foi a introdução de um sistema de paginação único, que divide as páginas em colunas (a e b) e linhas. Esse sistema, conhecido como “numeração de Bekker”, tornou-se o padrão para referenciar as obras de Aristóteles e é amplamente utilizado até hoje, garantindo uma uniformidade e precisão nas citações.

Embora a edição de Bekker tenha sido um marco na erudição aristotélica, não estava isenta de limitações. Edições críticas posteriores, como as edições da Oxford Classical Text (OCT) e as edições da coleção Budé, buscaram refinar o texto e fornecer comentários mais abrangentes.

A trajetória do corpus aristotélicos fascinou tanto que Umberto Eco contextualiza seu Em nome da rosa nessa transmissão. Também nesse tema, Jorge Luís Borges situa seu A busca de Averróis.

Sinopse das Obras

As obras aristotélicas são tradicionalmente agrupadas em categorias principais: lógica (o Organon), filosofia natural (física, biologia, cosmologia), metafísica, filosofia prática (ética, política) e obras sobre estética (retórica, poética). Essa organização reflete a estrutura sistemática de seu pensamento.

Seguem sinopses das obras:

Categorias

Em grego Κατηγορίαι, em latim Categoriae: Este texto parte do Organon estabelece um sistema de classificação para os predicados que podem ser afirmados de um sujeito. Aristóteles identifica dez categorias (substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, posição, estado, ação, paixão) que representam os tipos mais gerais de ser e de predicação, lançando as bases para sua lógica e metafísica. Para essas disciplinas, estabelecem os fundamentos de como podemos predicar algo sobre um sujeito.

Da Interpretação

Em grego Περὶ Ἑρμηνείας, em latim De Interpretatione – Focando na linguagem e na lógica, esta obra do Organon analisa a estrutura das proposições (enunciados), explorando a relação entre linguagem, pensamento e realidade. Discute conceitos como afirmação, negação, contradição e os princípios lógicos que governam a verdade e a falsidade das sentenças, incluindo a famosa discussão sobre futuros contingentes.

Analíticos Anteriores

Em grego Ἀναλυτικὰ Πρότερα, em latim Analytica Priora – O cerne da lógica aristotélica, esta obra (parte do Organon) introduz formalmente o silogismo – uma estrutura de argumento dedutivo no qual uma conclusão se segue necessariamente de duas premissas dadas. Aristóteles analisa sistematicamente as diferentes figuras e modos do silogismo, criando o primeiro sistema formal de lógica.

Analíticos Posteriores

Em grego Ἀναλυτικὰ Ὕστερα / Analytica Posteriora) – Complementando os Analíticos Anteriores dentro do Organon, este tratado investiga a natureza do conhecimento científico (episteme) e da demonstração. Aristóteles argumenta que o verdadeiro conhecimento requer provas baseadas em princípios primeiros (axiomas) e definições precisas, visando estabelecer conclusões necessárias e universais sobre as causas das coisas. Delineia sua filosofia da ciência.

Tópicos

Em grego Τοπικά, em latim Topica – Parte do Organon, esta obra funciona como um guia para a argumentação dialética, ou seja, o raciocínio que parte de opiniões geralmente aceitas (endoxa) em vez de princípios primeiros. Aristóteles fornece um inventário de “lugares comuns” (topoi) ou estratégias argumentativas para construir e refutar argumentos em debates e discussões onde a certeza científica não é alcançável.

Refutações Sofísticas

Em grego Περὶ τῶν Σοφιστικῶν Ἐλέγχων, em latim De Sophisticis Elenchis – Frequentemente considerado o apêndice do Organon, este texto cataloga e analisa as falácias lógicas – argumentos enganosos ou inválidos frequentemente usados por sofistas. Aristóteles identifica diferentes tipos de falácias (linguísticas e não linguísticas) e oferece métodos para detectá-las e resolvê-las. Veio a ser um manual para o pensamento crítico.

Física

Em grego Φυσικὴ ἀκρόασις, em latim Physica – Uma investigação fundamental sobre os princípios da natureza (physis) e do movimento ou mudança (kinesis). Aristóteles analisa conceitos como matéria, forma, as quatro causas (material, formal, eficiente, final), espaço, tempo, infinito, continuidade e introduz a noção de um Motor Imóvel como causa última do movimento no universo. É a base de sua filosofia natural.

Sobre o Céu

Em grego Περὶ Οὐρανοῦ, em latim De Caelo– Nesta obra cosmológica, Aristóteles apresenta seu modelo geocêntrico do universo. Descreve um cosmo finito e esférico, dividido entre o mundo sublunar (sujeito à geração e corrupção, composto por terra, água, ar e fogo) e as esferas celestes (eternas e imutáveis, feitas de um quinto elemento, o éter), que se movem em círculos perfeitos.

Da Geração e da Corrupção

Em grego Περὶ γενέσεως καὶ φθορᾶς, em latim De Generatione et Corruptione) – Focado nas mudanças que ocorrem no mundo sublunar, este trabalho analisa especificamente a geração (vir-a-ser) e a corrupção (deixar-de-ser) das substâncias. Distingue esses processos de outros tipos de mudança como alteração (qualitativa) e crescimento (quantitativo), e discute a natureza dos elementos e da mistura.

Meteorológicos

Em grego Μετεωρολογικά, em latim Meteorologica. Este tratado aborda fenômenos que ocorrem na região entre a Terra e a Lua, considerados por Aristóteles como parte do mundo sublunar superior. Inclui discussões sobre o clima (chuva, nuvens, ventos, raios), cometas, meteoros, a Via Láctea, e também toca em aspectos de química, geologia e oceanografia.

Da Alma

Em grego Περὶ Ψυχῆς, em latim De Anima, Uma obra inaugural na história da psicologia e filosofia da mente. Aristóteles define a alma (psyche) não como uma entidade separada, mas como a forma ou princípio vital (“a primeira atualidade de um corpo natural que tem vida em potência”). Analisa as diferentes faculdades da alma (nutritiva, sensitiva, desiderativa, motora, intelectiva) e suas funções, como sensação, imaginação e pensamento.

Metafísica

Em grego Μετὰ τὰ Φυσικά, em latim Metaphysica – Uma coleção de tratados que investigam o “ser enquanto ser”. Considerada a “filosofia primeira”, explora os princípios e causas mais fundamentais da realidade, incluindo substância, essência, acidente, potencialidade e atualidade. Culmina na teologia, o estudo do ser mais elevado – o Motor Imóvel, pensamento puro que é a causa final de todo o movimento e ordem no universo.

Ética a Nicômaco

Em grego Ἠθικὰ Νικομάχεια, em latim Ethica Nicomachea – A obra ética mais influente de Aristóteles, dedicada à questão da vida boa ou felicidade (eudaimonia). Argumenta que a felicidade consiste na atividade racional da alma em conformidade com a virtude. Analisa as virtudes morais (como coragem, temperança, justiça) como um meio-termo entre dois vícios (excesso e deficiência), as virtudes intelectuais (sabedoria teórica e prudência prática), a amizade, o prazer e o papel da contemplação.

Política

Em grego Πολιτικά, em latim Politica – Considerando o ser humano como um “animal político” por natureza, destinado a viver na pólis (cidade-Estado), Aristóteles analisa as diferentes formas de governo (constituições). Avalia regimes como monarquia, aristocracia e politeia (república) e suas degenerações (tirania, oligarquia, democracia), discutindo qual o melhor regime para alcançar o bem comum. Aborda também temas como cidadania, escravidão, propriedade, educação e a estrutura da sociedade ideal.

Retórica

Em grego Ῥητορική, em latim Rhetorica – Um tratado sistemático sobre a arte da persuasão. Aristóteles analisa os componentes da comunicação eficaz, identificando três meios de prova ou persuasão: logos (apelo à razão, argumento lógico), pathos (apelo às emoções da audiência) e ethos (o caráter e credibilidade do orador). Discute também os gêneros do discurso (deliberativo, judicial, epidítico) e o estilo.

Poética

Em grego Περὶ Ποιητικῆς, em latim Poetica – Obra fundamental da teoria literária e estética, focada principalmente na tragédia. Aristóteles a define como a imitação (mimesis) de uma ação séria e completa. Analisa seus elementos constitutivos (enredo, personagem, pensamento, dicção, melodia, espetáculo) e introduz conceitos cruciais como katharsis (purgação ou clarificação das emoções de piedade e temor), hamartia (erro ou falha trágica), peripécia (reversão) e anagnórise (reconhecimento). A parte sobre a comédia foi perdida.

Sobre a Filosofia

Em grego Περὶ Φιλοσοφίας, em latim De Philosophia – Não é uma obra completa sobrevivente, mas uma coleção de fragmentos de um diálogo perdido de Aristóteles, provavelmente de sua fase inicial, quando ainda estava mais próximo de Platão. Os fragmentos oferecem vislumbres de suas primeiras ideias sobre temas como a divindade, a eternidade do mundo e críticas à teoria das Formas platônica, sendo importantes para entender seu desenvolvimento intelectual.

Das Partes dos Animais

Em grego Περὶ Ζῴων Μορίων / De Partibus Animalium) – Uma das principais obras biológicas de Aristóteles, focada na anatomia e fisiologia animal. Investiga as diferentes partes (órgãos, tecidos) dos animais, explicando suas estruturas em relação às suas funções (princípio teleológico: a forma serve a um propósito). Utiliza extensivamente o método comparativo entre diferentes espécies.

Do Movimento dos Animais

Em grego Περὶ Ζῴων Κινήσεως, em latim De Motu Animalium – Este tratado investiga as causas e mecanismos do movimento animal voluntário. Explica como o desejo ou o pensamento (através da imaginação) iniciam o movimento, que é executado por meio de alterações fisiológicas (envolvendo o pneuma e o calor inato centrado no coração) que atuam sobre as partes do corpo, ligando a psicologia à fisiologia e à física.

Da Geração dos Animais

Em grego Περὶ Ζῴων Γενέσεως, em latim De Generatione Animalium – Outra obra biológica fundamental, dedicada aos processos de reprodução animal. Aristóteles explora a reprodução sexual, discutindo os papéis do macho (fornecendo a forma e o princípio do movimento) e da fêmea (fornecendo a matéria), o desenvolvimento embrionário, a hereditariedade e as diferentes formas de reprodução encontradas na natureza (vivíparos, ovíparos, etc.), com base em observações detalhadas.

História dos Animais

Em grego Ἱστορία περὶ ζῴων, em latim Historia Animalium – Uma extensa obra de zoologia que apresenta observações e classificações detalhadas de uma ampla variedade de animais. Aristóteles descreve suas características anatômicas, comportamentais e reprodutivas, fornecendo a base para suas teorias biológicas.

Sobre a Sensação e os Sensíveis

Em grego Περὶ αἰσθήσεως καὶ αἰσθητῶν, em latim De Sensu et Sensibilibus – Explora a natureza da percepção sensorial, analisando os diferentes sentidos (visão, audição, olfato, paladar, tato) e os objetos que os estimulam. Aristóteles discute como a sensação envolve a alteração dos órgãos sensoriais e a transmissão de informações para a alma.

Sobre a Memória e a Reminiscência

Em grego Περὶ μνήμης καὶ ἀναμνήσεως, em latim De Memoria et Reminiscentia – Investiga os processos de memória e reminiscência (recordação). Aristóteles distingue entre a memória como retenção de impressões sensoriais passadas e a reminiscência como a busca ativa por informações armazenadas na memória, conectando esses processos com o tempo e a imaginação.

Sobre o Sono e o Despertar

Em grego Περὶ ὕπνου καὶ ἐγρηγόρσεως, em latim De Somno et Vigilia – Analisa os fenômenos do sono e do despertar, buscando explicar suas causas e funções. Aristóteles discute o papel do calor inato e do coração nesses processos, bem como a relação entre sono, nutrição e saúde.

Sobre os Sonhos

Em grego Περὶ ἐνυπνίων, em latim De Insomniis – Explora a natureza e as causas dos sonhos, argumentando que eles são o resultado de movimentos residuais das sensações que persistem na alma durante o sono. Aristóteles discute a relação entre sonhos, saúde e doença, e a possibilidade de interpretar o significado dos sonhos.

Sobre a Adivinhação pelo Sono

Em grego Περὶ τῆς καθ’ ὕπνον μαντείας, em latim De Divinatione per Somnum – Examina a questão se os sonhos podem ter valor preditivo ou divinatório. Aristóteles expressa ceticismo, mas reconhece que alguns sonhos podem coincidir com eventos futuros por acaso.

Da Longevidade e da Brevidade da Vida

Em grego Περὶ μακροβιότητος καὶ βραχυβιότητος, em latim De Longitudine et Brevitate Vitae – Investiga as causas da longevidade e da curta duração da vida nos animais. Aristóteles discute fatores como calor inato, respiração, nutrição e o equilíbrio dos elementos no corpo.

Sobre a Juventude e a Velhice, Sobre a Vida e a Morte

Em grego Περὶ νεότητος καὶ γήρως καὶ ζωῆς καὶ θανάτου, em latim De Juventute et Senectute, De Vita et Morte – Analisa os estágios da vida, desde a juventude até a velhice, e explora os processos de vida e morte. Aristóteles discute as mudanças fisiológicas e psicológicas que ocorrem ao longo do tempo e as causas do envelhecimento e da morte.

Sobre a Respiração

Em grego Περὶ ἀναπνοῆς, em latim De Respiratione – Investiga a natureza e a função da respiração nos animais. Aristóteles argumenta que a respiração é essencial para resfriar o calor inato do coração e para regular a temperatura corporal.

Problemas

Em grego Προβλήματα, em latim Problemata – Uma coleção de perguntas e respostas sobre uma variedade de tópicos, incluindo fisiologia, psicologia, ética e física. A autenticidade de algumas partes da Problemata é questionada, e pode representar o trabalho de discípulos de Aristóteles.

Metafísica α

Em grego Μετὰ τὰ φυσικά, em latim Metaphysica α – Também conhecida como “Metafísica menor”, é um breve tratado que se concentra em questões filosóficas introdutórias, em particular sobre a natureza da sabedoria. Seu lugar dentro do Corpus Aristotelicum e sua relação com a Metafísica principal são debatidos.

Obras de autoria questionada

Magna Moralia

Em grego Ἠθικὰ Μεγάλα, em latim Magna Moralia – Este tratado de ética tem sua autoria tradicionalmente atribuída a Aristóteles, mas a maioria dos estudiosos modernos acredita que foi escrito por um de seus discípulos. A autenticidade da obra é questionada devido a seu estilo, que é considerado mais simples e menos maduro do que o de seus outros tratados éticos, como a Ética a Nicômaco e a Ética a Eudemo. Apesar disso, a Magna Moralia é um texto importante, pois resume as principais ideias da ética aristotélica e oferece uma visão de como seus ensinamentos foram compreendidos e adaptados por sua escola.

Sobre o Mundo

Em grego Περὶ Κόσμου, em latim De Mundo é um tratado cosmológico que apresenta uma visão geral do universo, incluindo elementos da física, astronomia e meteorologia. Difere em alguns aspectos da cosmologia de Aristóteles em outras obras, levando à dúvida sobre sua autoria. Apresenta uma divisão do universo em regiões celestes e terrestres, discutindo a natureza dos corpos celestes, os fenômenos atmosféricos e a organização geral do cosmos.

Sobre as Cores

Em gregoΠερὶ χρωμάτων, em latim De Coloribus é um breve tratado que explora a natureza das cores, buscando explicar sua origem e variedade. Difere das explicações de Aristóteles sobre a percepção e a física das cores encontradas em outras obras, o que levanta questões sobre sua autenticidade. Discute as cores básicas e suas combinações, tentando fornecer uma teoria sistemática de sua formação.

Mecânica

Em gregoΜηχανικὰ Προβλήματα / Mechanica)

Uma coleção de problemas e soluções relacionadas à mecânica, abordando questões de equilíbrio, alavancas, movimento e outras máquinas simples. Embora contenha elementos do pensamento aristotélico, sua abordagem técnica e seu foco em aplicações práticas o diferenciam das obras mais teóricas de Aristóteles, levando à discussão sobre sua autoria.

As Situações e Nomes dos Ventos

Em grego Περὶ σημείων ἀνέμων, e em latim Ventorum Situs et Appellationes é um breve texto que descreve os diferentes tipos de ventos, suas direções e nomes. Tem um caráter mais descritivo e observacional, sem aprofundar-se em explicações teóricas. Sua autenticidade é questionada devido ao seu estilo e conteúdo.

Economia

Em grego Οἰκονομικός, em latim Oeconomica é um tratado que aborda a administração doméstica e a gestão da propriedade. Discute as relações entre marido e mulher, pais e filhos, e senhor e escravos. Embora trate de temas relevantes para a política aristotélica, seu estilo e alguns de seus conceitos diferem, sugerindo que pode ter sido escrito por um discípulo ou outro autor.

Obras fragmentárias e perdidas

Sobre as Ideias

Em grego Περὶ Ἰδεῶν, em latim De Ideis – Outra obra perdida, Sobre as Ideias era um trabalho onde Aristóteles criticava a Teoria das Formas de Platão. Embora o texto original não exista mais, seus argumentos são conhecidos através dos escritos de comentadores posteriores. Aristóteles apresentou uma série de objeções formais contra a existência de Formas separadas e eternas, questionando sua capacidade de explicar o mundo físico. Esta obra é fundamental para entender o desenvolvimento intelectual de Aristóteles e seu distanciamento das ideias de seu mestre.

Protrepticus

Em grego Προτρεπτικὸς, em latim Protrepticus – Este foi um diálogo perdido de Aristóteles, escrito no início de sua carreira enquanto ele ainda era membro da Academia de Platão. Sobrevivendo apenas em fragmentos citados por autores posteriores, a obra era uma exortação à filosofia, argumentando que a contemplação filosófica era o caminho para a felicidade humana. O estilo do Protrepticus era mais acessível e retórico do que seus tratados sobreviventes, e a obra mostra uma clara influência platônica, especialmente em sua visão sobre a alma e a vida intelectual.

Bonus

A Isagoge (Introdução) de Porfírio

Este é um texto fundamental na história da lógica, servindo como uma introdução à lógica aristotélica e, em particular, às Categorias de Aristóteles. Sua principal contribuição reside na apresentação da doutrina dos cinco predicáveis ou cinco palavras (vozes): gênero, espécie, diferença, próprio e acidente. Porfírio explora como esses termos são usados para classificar e definir conceitos, estabelecendo uma hierarquia de gêneros e espécies que formam a chamada “árvore de Porfírio”. Essa classificação hierárquica influenciou profundamente o pensamento medieval, fornecendo uma estrutura para a organização do conhecimento e para as definições lógicas. Embora não seja uma obra de Aristóteles, a Isagoge tornou-se um texto essencial no estudo da lógica aristotélica, sendo publicado frequentemente como parte do corpus.

2 comentários em “Sinopse dos livros de Aristóteles

Adicione o seu

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Um site WordPress.com.

Acima ↑