A escola de tradutores de Toledo

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São debatíveis os fatores para o apêndice mais acidentado e fragmentado do continente eurasiático ter produzido o Renascimento, as grandes navegações e, consequentemente, uma expansão colonial. Falar de um excepcionalismo europeu é algo reducionista. Não tão tecnologicamente e institucionalmente diferente de suas contemporâneas grandes civilizações do norte da África, Levante, sul da Ásia e China, (e em muitos aspectos, menos desenvolvida), a Europa talvez contou com o benefício de ter um centro de confluência e difusão cultural em uma de suas mais ocidentais províncias. Foi a escola de tradutores de Toledo.

Sob o mecenato de alto clérigos e reis, várias obras árabes que transmitiam o conhecimento grego, siríaco, indiano, persa e árabe foram traduzidas, dando início a uma revolução tecnológica e cultural, a qual conhecemos como o Renascimento.

O sítio

Toledo, a primeira grande cidade muçulmana conquistada pelos cristãos em 1085, tornou-se um centro cultural. Abrigava bibliotecas importantes, incentivava as artes e os estudos e, sob o domínio muçulmano, a comunidade judaica floresceu. A população diversificada da cidade e a riqueza de manuscritos atraíram intelectuais, tornando-a uma ponte cultural entre o Oriente e o Ocidente durante o século XII.

Durante o reinado de Yahya al-Ma’mün ( 1037-1075) foi um centro de estudos astronômicos, as quais legaram as Tabuadas Toledanas, baseada no meridiano de Toledo. Tão precisa, a versão revisada alfonsina foi usada até serem substituídas por Tycho Brahe no século XVI.

O arcebispo e o rei

O arcebispo Raymond de Sauvetat, um monge beneditino francês, fundou a renomada Escola de Tradutores de Toledo. Ele reconstruiu a Catedral de Toledo, dedicando uma seção à Escola, onde uma equipe diversificada de tradutores, incluindo toledanos moçárabes, eruditos muçulmanos, estudiosos judeus e monges, trabalhava na tradução de textos árabes e hebraicos para o latim. Essas traduções, principalmente filosóficas e científicas, contribuíram para o significativo impacto cultural e intelectual da biblioteca da catedral durante seu mandato como arcebispo de 1124 a 1152. Depois de sua morte, a chamada escola alfonsina deu continuidade a seu trabalho.

O rei Alfonso X, alcunhado de o Sábio (1221 – 1284), foi um protetor do conhecimento durante seu reinado (1252-1284) em Castela. Além de apoiar financeiramente, obter livros fontes, disseminar os produtos, também ele próprio trabalhava e editava os textos. Deu um ímpeto no uso da língua vernácula, o romance castelhano, o qual seria mais tarde padronizado como a língua espanhola.

Os tradutores

O time de tradutores polímatas incluía Abelardo de Bath, Herman, o Alemão, Alfredo de Sareshel, Daniel de Morlay, Roberto de Chester, Gerardo de Cremona (Gherardus Cremonensis), Domingo Gundisalvo (González Domenicus Gundisalvi, Dominicus Gundissalinus), João Hispano (Iohannes Avendehut Hispanus).

As obras

  • As obras de Aristóteles.
  • Livros de matemática, astronomia, física e lógica, incluíndo o Isagogue, Arquimedes, os Elementos de Euclides, o Tetrabiblion de Ptolomeu, os livros de álgebra e aritmética de Alcuarismi, os quais introduziram o zero e os algarismos arábicos na Europa.
  • Livros religiosos como o Alcorão, trechos da Bíblia e do Talmude.
  • Secretum Secretorum, um tratado enciclopédico árabe contendo política, ética, fisionomia, astrologia, alquimia, magia e medicina.
  • Obras de medicina como o Liber introductorius in medicina parvus de Al-Razi, o Cânon de Avicena, A Arte de Galeno, Hipócrates.
  • Livros de xadrez, orologia, mecânica, instruções de fábrico e uso do astrolábio.

E dezenas de outras obras de filosofia, religiosas e científicas. Este foi um dos canais para a produção dos materiais didáticos adotados pelas nascentes universidades européias a partir do século XII.

Tradutor, traidor

Um equívoco comum sobre a Escola de Tradução de Toledo, cunhada por Amable Jourdain no século XIX, sugere que foi uma instituição única e específica de Toledo. No entanto, evidências históricas mostram que as traduções foram feitas dispersas por toda a Espanha. Toledo foi sim um centro de intercâmbio intelectual. Adicionalmente, as atividades da escola estendeu-se para além do período associado a Afonso X, com traduções e revisões contínuas ocorrendo até o século XVI.

SAIBA MAIS

AZAOLA PIAZZA, Bárbara. “La escuela de traductores de Toledo: presente, pasado y futuro”. Idea La Mancha: Revista de Educación de Castilla-La Mancha, ISSN 1699-6429, Nº. 5, 2007, págs. 122-129.

GARGATAGLI, Marietta. “La historia de la escuela de traductores de ToledoQuaderns. Revista de traducció 4, 1999 9-13.

SANTOYO, Julio César. La traducción medieval en la Península Ibérica, Siglos III-XV . Universidad de León. León, 2009

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