Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arroio da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
A língua portuguesa é um consolo. Dela vem a amargo-doce saudade de uma diáspora. Sentimos a solidariedade de outras línguas-irmãs ibéricas. Comungamos com a lusofonia de todos os continentes. Permitiu que hoje nos encantemos com o papiá kristang, papiamento, crioulos do Golfo da Guiné, portuñol platino e outros frutos de uma aventura global. É a língua de subalternos que subverteram colonizadores. É o que faz rirmos das mesmas velhas piadas juntos de angolanos, portugueses e brasileiros. É uma língua da esperança, do Quinto Império e do Encoberto.

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