Alguém me pede uma explicação sobre a teoria de Einstein. Com muito entusiasmo, conto-lhe sobre tensores e geodésicas quadridimensionais.
—Não entendi uma única palavra — diz ele estupefato.
Reflito por alguns momentos e depois, com menos entusiasmo, dou-lhe uma explicação menos técnica, mantendo alguns geodésicos, mas envolvendo aviadores e tiros de revólver.
— Eu entendo quase tudo agora — Meu amigo me diz, bastante alegre — Mas tem uma coisa que ainda não entendo: essas geodésicas, essas coordenadas…
Deprimido, mergulho numa longa concentração mental e acabo por abandonar para sempre a geodésica e as coordenadas; com verdadeira ferocidade, dedico-me exclusivamente a aviadores que fumam viajando à velocidade da luz, chefes de estação que disparam revólver com a mão direita e marcam horas com cronômetro na mão esquerda, trens e sinos.
— Agora sim, agora entendo a relatividade! —Exclamou meu amigo feliz.
—Sim— Respondo com amargura — mas agora não é mais a relatividade.

Ernesto Sábato (1911 – 2011) foi um físico e escrito argentino. Em 1941, desgostoso da carreira científica, voltou-se para a literatura, sendo um dos grandes expoentes das letras latinoamericanas.
Com esse essaio narrativo, comunica a frustração de ter de simplificar coisas complexas, reduzindo-as a nada.
SAIBA MAIS
Sábato, Ernesto. Uno y el universo sabado. 1945.
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