Encontrei a ampulheta em uma lojinha em um beco esquecido do Antiekcentrum em Amsterdam. O vidro grosso embaçado e sua estrutura de madeira davam um ar de respeitabilidade ao artefato. Em cada extremo, uma etiqueta gasta de bronze com uma frase em latim.
Parecia que fez parte de um conjunto de instrumentos náuticos velhos. Sabe lá por onde andou, carregado por embarcações que ligavam as Índias ao Velho Mundo.
Depois de uma barganha, levei-a para casa.
Examinando o relógio de areia melhor, encontrei uma gavetinha com um pequeno pergaminho dobrado. Nele estava o poema:
AMPOLLETA o el testamento del pirata
Mi corazón resuena eco,
ya la vida ahí no pulsa,
ahora quedó un hueco,
mi alma yace expulsa.
Sin lástima, ni ser llorado,
no me entierres por favor,
antes quiero ser incinerado
pues la tierra oculta mi dolor.
Pido, creman el esquife,
mis cenizas sean mezcladas
con el polvo donde estuve,
todas islas o tierras visitadas.
Hagan de eso, reloj de arena,
escriban qué pasó:
“Una vida de alegría llena
así vivió y todo dejó”.
Déle a mis amigos
con el dicho “tempus fugit”
pero a los enemigos
lo tenga “memento mori”.

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