Beligerância pernambucana

Ao estudar a história militar do Brasil, é impossível deixar de notar a alta frequência de conflitos armados em Pernambuco. Visitei Recife em janeiro de 2010 e fiquei impressionado com a ostensiva riqueza gerada pela cana-de-açúcar. Talvez esse seja o pomo da discórdia que atraiu a cobiça de invasores estrangeiros, jogou os recifenses contra os olindenses e gerou uma desigualdade social que fomentou levantes populares.

Beligerância pernambucana


Os primeiros conflitos registrados foram embates entre indígenas e portugueses, como a Guerra contra os Caetés (1530-1560). Os Caetés, um povo tupi, habitavam o litoral desde a foz do rio São Francisco até a foz do rio Paraíba. Eles resistiram aos colonizadores Duarte Coelho e Jerônimo de Albuquerque. Após terem comido o bispo Dom Pero Fernandes Sardinha em 1556, a guerra intensificou-se. Os portugueses empreenderam uma campanha contra os nativos de Pernambuco, que migraram para o norte, provavelmente em direção ao Pará.

A prosperidade recifense atraiu, em 29 de março de 1595, o pirata inglês James Lancaster. Lancaster iniciou o Saque de Recife e, em um mês de terror, encheu uma dúzia de barcos com tesouros.

O ouro doce pernambucano atraiu outros europeus. Entre 1630 e 1654, ocorreu a Invasão Holandesa. A chegada e a estada dos neerlandeses foram sangrentas. Impedidos pelo governo espanhol de comercializar com o Brasil, em fevereiro de 1630, a esquadra holandesa da Companhia das Índias Ocidentais, composta por 64 navios e 3.800 homens, conquistou o litoral pernambucano. Os luso-brasileiros, liderados por Matias de Albuquerque, iniciaram uma campanha de guerrilhas contra os invasores.

As coisas ficaram mais ou menos em paz até a Restauração Bragantina em Portugal, que eliminou o pretexto de guerra entre os Países Baixos e a Espanha. Em uma rara demonstração de união étnica, a população local promoveu, em 1645, a Insurreição Pernambucana, também chamada de Guerra da Luz Divina. Liderada pelos senhores de engenho André Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira, pelo africano Henrique Dias e pelo indígena Felipe Camarão, a revolta culminou nas duas batalhas de Guararapes. Houve massacres em todos os lados. Os flamengos capitularam em 1654.

A experiência holandesa levantou uma consciência do poder local. Os senhores de engenhos, descontentes com a nomeação do estranho Jerônimo de Mendonça Furtado (o Xumberga ou Xumbrega) como capitão-governador de Pernambuco, armaram um motim. Ficou conhecido como a Conjuração de Nosso Pai, ou Revolta contra Mendonça Furtado durante a procissão da tarde de 31 de agosto de 1666. O vice-rei atendeu os revoltosos e nomeou André Vidal de Negreiros capitão-governador.

Desde por volta de 1580, os negros escravizados da zona da mata encontram refúgio no quilombo dos Palmares, nas serras do sul pernambucano e territórios de Alagoas e Sergipe de hoje. Houve escaramuças esporádicas, expedições punitivas dos brancos, incursões dos quilombolas, até que entre 1698-1710 ocorreu a Guerra dos Palmares. Um grupo de mercenários paulistas liderados pelo bandeirante Domingos Jorge Velho destruíram Palmares.

A Guerra dos Bárbaros (1680-1694) foi a resistência dos povos indígenas da região, em especial os Cariris, contra a dominação e exploração imposta pelos colonizadores portugueses. Com a chegada dos colonizadores, os Cariris foram submetidos a trabalhos forçados e à escravidão. Assim, em 1687, foi criada uma aliança entre as tribos indígenas do sertão pernambucano, conhecida como Confederação dos Cariris.

A Confederação dos Cariris se fortaleceu e passou a atacar os colonizadores portugueses e as suas propriedades. As vilas de São Francisco e Santo Antônio foram atacadas e destruídas pelos indígenas, que conseguiram tomar armas, cavalos e escravos. Os portugueses, por sua vez, mobilizaram uma guerra longa e sangrenta, com diversos confrontos e ataques em ambos os lados. Após sete anos de luta, os indígenas foram derrotados pelos portugueses.

A decadência da economia açucareira de Pernambuco após a saída dos holandeses, que levaram tecnologia para novas áreas concorrentes nas Antilhas, animaram a rivalidade entre a aristocracia canavieira de Olinda contra os comerciantes de Recife. As duas cidades saíram do limiar dos insultos para o conflito armado em 1710-1711 na Guerra dos Mascates.

A mudança do centro do poder econômico da colônia, de Pernambuco às Minas Gerais, serviram para acalmar os ânimos e disputas nordestinas por quase todo o século XVIII.

As agitações da Revolução Francesa e de Napoleão na Europa causaram uma disrupção na cultura canavieira francesa e holandesa no Caribe. Pernambuco voltou a crescer economicamente. Nessa época, o bispo esclarecido dom José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho fundou o Seminário de Olinda em 1800. Era, então, a única instituição de ensino superior do país. No seminário vários padres liberais se formaram e difundiriam ideias iluministas e criaram sociedades como a loja maçônica Areópago de Itambé em Olinda. No Engenho Suaçuna foram os irmãos Cavalcanti – Luís Francisco de Paula, José Francisco de Paula Cavalcanti e Albuquerque e Francisco de Paula– que tramaram a independência. em 1801. Uma delação anônima acabou com objetivo da Conjuração dos Suassunas de fundar uma república sob proteção napoleônica.

A discussão sobre liberalismo e autonomia influenciariam ainda outros movimentos, como a Revolução de 1817, a Guerra de Independência do Brasil em Pernambuco e a notória Confederação do Equador.

 A Revolução Pernambucana ou a Revolução dos Padres, revolta independentista e republicana em 1817, foi o nosso levante que mais se assemelhou às revoluções Francesas e Americanas.

Os pesados impostos para pagar as despesas da corte de D.João e suas aventuras militares no Prata, Guiana e Europa incitaram a revolta da elite pernambucana. A economia da capitania também era castigada pela seca de 1816 e a concorrência do açúcar e algodão caribenho e americano disponíveis no mercado europeu após a queda de Napoleão. Ideais iluministas difundidos ainda mais por loja maçônicas e padres formados no Seminário de Olinda fermentavam as aspirações de liberalismo e independência.

O governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro resolveu conter os pernambucano mais exaltados. Em 6 de março de 1817, o comandante Barbosa de Castro deu voz de prisão ao capitão José de Barros Lima, conhecido como Leão Coroado. Inesperadamente, o Leão Coroado reagiu e matou Barbosa de Castro. Os soldados tomaram o quartel e entrincheiraram-se nas ruas vizinhas.

No dia seguinte, formaram um governo provisório e proclamaram a república. Teve representantes dos vários setores sociais: Manuel Correia de Araújo (agricultura) Domingos José Martins (comércio), padre João Ribeiro (clero), José Luís de Mendonça (magistratura) e Domingos Teotônio Jorge (militar). Era secretariada pelo padre Miguelinho e José Carlos Mayrink da Silva Ferrão e o Conselho de Estado com Antônio de Morais e Silva, José Pereira Caldas, deão Reinaldo Luís Ferreira Portugal, Gervásio Pires Ferreira e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.

O governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro refugiou-se no Forte do Brum, mas se rendeu em troca de salvo-conduto para fugir ao Rio de Janeiro.

O novo governo republicano promulgou uma Lei Orgânica, garantindo a liberdade de consciência, a liberdade de imprensa e a tolerância religiosa, embora tivesse a Igreja Católica como oficial. O governo provisório duraria até que fosse elaborada uma constituição; para tal, convocaram, em 29 de março, a Assembleia Constituinte.

A Revolução Pernambucana expandiu para a Paraíba e Rio Grande do Norte. Enviaram emissários para propagar a causa, José Martiniano de Alencar – pai de José de Alencar – para o Ceará, mas foi preso. O padre Roma ou José Inácio de Abreu e Lima foi à Bahia de jangada, mas foi fuzilado pelo conde dos Arcos. Com a preocupação de obter apoio internacional, emissários foram enviados também ao exterior. Antônio Gonçalves da Cruz – vulgo Cabugá – e Domingos Pires Ferreira incumbiram-se de ir aos Estados Unidos pedir auxílio e oferecer aos comerciantes norte-americanos, por vinte anos, os gêneros produzidos em Pernambuco, livres de direitos. Félix Tavares de Lima foi mandado à Argentina, e o negociante inglês Kesner foi enviado à Inglaterra a fim de conseguir a adesão de Hipólito José da Costa, do Correio Braziliense.

Contudo, no dia 19 de março, a vila de Recife amanheceu abandonada pelos revolucionários. Nessa fuga, o padre João Ribeiro acabou suicidando-se.

Da Bahia o governador D. Marcos Noronha e Brito, Conde dos Arcos, iniciou a campanha contra Pernambuco por terra e mar. Luís do Rego Barreto comandou as tropas portuguesas e um bloqueio marítimo. No dia 19 de maio de 1817 os rebeldes foram vencidos.

Presos, executaram os líderes:  Domingos José Martins, José Luís de Mendonça, Domingos Teotônio Jorge, José de Barros Lima, Antônio Hemopo e os padre Miguelinhoe Sousa Tenório. 117 presos foram enviados à Bahia, até que em 1818 foram soltos e anistiados após a Revolução do Porto (1820).

Como punição aos pernambucos e recompensa as lideranças locais leais a coroa portuguesa, Alagoas e Rio Grande do Norte foram emancipados de Pernambuco como capitanias.

A nomeação do português Luís do Rego Barretos, herói da guerra peninsular, para o governo de Pernambuco em 1821 incitou a revolta dos nacionalistas pernambucanos, muitos deles ainda desejosos pela independência. Os revoltosos organizaram a Junta de Goiana e cercaram Recife. Rego Barreto pediu reforços à Paraíba, mas se entregou a 5 de outubro. Realizaram a Convenção de Beberibe, derrubaram o governador  e intencionavam concretizar a separação de Pernambuco. O hábil regente José Bonifácio contornou a situação e Pernambuco foi pacificada.

O incidente em Pernambuco em 1821 foi um dos fatores para que as cortes em Portugal exigissem a volta de D. Pedro e que o Brasil se submetesse à ordem colonial. Como consequência houve o “fico” e o 7 de setembro em 1822. A independência do Brasil foi aceita em Pernambuco, com as elites ansiosas por um governo constitucional livre. Armaram 2.000 homens para as campanhas da Bahia e do norte (Maranhão e Piauí).

Ainda nesse contexto da independência, a Confederação do Equador (1823-1824) cogitou a criação de uma república independente na região nordeste do país, composta pelos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. A região nordeste do país era marcada pela exploração econômica e pela concentração de poder nas mãos de uma elite latifundiária. A Confederação do Equador surgiu como uma resposta à insatisfação popular e à busca por autonomia política e econômica na região nordeste. A revolta foi liderada por Frei Caneca, Cipriano Barata e Manuel de Carvalho Pais de Andrade.

A revolta começou em Pernambuco, com a tomada do poder pelos líderes da Confederação e a expulsão das autoridades portuguesas da região. A adesão de outros estados do nordeste, como Paraíba e Ceará, ampliou o movimento separatista, que contou com o apoio de grupos populares e de setores da elite local. O movimento adotou a Constituição Mexicana (e não a Colombiana, como sempre é dito).

No entanto, a Confederação do Equador enfrentou uma forte reação por parte do governo central do Primeiro Reinado. Dom Pedro I mobilizou um exército para reprimir a revolta e conseguiu derrotar os separatistas em batalhas como a de Itaparica e a de Campo Grande. A repressão violenta da revolta resultou na prisão e na condenação à morte de diversos líderes da Confederação, além da perseguição e do exílio de outros participantes do movimento.

Nessas encrencas envolveu-se José Inácio de Abreu e Lima (1794 — 1869), militar, revolucionário e jornalista. Na Revolução Pernambucana de 1817,  Abreu e Lima foi preso e condenado à morte. Seu pai, o padre Roma, foi executado, mas Abreu e Lima conseguiu escapar da prisão e se exilar na Inglaterra. Voltou para lutar na Confederação do Equador. Apoiou a Revolução Praieira. Depois, dedicou-se à campanhas pela liberdade religiosa, democracia e liberdade de imprensa.

O sertão pernambucano também passou por violências. Movimentos populares religiosos às vezes encontraram repreensões sangrentas. Em 1819-1820 houve Tragédia do Rodeador. Este movimento iniciou-se  quando Mestre Quiou ou Silvestre José dos Santos fundou um arraial sebastianista no Sítio da Pedra, município de Bonito. A 25 de outubro de 1820 as força da capitania, sob ordem do governador Luiz do Rego, massacraram os sertanejos. Deixaram 91 mortos, uma centena de feridos e aprisionando mais de duzentas mulheres e trezentas crianças.

O sertão  foi palco de outro movimento messiânico-milenarista  de cunho sebastianista entre 1836 a 1838. Chamado de a Tragédia da Pedra Bonita, teve centro em Pedra Bonita, na Serra Formosa, no município de São José do Belmonte. O beato Antônio dos Santos fundou um reino, com leis e costumes próprios esperavam o retorno do rei Dom Sebastião. Um tesouro seria descoberto e todos os seus seguidores se tornariam pessoas ricas, jovens, bonitas e saudáveis. O padre Francisco José Correia de Albuquerque convenceu a João Antônio desistir do movimento, mas seu cunhado João Ferreira tornou-se senhor do Reino Encantado de Pedra Bonita. Ferreira ordenou o sacrifício humano em maio de 1838, onde morreram 87 pessoas. O major Manoel Pereira da Silva atacou e destruiu o arraial de Pedra Bonita no dia 18 de maio.

A Abrilada em abril de 1831, liderado por Domingos José Martins, um intelectual e político pernambucano, derrubou o presidente da província, José Carlos Mayrink da Silva Ferrão, nomeado pelo governo imperial. Martins, que contava com o apoio de setores da elite local, organizou um grupo de oficiais militares e civis descontentes com o governo imperial e liderou um levante armado contra o presidente da província. A revolta foi rapidamente reprimida pelas forças do governo imperial, e Martins foi preso e condenado à morte, sendo executado em julho de 1831. Ainda no Recife nesse ano ocorreram motins nos dias 15 de setembro (Setembrada) e em 15 e 19 de novembro (Novembrada).

Ano seguinte veio a Cabanada (1832-1835) nas províncias de Pernambuco e Alagoas, no nordeste do Brasil. Camponeses, escravos e trabalhadores pobres, conhecidos como “cabanos”, demandavam melhoria das condições de vida da população mais pobre e a luta contra a opressão das elites locais. A Cabanada foi violentamente reprimida pelas forças do governo imperial, resultando em milhares de mortes e na destruição de vilas e cidades.

Outra revolta foi o Motim do Fecha-Fecha (1844) quando soldados do exército que se revoltaram contra as más condições de trabalho e os baixos salários. A rebelião teve como marco a adesão dos soldados ao movimento “fecha-fecha”, em que eles se fechavam nos quartéis e se recusavam a trabalhar. A revolta foi rapidamente dissipada pelas forças do governo imperial, resultando em prisões e perseguições aos líderes do movimento.

 Ainda houve os motins de 1845, 1847 e junho de 1848. Esses últimos também são chamados de Mata-Mata ou Mata Marinheiros, com sentimentos antilusitanos.

Insurreição Praieira (1848-1850) corresponde à primavera europeia. Setores progressistas defendiam a instauração de um regime democrático e socialista no Brasil, contou  a adesão de diversas camadas da sociedade, incluindo trabalhadores, artesãos, estudantes e intelectuais. A revolta foi violentamente reprimida pelo governo imperial, resultando em milhares de mortes e na prisão e exílio dos líderes do movimento.

Então veio a Revolta do Ronco da Abelha (1851-1854) quando camponeses e trabalhadores rurais lutaram contra as tentativas de modernização nos registros civis. A revolta foi violentamente reprimida. Meio a essa revolta, aconteceu o Levante dos Marimbondos (1852) contra o registro civil e censo. Havia medo de que tais medidas serviriam para identificar pessoas livres e pobres para serem escravizadas. Estendeu por Pernambuco, Ceará, Alagoas e Rio Grande do Norte.

Outra iniciativa popular foi a Revolta do Quebra-Quilos (1874-1875) contra a implementação do sistema métrico decimal e à cobrança de impostos baseados no peso dos produtos vendidos. Os “quebra-quilos” atacavam as balanças e os instrumentos de medição utilizados pelos coletores de impostos.  

A modernidade não foi digerida facilmente em Pernambuco. A chegada do protestantismo na Zona da Mata pernambucana resultou em vários conflitos e perseguições, especialmente entre 1890 e 1910. A Revolta de Triunfo marcou a transição republicana, com a substituição de várias elites e a dificuldade de consolidar o novo regime sob o comando florianista (1892–1893).

Entre revoltas populares e levantes das elites, o baditismo social ganhou corpo com o Cangaço em Pernambuco (1890-1940). Em 1917, ocorreu a Hecatombe do Garanhuns, um confronto sangrento entre os cangaceiros liderados pelos capitães Américo e Vicentão. O conflito resultou em muitas mortes, incluindo civis. Em 1926, na divisa entre Pernambuco e Alagoas, a polícia pernambucana se confrontou com o bando de cangaceiros liderado por José Pereira de Lima, conhecido como “Pinga-Fogo”. A batalha resultou em várias mortes, incluindo a do próprio líder do bando. O famoso Lampião liderou uma série de ataques ao agreste pernambucano em 1935. O ataque causou diversos saques, roubos e assassinatos, deixando a população local em choque. Em 1939, outro cangaceiro notório, Paizinho Baio, foi morto em confronto com a polícia no agreste pe. Sinhô Pereira foi conhecido por suas táticas agressivas e violentas. Ambos foram mortos em confronto com a polícia, deixando para trás uma história de violência e luta pelo poder no sertão nordestino.

A passagem da Coluna Prestes por Pernambuco mobilizou a população, mas os conflitos foram mínimos. A Coluna liderada pelo capitão Luís Carlos Prestes  entrou no estado pelo município de Petrolina em abril de 1926. Muitos camponeses e trabalhadores rurais aderiram à Coluna. No entanto, as tropas governistas também estavam presentes na região e travaram vários confrontos. A Coluna Prestes passou por cidades importantes de Pernambuco, como Serra Talhada, Floresta e Salgueiro. Em cada uma dessas cidades, os revolucionários encontraram diferentes graus de apoio popular. Em Salgueiro, por exemplo, a população local saiu às ruas para receber a Coluna e os revolucionários foram bem recebidos. No entanto, não foi suficiente para mobilizar a população em larga escala.

Ainda Luís Carlos Prestes voltou do exílio à Pernambuco para liderar a Intentona Comunista de 1935. O levante armado do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que ocorreu em diversos estados do Brasil, incluindo Pernambuco. A Intentona Comunista em Pernambuco começou na noite do dia 23 de novembro de 1935, com a tomada da sede do 29º Batalhão de Caçadores, em Recife. Os rebeldes conseguiram tomar o quartel e prender os soldados, mas não conseguiram manter o controle por muito tempo. As forças governamentais logo cercaram o local e iniciaram um intenso combate que durou quatro dias. Durante os combates, as forças governamentais foram apoiadas pelos próprios civis, que se organizaram em grupos armados para combater os rebeldes. A população de Recife, na sua maioria, não apoiava o comunismo e muitos temiam que a rebelião levasse o país a uma guerra civil. A Intentona Comunista em Pernambuco foi rapidamente derrotada pelas forças governamentais, que conseguiram retomar o controle do quartel e prender os líderes da rebelião. Luís Carlos Prestes foi capturado dias depois, em Natal, e acabou sendo preso por mais de 9 anos.

As Ligas Camponesas foram movimentos sociais que surgiram em Pernambuco na década de 1950. Entre seus líderes, destacou-se Francisco Julião, que organizavam os trabalhadores rurais em torno de reivindicações por reforma agrária, melhoria das condições de trabalho e aumento dos salários. Eles também lutavam contra o latifúndio e o coronelismo, que dominavam a política e a economia do estado. A luta das Ligas Camponesas era frequentemente reprimida pelas autoridades locais e pelo governo federal, que viam esses movimentos como uma ameaça à ordem estabelecida. Em 1962, o governo de Pernambuco, liderado por Miguel Arraes, legalizou as Ligas, dando-lhes uma maior legitimidade e espaço para atuar. Todavia, em 1964, o golpe militar colocou fim às Ligas Camponesas e perseguiu seus líderes. Muitos deles foram presos, torturados e exilados.

Com duas dezenas de guerras, levantes populares, conspirações, conflitos de classes e agrários estendendo por cinco séculos de história pernambucana, creio ser o estado brasileiro com mais beligerâncias, ao lado de Sâo Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

Tabela dos períodos de conflito e paz

PeríodoConflito/PazDuração
1530–1560Guerra contra os Caetés30 anos
1560–1595Paz35 anos
1595Saque de Recife1 ano
1595–1630Paz35 anos
1630–1654Invasão Holandesa24 anos
1654–1666Paz12 anos
1666Revolta contra Mendonça1 ano
1666–1698Paz32 anos
1698–1710Guerra dos Palmares12 anos
1710–1711Guerra dos Mascates1 ano
1711–1817Paz106 anos
1817Revolução Pernambucana1 ano
1817–1821Paz4 anos
1821Revolta de Goiana1 ano
1821–1823Paz2 anos
1823–1824Confederação do Equador1 ano
1824–1832Paz8 anos
1832–1835Cabanada3 anos
1835–1844Paz9 anos
1844Motim do Fecha-Fecha1 ano
1844–1848Paz4 anos
1848–1850Insurreição Praieira2 anos
1850–1851Paz1 ano
1851–1854Revolta do Ronco da Abelha3 anos
1854–1874Paz20 anos
1874–1875Revolta do Quebra-Quilos1 ano
1875–1890Paz15 anos
1890–1940Cangaço50 anos
1935Intentona Comunista1 ano
1935–1945Paz10 anos
Década de 1950–1964Ligas Camponesas~14 anos

Resumo

  • Total de Anos em Conflito: ~160 anos.
  • Total de Anos em Paz: ~340 anos.
  • Maior Período de Paz: 106 anos (1711–1817).
  • Período Mais Turbulento: Século XIX (múltiplas revoltas e conflitos).

SAIBA MAIS

Dantas, Mariana Albuquerque. “Dimensões da participação política indígena na formação do Estado nacional brasileiro: revoltas em Pernambuco e Alagoas (1817-1848).” (2015).

Ferraz, Socorro. Liberais & liberais: guerras civis em Pernambuco no século XIX. Cepe editora, 2022.

Fujimoto, Juliana. A guerra indígena como guerra colonial: as representações e o lugar da belicosidade indígena e da antropofagia no Brasil Colonial (séculos XVI e XVII). Diss. Universidade de São Paulo, 2016.

Mello, Evaldo Cabral de. A fronda dos mazombos: nobres contra mascates, Pernambuco, 1666-1715. Editora 34, 2003.

Pinto, João Alberto da Costa. “Gilberto Freyre: cultura e conflitos políticos em Pernambuco (1923-1945).” Revista Plurais 1.4 (2008).

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