Democracia, em seu sentido lato, implica convívio construtivo do povo. Convivência é um exercício diário de tolerância, respeito e aceitação de que outros pensam, agem e possuem valores diferentes. E ainda, nessa diferença há interesses comuns e interesses particulares legítimos.
A democracia passa por um momento de teste a cada eleição. A escalada de violência eleitoral e a polarização ideológica demandam instrumentos para monitorar ameaças a coexistência pacífica das diferenças. Um desses instrumentos é a Escala de Preconceito e Discriminação de Gordon Allport.
A Escala de Preconceito e Discriminação foi proposta pelo psicólogo Gordon Allport em 1954. O mundo tinha há pouco testemunhado do Holocausto judeu. Os Estados Unidos estava em um momento acirrado de macarthismo e de campanhas de igualdade civis nos Estados Unidos. A célebre comissão sobre a raça da UNESCO dissipava as bases para o prenconceito. No entanto, o contínuo de preconceito ao genocídio precisava ser medido e monitorado.
Allport formulou essa escala para medir a intensidade de preconceito e discriminação contra algum grupo humano. Sua base fundamental seria a Hipótese de Contato ou Teoria de Contato Intergrupo para minimizar e remediar preconceitos e discriminação entre grupos. Adicionalmente, propunha meios para sanar essa violência mediante o fomento da interação pessoal, busca de status igual e objetivos comuns entre os grupos, estímulo da cooperação intergrupos, apoio de autoridades, leis e costumes.
- Nível 1 – Antilocução: fazer piadas ridicularizantes, demonização, usar linguagem enviesada e discurso depreciativo.
- Nível 2 – Esquiva: evitar contatos, aumentar a distância social e não aceitar relacionamentos com o grupo minoritário.
- Nível 3 – Discriminação: ativamente criar instituições que desfavoreça o grupo minoritário. São exemplos os regimes de apartheid e o Jim Crow laws.
- Nível 4 – Ataque Físico: uso de violência. Agressões de skinheads neonazistas contra minorias.
- Nível 5 – Extermínio: etnocídio e genocídio.
Em experimentos de grupos e em projetos de reconciliação (sobretudo na Irlanda do Norte), a escala de Allport provou-se eficaz e válida. Serviu para desenvolver respostas mais direcionadas a cada nível de preconceito.
Com essa escala, temos um parâmetro para monitorar — e fazermos autocrítica — em tempos de discórdia. E construir uma coexitência pacífica e democrática.

2 respostas para ‘Escala de Allport e violência ideológico-eleitoral’