Franz Boas (1858–1942) – geógrafo físico alemão que se tornou o pai da antropologia norte-americana.

FORMAÇÃO
Nascido em uma família judia secularizada de classe média, com vinte anos ingressou na Universidade de Heidelberg, onde estudou física e geografia. Frequentou a Universidade de Bonn e recebeu seu doutorado em 1881 pela Universidade de Kiel. Sua dissertação intitulava-se “Contribuições para o entendimento da cor da água”. Depois de uma breve posição de ensino na Universidade de Berlim, Boas realizou trabalho de campo em 1886 entre os Kwakiutl na costa noroeste do Pacífico que despertou seu interesse pela “cultura primitiva”. Este interesse aparece em seu primeiro trabalho com os Inuit da Ilha de Baffin.
FUNDAÇÃO DA ANTROPOLOGIA ACADÊMICA NOS EUA
Após se naturalizar americano em 1887, Boas assumiu a posição de instrutor na Universidade Clark. Onze anos depois deixaria Clark para lecionar na Universidade de Columbia e ser curador de etnologia do Museu Americano de História Natural, ambos em Nova York.
Em 1899 Boas se tornou o primeiro professor de antropologia da Universidade de Columbia, um cargo que lhe permitiu instruir pioneiros que influenciaram coletivamente o pensamento antropológico dentre eles:
- Alfred L. Kroeber,
- Ruth Benedict,
- Robert Lowie,
- Paulo Radin,
- Edward Sapir,
- Margaret Mead¸
- William Jones,
- Frank Speck,
- Albert B. Lewis,
- Fay-Cooper Cole,
- Alexander Goldenweiser,
- Elsie Clews Parsons,
- Leslie Spier,
- Erna Gunther,
- John R. Swanton,
- Gladys Reichard,
- Ruth Bunzel,
- Alexander Lesser,
- Gene Weltfish,
- E. Adamson Hoebel,
- Jules Henry,
- Ashley Montagu,
- Manuel Gamio,
- Clark Wissler,
- Esther Schiff Goldfrank,
- Viola Garfield,
- Frederica de Laguna,
- Zora Neale Hurston e
- Gilberto Freyre.
Em 1910, Boas ajudou na fundação da Escola Internacional de Arqueologia e Etnologia Americana e foi seu diretor residente durante 1911 e 1912.
O PARTICULARISMO HISTÓRICO
Boas não se propôs criar uma vertente teórica, mas via o papel do antropólogo ser a recolha de dados etnográficos para posterior abstração teórica com base empírica. Essa abordagem sincrônica da cultura, o culturalismo ou particularismo histórico, examinaria esses dados com os próprios termos das populações estudadas, sem escalonamento entre povos mais primitivos ou avançados. Apesar de ser uma escola teórica própria, Boas empregou moderadamente postulados do difusionismo. Treinado na antropogeografia de Ratzel, possuía uma metodologia que incorporava uma tendência difusionista da cultura para mapear a propagação de artefatos, ideias e práticas. Todavia, ao contrário do difusionistas Boas afirmava a unidade psíquica da humanidade e rejeitava o eurocentrismo dos difusionistas alemães e britânicos; como também não via utilidade na análise diacrônica difusionista, por vezes especulações improváveis.
Para Boas, embora a invenção independente de um traço da cultura possa ocorrer ao mesmo tempo dentro de sociedades há tempos separadas, os traços de uma cultura não devem ser visto casualmente, mas em termos de um processo histórico relativamente único desde a primeira introdução de um traço cultural. Depois, dois processos históricos, a difusão e a modificação, seriam responsáveis pelas mudanças na cultura. Boas usou esses conceitos-chave para explicar a cultura e interpretar seu significado, afirmando que o inventário cultural de um povo resulta cumulativa de difusão.
A cultura seria uma contribuição inúmeros fios soltos, a maioria de origem estrangeira tecidas em conjunto para se encaixar em seu novo contexto cultural. Esses elementos discretos interrelacionam conforme o tempo passa.
Com essa abordagem fundada na cultura, Boas demonstrou que o determinismo geográfico ou a herança genética das “raças” não explicam as variações humanas. Assim, não haveria correlação entre aparência física, língua, comportamento, valores ou capacidade cognitiva. Por essa razão, as ideias de Boas também eram chamadas de determinismo cultural.
CRÍTICAS
Sem considerar críticas hoje superadas por parte dos teóricos deterministas, racistas e de evolucionistas culturais e difusionistas; o trabalho de Boas ainda recebe críticas em alguns pontos:
- Negligenciar um trabalho interpretativo em etnografia, fruto de sua ênfase na coleta de artefatos e elementos imateriais de culturas em risco de desaparecer;
- Direcionar os trabalhos de seus discípulos para confirmar sua agenda ideológica de erradicação do racismo;
Entretanto, fazendo justiça a Boas, deve-se reconhecer seu esforços de salvar materiais etnográficos que mais tarde serviriam a outros pesquisadores e aos próprios descendentes das comunidades estudadas. Adicionalmente, Boas deu ampla oportunidade de pesquisa a diversos de seus alunos, orientando mulheres, minorias e estrangeiros.
LEGADO
Em uma morte tão dramática quanto simbólica, Franz Boas morreria nos braços de Claude Lévi-Strauss. O legado de Boas inclui a teoria do particularismo histórico, o método de relativismo cultural além de abrir caminho para o desmantelamento do racismo científico e do etnocentrismo na pesquisa antropológica e estabelecer essa disciplina como ciência na academia norte-americana.
OBRAS
“The Social Organization and the Secret Societies of the Kwakiutl Indians.” In United States National Museum, Annual Report, 1895.
The limitations of comparative method in anthropology 1896.
Para Boas, traços culturais semelhantes (como o fogo, arco e flecha) pode aparecer em diferentes culturas, mas não necessariamente desenvolveram de um foco difusor comum.
O objetivo, difícil, da antropologia é determinar o que seria culturalmente universal.
O método comparativo, empregado por difusionistas e evolucionistas, ignoravam a história, pois amontoavam culturas distintas baseadas na semelhança. Para remediar essa falta, recomenda uma coleção indutiva de informações etnológicas para cada cultura específica, o método particularista histórico.
The Study of Geography 1887.
The History of Anthropology. 1904.
Anthropology. Palestra na Universidade de Columbia. 1907
The Mind of the Primitive Man. 1911.
The methods of ethnology 1920.
Race, Language and Culture. 1940.
Kwakiutl Ethnography. 1967.
Filme sobre Boas
Obras sobre Boas
CASTRO, Celso. (org.). Franz Boas: antropologia cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. Uma antologia dos textos mais impactantes de Boas em português.
DARNELL, Regna et al. (eds) The Franz Boas Papers, Volume 1: Franz Boas as Public Intellectual—Theory, Ethnography, Activism. Omaha: University of Nebraska Press, 2015.
ROTH PIERPONT, Claudia. 2004. “The Measure of America,” The New Yorker, March 8.ROTH PIERPONT, Claudia. 2004. “The Measure of America,” The New Yorker, March 8.