por Bertrand Russell
Talvez a essência do pensamento liberal[1] possa ser resumida num novo decálogo, não para substituir o anterior, mas para complementá-lo. Os dez mandamentos que, como um professor, eu gostaria de promulgar, posso pô-los assim:
- Não tenha certeza absoluta de nada.
- Não considere que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.
- Nunca tente desencorajar o raciocínio, pois com ele certamente você terá sucesso.
- Quando você encontrar oposição, mesmo que seja de seu cônjuge ou de suas crianças, esforce-se para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.
- Não tenha respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem encontradas.
- Não use o poder para suprimir opiniões que considere perniciosas, pois as opiniões irão suprimir você.
- Não tenha medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
- Encontre mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se você valoriza a inteligência como deveria, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.
- Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentar escondê-la.
- Não tenha inveja daqueles que vivem num paraíso de tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.
de The Autobiography of Bertrand Russell: 1944-1969
[1] Liberal nesse contexto não se refere a posição política ou moral. Na terminologia de Russel, o adjetivo liberal remetia ao livre pensamento, ou seja, raciocínio filosófico, crítico ou aberto.