
por Leonardo Marcondes Alves
Um amigo perguntou-me o que eu achava de estudar filosofia. Quais seriam as perspectivas profissionais? O que um formado em filosofia faz? Um filósofo consegue ao menos se sustentar sem passar fome ou até mesmo ganhar dinheiro?
Não sou filósofo. Fora algumas disciplinas que cursei durante meu bacharelado (Introdução à Filosofia, Bioética e Teoria do Conhecimento) e leituras assistemáticas da obra de pensadores, meu contato com a filosofia é amador. Ainda espero um dia estudar profissionalmente essa matéria fascinante.
Todavia, reconheço que as perspectivas profissionais de quem cursa filosofia são amplas. Engana-se quem pensa que o graduado em filosofia limita sua atuação profissional apenas ao ensino ou à pesquisa acadêmica.
Platão idealisticamente concebeu uma sociedade governada por filósofos-reis. Apesar da má experiência política do ateniense em Siracusa e de ser acusado por Karl Popper como o pai do totalitarismo, Platão encontrou uma utilidade para uma disciplina que, orgulhosamente, rejeita assumir um escopo utilitarista. Desde então, pessoas com formação em filosofia se destacaram como líderes em diversas áreas.
Foram poucos os governantes que também eram filósofos, valendo lembrar os imperadores Marco Aurélio, de Roma, e Akbar, da Índia Mogol. Todavia, ainda hoje a disciplina ajuda a formar líderes políticos. Desde que a Universidade de Oxford lançou seu programa interdisciplinar de Filosofia, Política e Economia (Philosophy, Politics, and Economics – PPE) na década de 1920, essa formação tornou-se a favorita dos britânicos que desejam seguir carreiras no serviço público, incluindo diplomacia e cargos eletivos. Líderes de outras nacionalidades se interessaram pelo PPE, como Bill Clinton e Benazir Bhutto, ambos estudantes de filosofia em Oxford. No Brasil, o diplomata Antonio Patriota, nomeado chanceler das Relações Exteriores do Brasil por Dilma Rousseff, é formado em filosofia. Outro diplomata brasileiro, o célebre Roberto Campos, possuía uma titulação dupla em filosofia e teologia pelo Seminário Menor da Diocese de Guaxupé, em Minas Gerais.
Há também aqueles que se destacaram nas artes. Na dramaturgia, temos a atriz Claudia Abreu, formada em filosofia pela PUC-Rio; o reflexivo Antonio Abujamra; o brilhante e polêmico Woody Allen, que estudou matérias relacionadas, mas não concluiu o curso; e Harrison Ford, que virou ator após ser expulso da faculdade por mau desempenho acadêmico. A cantora Lana Del Rey é graduada nessa disciplina pela Fordham University; o comediante Steve Martin e o lutador e ator Bruce Lee também se formaram em filosofia. O aclamado diretor Wes Anderson é outro graduado em filosofia.
Autores que estudaram filosofia e escreveram além do tema se destacaram, como Tolstói, T. S. Eliot, Dostoiévski e Umberto Eco.
Outras ciências, como a antropologia, foram beneficiadas por profissionais graduados em filosofia, como Claude Lévi-Strauss, Clifford Geertz e Pierre Bourdieu.
E quanto ao dinheiro? Para ilustrar, certa vez criticaram Tales de Mileto por sua filosofia, considerada sem valor para o “mundo real”, onde as riquezas predominam. Tales, empregando seu raciocínio afinado, comprou todas as prensas de azeitona da região. Quando a safra chegou e as árvores estavam carregadas, todos tiveram que procurar o filósofo para extrair azeite. Tales ficou rico. Podem culpar o filósofo como o inventor da especulação financeira. Outros empresários seguiram seu exemplo. Entre alguns célebres formados estão Idalberto Chiavenato, o mega-investidor George Soros, Peter Lynch (gestor dos fundos Magellan e Fidelity), Gerald Levin (CEO da Time Warner), Carly Fiorina (CEO da Hewlett-Packard), Peter Thiel (fundador do PayPal) e Lawrence Pih (um dos maiores empresários do trigo no Brasil).
A razão de vários executivos de sucesso possuírem sua educação inicial em filosofia e não em administração deve-se às habilidades adquiridas no curso.
As habilidades do formado em filosofia incluem: argumentar, desenvolver ideias complexas, dominar o raciocínio lógico, resolver problemas, analisar criticamente, expressar-se com clareza, promover autocompreensão, avaliar situações sob uma perspectiva ética e, sobretudo, aprender a pensar.
Não é de se admirar que grandes conquistas atuais — como o fim da escravidão, os direitos humanos, a bioética, o método científico, entre outras — foram apresentadas e discutidas como argumentos filosóficos.
Nos Estados Unidos, os graduados em filosofia se destacam nos testes padronizados utilizados na admissão de carreiras profissionais pós-graduadas. Lideram no LSAT (Law School Admission Test), no GRE Verbal e no GMAT, e são a terceira graduação mais aceita para a admissão em escolas de medicina. Além disso, os formados em filosofia apresentam, em média, aumento de renda entre 97,8% e 103,5% após 10 anos de carreira, segundo o site Payscale.com.
Para os que gostam de lecionar, a inserção de filosofia nos currículos do ensino público no Brasil levou à criação de 23 mil postos de trabalho.
Quem deseja cursar esse fascinante assunto encontra no Brasil programas de qualidade, como os das universidades federais, das PUCs, de algumas estaduais (como a Unicamp), o curso a distância da Unisul e o tradicional curso da Faculdade do Mosteiro de São Bento, em São Paulo. A Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, tradicionalmente aparece como a melhor instituição de ensino superior do Brasil nas classificações do MEC.
Como se vê, a atuação do profissional de filosofia é extensa. Artes, literatura, administração e educação são campos beneficiados pela reflexão e pelo conhecimento filosófico.
Veja mais sobre a carreira:
Platão. A República. Livro VII
http://www.thereitis.org/displayarticle637.html
http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL102995-5604-2894,00.html
http://www.scordo.com/blog/2008/12/why-major-in-philosophy.html
Wyatt, Edward. To Beat the Market: Hire a Philosopher. New York Times 1999.
In a New Generation of College Students, Many Opt for the Life Examined. The New York Times April 2008
The Rise in Stock of Philosophy Graduates: I Think, Therefore I Earn.The Guardian November 2007

É, esse discurso funcionalista do Estado e da sociedade brasileira que torna a filosofia ainda pouco valorizada em termos sociais, ainda existe o pensamento que somente quando você segue uma carreira de acordo com as normas do estado, você estará sendo funcional, portanto essa pergunta “O que um formado em filosofia faz?” é uma pergunta coerciva que limita a liberdade do indivíduo para escolher a disciplina de acordo com a vontade própria. Ótimo post, um incentivo para os estudantes de ensino médio a pensarem como a filosofia pode ser importante. Obrigado.
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Se valendo de um grande dom de escrever misturado com um grande conhecimento, Leo escreveu esse texto pensando na pergunta que fiz a ele. Sim! Eu sou esse amigo que fez essas perguntas que, agora mais do que nunca, inquietam os interessados em Filosofia acadêmica.
Muito obrigado, Leo, por não ter sido omisso nessa parte e por ter – mais uma vez – usado seu conhecimento em favor dos mais pobres em conhecimento, como eu.
Muito grato por você ter escrito esse texto pensando no que conversamos. Isso aqui vai ajudar, como falou o Rafael, os estudandes do Ensino Médio que querem arriscar a Filosofia.
Meus parabéns pelo blog e pela criatividade e conhecimento.
Um abraço!
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