
Sente-se como um impostor? Acha que a qualquer hora seus colegas vão descobrir que você é uma fraude? Todo mundo parece saber mais que você? Essas dúvidas são comuns e, ainda assim, muita gente contribui produtivamente com coisas que sequer sabia que era capaz.
Entre a síndrome do impostor e a aquisição de autoconfiança há uma interessante teoria. A autoconfiança, o desempenho e a motivação são coisas aprendidas.
Ao notar que crianças aprendem algumas coisas sem passar por experimentação ou tentativa e erro, o psicólogo Albert Bandura (1997) propôs que a personalidade humana existe em associação com aprendizagem, relações sociais e a cognição. Em suma, o que observamos e como comportamos converge-se no aprendizado. Nisso, entra a autoconfiança.
Essa abordagem foi inicialmente referida como teoria da aprendizagem social, modelagem, ou aprendizagem por observação, mais tarde, teoria sócio-cognitiva. De acordo com Bandura (1986), a personalidade molda-se por meio de aprendizado modelo ou aprendizado observacional. Isso inclui autoconfiança.
A autoconfiança é a crença de uma pessoa de que ela pode ter sucesso em suas performances. A autoconfiança geralmente é específica para tarefas específicas. Entretanto, há pessoas excepcionais que parecem aplicá-la em várias atividades. A autoconfiança tende a ser autogerada: pessoas confiantes estabelecem metas de treinamento difíceis e perseveram até alcançá-las. Por aprender com seus erros ou baixos desempenhos, bem como acompanhando o desempenho de pares ou outros modelos, cresce os sentimentos de competência que reforçam a confiança. Dizem que Borges copiava, mais tarde passou a traduzir, textos que ele considerava como modelos até que alcançou a maestria dos contos, ensaios e poemas.
A autoconfiança pressupõe confiar na autoeficácia. A autoeficácia é um fator (cognitivo, comportamental e emocional) necessário para iniciar determinado comportamento para que se obtenha um desempenho competente.
Pela teoria de Bandura, a autoeficácia é reforçada por quatro fatores: desempenho bem-sucedido, experiências vicárias, persuasão verbal e excitação emocional.
- O desempenho bem-sucedido é a performance cujos resultados satisfaçam a pessoa. O aprendizado por observação participativa é um dos mais importantes fatores. É mais fácil aprender um instrumento musical tocando em grupo ou adquirir fluência em uma língua acompanhando a conversa de um pequeno grupo. No mundo acadêmico isso pode ser desenvolvido participando em pequenos seminários no qual se apresentam vários trabalhos. Em ambiente corporativo o trabalho em equipe é o correspondente.
- A experiência vicária de sucesso. Imaginar realizando as atividades-alvo perfeitamente tende a maximizar a experiência de sucesso. A visualização de sua vida quando atingir suas metas, além de ser um ótimo meio de avaliar aquilo que você realmente quer, ajuda a focar sua confiança e a direcionar seu comportamento para atividades que contribuam para alcançá-las. Faça uma colagem com imagens suas na faculdade ou no trabalho que deseja.
- Persuasão verbal é verter em palavras aquilo que você espera conseguir. Ou seja, é se convencer. Do ponto de vista do conhecimento, uma torcida em um esporte não agrega nada: os atletas já sabem muito bem que o objetivo é vencer. No entanto, o incentivo verbal – desde uma conversa interna positiva ou um bate-papo informal com um mentor – reforçam sentimentos de autoconfiança. Também serve de retorno de informações (feedback), dando um retrato realista de suas capacidades e desempenhos.
- A excitação emocional consiste em modular os estados emocionais. Todo o repertório de emoções, de medo até a ansiedade, afloram em momentos de desempenho. No entanto, o ideal é lidar com o “bom estresse” (eustress). O excitamento e a celebração dos resultados ajudam a motivar e a vencer os maus sentimentos (e mesmo a dor, principalmente nos esportes). Por isso, a aceitação das emoções e suas expressões são importantes.
A teoria da autoconfiança é similar à profecia autorrealizável. Quem acredita fortemente em suas capacidades tendem a ter um desempenho melhor e alcançar mais, enquanto quem duvida de suas capacidades evita tarefas difíceis e tendem a realizar menos.
Em razão disso, defina adequadamente suas metas. Divida as metas de longo prazo em metas alcançáveis de curto prazo, de modo a maximizar os sentimentos de sucesso. Aprenda a ter paciência e não limitar seu sucesso a um espaço e tempo específicos se você ainda possa realizar suas metas em outras circunstâncias. Não passou em um concurso ou vestibular hoje, não é o fim do mundo. Haverá mais oportunidades.
Lembre-se também de ser generoso consigo mesmo. Como dito, não é comum alcançar desempenho ótimo em todas atividades. Normalmente pessoas narcisistas e com mania de grandeza possuem autoconfiança em excesso e esperam sucesso em todas as áreas que desejarem. Para elas o problema não é a síndrome do impostor, mas assumir as responsabilidades quando não atingem seus objetivos. Para o autoconfiante excessivo sempre será culpa das circunstâncias ou dos outros quando as coisas não correm conforme o esperado.
E mesmo em áreas que você tenha grande proficiência, desempenho não se iguala à sua capacidade. Uma prova escrita mede sua performance, não seu conhecimento. Por isso, as crenças de enfrentamento (coping) distribuem resultados em competências e habilidades específicas. Por essa razão, uma pessoa pode ter baixa confiança em suas próprias habilidades de enfrentamento na vida acadêmica, mas alta confiança em suas próprias realizações esportivas. Tanto um quanto no outro, a crença de enfrentamento afetará o desempenho, as ambições e a motivação.
O psicólogo canadense Albert Bandura (1925 – 2021), cuja carreira de pesquisador durou mais de 50 anos, fez importantes contribuições à história da psicologia. Foi professor da Universidade de Stanford e contribuiu nas áreas de psicologia do aprendizado, psicologia das motivações e teoria da personalidade.
SAIBA MAIS
BANDURA, Albert. Social Foundations of Thought and Action. 1986.
BANDURA, Albert. Self-efficacy: the exercise of control. 1997.