Sinopse: A HBO Latin America produziu uma série cujo conteúdo polêmico promete muito ao misturar religião, drama e crime: a série Dios, Inc. O sitcom envolve os esforços do erudito Salvador Pereyra que, depois de dez anos investigando, descobre em uma tumba em um remoto deserto na Ásia o inventor do conceito de Deus, Marduk.
Segundo o seriado, ao perceberem o poder dessa ideia, os discípulos de Marduk teriam-no assassinado e espalhado as grandes religiões.
Quando Salvador Pereyra retorna ao México descobre que sua obra fora plagiada e apropriada pelo mascarado Askar Hyrum para fundar uma nova religião, os Filhos de Indra. Esse Novo Movimento Religioso (NMR) arregimenta fiéis entre a população marginalizada e carcerária do México. Com a ajuda de um jovem escritor meia-boca de temas forteanos, Dante, Pereyra enfrenta a seita e dramas familiares.
A HBO lançou a série em janeiro de 2016 e disponibilizou o primeiro episódio no Youtube.
Interpretações
Sob os pontos de vista da antropologia e sociologia da religião, a série toca alguns temas e fatos interessantes. Vale salientar alguns desses tópicos, como o fato de nem todas religiões possuírem crenças em deuses como pessoas sentientes divinas, a fundação de Novos Movimentos Religiosos (NMRs) seguirem parâmetros e dinâmicas já mapeados, por fim, a tensão constante entre cultos minoritários marginais e a ampla sociedade.
Os antropólogos e filósofos do século XIX (Frazer, Heine, Fauerbach, Nietzsche e, tardiamente, Freud) retomaram dos pensadores gregos a ideia de que o conceito de deus fora criado humanamente em um dado momento histórico. Deus como conceito, e a religião em geral, serviriam à manipulação. Como diria Marx (citando pensadores iluministas e os hegelianos), a religião seria o “ópio do povo”. Na série, a religião como instituição é vista como meio de controle, conforto e alienação. Essa perspectiva, um tanto reducionista quanto obsoleta, foi substituída por outras teorias oriundas de inquirições filosóficas, teológicas e das ciências sociais durante o século XX.
O grupo religioso os Filhos de Indra seria o que (politicamente incorreto) era chamado de seita: um grupo em constante tensão com a ordem estabelecida, seja para reafirmá-la ou contestá-la. Esse NMR possui as características típicas dos cultos marginalizados de populações criminalizadas, como o culto da Santa Muerte no México e América Central. Em um ambiente de anomia, eminente morte e imediatismo das ações, os Filhos de Indra criam uma nova família ou irmandade (o pai de todos é Marduk). Tabus, rituais e símbolos comuns diferenciam os membros e não membros, afastam possíveis aproveitadores e fortalecem a identidade religiosa. Como no movimento gnóstico de Samael Aum Weor bem estabelecido na América Hispânica, a cosmovisão proposta por Askar Hyrum compete com as religiões hegemônicas, dando uma alternativa coerente que resulta em práticas recíprocas de assistência e de comprometimento, aspectos que não seriam facilmente proporcionados pelas grandes religiões.
Os símbolos religiosos empregados pelos diretores da série revelam um curioso sincretismo: salões de reunião que lembram a cientologia, máscaras como em cultos de mistério, mitras e togas católicas, termos da mitologia acadiana e das religiões dhármicas do sudeste asiático.
Deus, inc. só está começando, mas oferece oportunidades para reflexões críticas e difusão do conhecimento já acumulado pelas ciências das religiões.
Essa série parece muito boa. Essa foi a primeira que eu vi na HBO e além dessa eu agora veo outras boas produções de outros gêneros. Eu acho que eles tem series incríveis! Agora eu vou ver Sr. Ávila, uma das melhores series de drama que au vi até agora. Vale muito à pena, é um dos melhores do seu gênero. Além, tem pontos extras por ser uma historia criativa. Adoro a idéia da serie, pareceu muito interessante e de verdade verei o próximo capitulo. Na verdade promete, os primeiros capítulos que tenho visto são ótimos!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Não assisti a série completa (não tenho HBO 😦 ), mas gostei muito. Várias nuances demonstram acuradamente como um Novo Movimento Religioso se comporta, especialmente os cultos que atraem a população periférica mexicana e os envolvidos na mistura dos poderes político, religioso e do narcotráfico.
Valeu pela dica do Sr. Ávila. Parece bem empolgante. Vou vê-la.
CurtirCurtir