Já viu macacos se coçando e catando piolho? Pois é, o carinho primata explica qual número de pessoas no Facebook você realmente pode chamar de amigos e a quem convidar para uma festa.
Com uma pesquisa que sobrepõe a ecologia comportamental de ungulados e primatas com os mecanismos cognitivos e componentes cerebrais que sustentam as decisões desses animais, o antropólogo e psicólogo evolutivo Robin Dunbar investigou por que os primatas dedicam tanto tempo e esforço se acariciando e se arrumando.
Dunbar formulou a hipótese do cérebro social para explicar como os cérebros dos primatas evoluíram não para resolver desafios ecológicos, mas para sobreviver e se reproduzir em grupos socialmente complexos: quanto maior o grupo, maior o cérebro. Testando a hipótese, Dunbar notou uma relação entre a proporção do tamanho do neocórtex de um animal – especialmente o lóbulo frontal – e o volume total do cérebro em correlação ao tamanho do grupo.
Ao verificar essa razão em diferentes espécies de primatas, Dunbar percebeu uma consistência entre o tamanho do cérebro e o número de indivíduos no grupo. Quando analisou os humanos, Dunbar notou que o círculo mais próximo de amigos se restringia a aproximadamente a um intervalo de 100 a 200 pessoas, em média, 150 pessoas.
Há outros círculos de amizade e para admitir alguém nele, provavelmente as outras pessoas extras cairão fora:
- 1500 pessoas, o número máximo que você consegue associar um nome a um rosto. Ótimo para pedir votos. Não corra o risco de organizar uma festa, mas combine um flashmob.
- 500 pessoas são quem você pode dizer que conhece. Crie um evento em um parque ou shopping, que um bom número deles aparecerá.
- 150 pessoas, o número de Dunbar compreenderia aqueles que você saberia chamar por nome e identificá-los sem problemas. São seus amigos, colegas de trabalho, correligionários, gente do time de peteca, dentre outros. Seria melhor contratar um buffet e um salão para recepcioná-los.
- 35-50 pessoas são os amigos próximos, com quem possui contatos frequentes. Um número bom para se reunir em algum lugar para passar o dia com atividades.
- 15 pessoas são os amigos com os quais você pode contar para partilhar parte de sua vida. Dá para recebê-los em casa, dependendo do espaço.
- 5 pessoas é o seu grupo de apoio. É quem vai te emprestar a grana sem fazer cara feia, mas não tente colocá-los em esquemas de pirâmides. São seus melhores amigos e, frequentemente, membros da família. Você não se importa em vê-los chegar em casa sem avisar para uma festinha mais íntima.
VALIDAÇÃO
Dunbar triangulou suas descobertas com outros métodos. Examinando os registros etnológicos, notou que os bandos de caçadores-coletores ao redor do mundo não ultrapassam 150 pessoas. Unidades militares desde os macedônios, romanos e forças modernas eram mais operacionais com esse número. O tamanho médio de aldeias camponesas, congregações religiosas e empresas confirmam esse número.
Com outra metodologia, Dunbar e o antropólogo Rusell Hill acompanharam o fluxo de cartões de natal que as famílias britânicas enviavam aos amigos nos finais de ano. O tamanho das redes sociais familiares confirmou as hipóteses de Dunbar.
Por fim, empregaram um exame de resposta de endorfina ao toque. Há uma relação entre a intimidade (estar mais próximo nos círculos de contato) e o toque. Isso confirma que as carícias que os primatas trocam afetam sua socialidade.
RELEVÂNCIA VIRTUAL
Sem dúvida as mídias sociais como Facebook, Twitter, Linkedin e Instagram afetam esse número. Nossa memória social pode ampliar com essas ferramentas, mas requer um relacionamento qualitativamente relevante. Saber usar esses relacionamentos de modo estratégico passou a ser crucial.
Faz um século o sociólogo Ferdinand Tönnies propôs a dicotomia sociedade (Gemeinschaft) e comunidade (Gesellschaft) para explicar os diferentes níveis de interações sociais. A comunidade então seria aquele grupo de pessoas com interações frequentes, face a face. Já a sociedade seria ampla, mas cuja relação afeta a vida das pessoas. (Você não sabe o nome do entregador de leite da padaria que faz seu pãozinho, mas estando a três graus de separação, essa pessoa indiretamente afeta sua vida). O uso de mídias virtuais de socialização cria comunidade a partir da sociedade. Entretanto, você não pode depender de um amigo com quem troca mensagem de whatsapp todos os dias mas que mora na China para ajudar a trocar o pneu furado em Belém do Pará.
Gerir um número grande de pessoas é correr risco de perder o rumo. Desse modo, ponderar entre os relacionamentos de seu círculo comunitário próximo sem negligenciar os contatos (fisicamente) torna-se uma nova habilidade social requerida.
SAIBA MAIS:
DUNBAR, Robin. How Many Friends Does One Person Need?: Dunbar’s Number and Other Evolutionary Quirks. London: Faber and Faber, 2010.
DUNBAR, Robin. The Social Brain Hypothesis
DUNBAR, Robin. Neocortex size as a constraint on group size in primates.
DUNBAR, Robin. (1993). Coevolution of neocortical size, group size and language in humans. Behavioral and Brain Sciences 16 (4): 681-735.
TÖNNIES, Ferdinand. Gemeinschaft und Gesellschaft .1887. Ou um resumo em português, OLIVEIRA, Luciano. Comunidade e sociedade: notas sobre a atualidade do pensamento de Ferdinand Tönnies. Cadernos de Estudos sociais. v. 4, n. 1 (1988).