
O plano de construir a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, causa controvérsias devido ao seu impacto socioambiental. A área atingida pela barragem cobriria cerca de 500 km², inundando um ecossistema único e privando as populações indígenas e caboclas da região de seus meios de subsistência.
Por outro lado, os 26 milhões de habitantes do Norte e do Meio-Norte brasileiros seriam beneficiados pela rede elétrica. Grandes corporações, como a Vale do Rio Doce, que detém concessões extrativas na província mineral de Carajás, estão entre as que lucrariam com a eletricidade gerada em Belo Monte.
Recentemente, o diretor de cinema James Cameron, cujo filme Avatar aborda confrontos culturais e ambientais, reuniu-se com lideranças indígenas do Xingu para chamar a atenção para a causa da população nativa.
Os Kayapós locais vivem da caça, da pesca, da coleta de raízes e frutas e do cultivo de pequenas roças. Para garantir sua sobrevivência, são necessárias migrações periódicas; assim, a noção de territorialidade kayapó difere daquela da sociedade ocidental. O modo de vida tradicional kayapó funciona sem o uso de energia elétrica. Desalojá-los para uma reserva indígena ou simplesmente indenizá-los com dinheiro dos brancos provocaria um etnocídio.
Há outras maneiras de aproveitar a energia hidráulica das bacias Xingu-Amazônica. Em vez de construir megausinas, poderia-se aproveitar a correnteza, as ondas e as marés dos rios (que, pelo volume de água, são verdadeiros mares), além da região costeira, como fontes energéticas por meio de várias microusinas sem represas.
Semelhantes aos moinhos de vento das usinas eólicas, as turbinas axiais diferem das hidrelétricas convencionais por sua posição em uma coluna vertical e por não necessitarem de represamento de água. Há também projetos de turbinas flutuantes e geradores lineares. Uma vantagem de distribuir várias usinas pequenas estrategicamente pela Amazônia seria reduzir as perdas de transmissão, instalando-as próximas aos locais de consumo.
Além dos rios, o mar também é uma fonte energética. Estrategicamente localizada no Equador, a área entre o delta do Amazonas e São Luís do Maranhão possui a maior amplitude de marés de toda a costa atlântica das Américas: 90 cm. A energia maremotriz poderia ser aproveitada com menor impacto ecológico e sem necessidade de interromper a vida das pessoas. Além disso, os custos de construção seriam significativamente reduzidos.
Considerando que a tecnologia já existe, os custos são menores e os impactos sociais e ambientais são reduzidos, a implantação de microusinas sem represas talvez seja a única solução viável. Trata-se de uma proposta válida a ser considerada.

Deixe um comentário