Glossa Obscura

Glossa obscura: ou como autores podem fazer você se sentir idiota

Era uma vez um manuscrito misterioso. Surgiu, escrito em negrito, em uma escrita indecifrável em uma língua desconhecida. Talvez fosse um embuste ou um segredo crucial para a segurança da humanidade revelado pelos mestres ascendentes. O quer que seja, o códice Voynich tem cativado criptógrafos, filólogos e esotéricos incansáveis. Apesar de insistentes esforços, seu mistério permanece sem solução. Como a Esfinge, o livro provoca: “Decifre-me, ou eu te devoro!” Enquanto isso, seu autor anônimo ri em algum reino oculto perdido no tempo.

Lembro-me de uma conversa de bar sobre alguns caras que gravaram ruídos aleatórios e os apresentaram como música de vanguarda. Surpreendentemente, críticos bem conceituados elogiaram essa peça fictícia. Isso me fez pensar que alguns trapaceiros se divertem escrevendo obscuramente para seu próprio entretenimento. Joyce é um mestre dessa arte. Embora eu tenha adorado “Dubliners”, nunca consegui terminar ou entender completamente “Finnegans Wake”. Textos de filosofia e teologia muitas vezes parecem física quântica pós-moderna escrita em etrusco. Será que Wittgenstein se entendia completamente? Ou Spinoza? Apenas algumas mentes na história exclamaram: “Eureka! Q.E.D.”

Há de se diferenciar entre literatura ergódica, feita propositalmente para desafiar o leitor como em um jogo, e verborragia inútil. Não preciso elaborar muito sobre isso para leitores inteligentes.

Desconfio que não exista texto difícil. Só há textos mal-escritos ou aqueles com os quais você leitor não tenha bagagem contextual o suficiente para compreender. Não há de se esperar que haja um leitor ideal universal. Posso entender muito bem de amuletos apotropaicos bizantinos da Itália meridional, mas se me derem um texto infantil sobre tais artefatos escrito em javanês, serei o homem que não sabia javanês e nunca entenderei o texto. Por isso, a culpa do texto ruim é, grande parte, do autor.

Mas isso não é apenas uma confissão pública da minha humilde ignorância; é o prelúdio de uma obra-prima que estou modestamente considerando editorar a opus magnum de T. Henry Rolando, cujo título completo é:

A Ars Cryptica Ou um manual essencial sobre o საცობი onde um pernóstico bardo pedante de Andorra escreve pleonasticamente de forma concisa de tal maneira que, metalinguisticamente, empregando de modo peculiar a sintaxe tocariana expressa livremente em leituras públicas de poesia sem verso, transmitindo significado/ância desde que Derrida demonstrou que o sentido verbal é arbitrário, deixando o contexto para expressar ideias mediante neologismos. Tais neologismos, segundo o erudito malinês Trok Adil-ho, se mostram práticos para esclarecer as citações do assistente esquecido de Pânini, contrastados com o pós-colonialismo intercultural situado no apêndice ocidental da Ásia com os fragmentos retóricos de Aristóteles encontrados em um lixão no Cairo em um mss. com um palimpsesto de Bab-oseirah. Isso revela a razão pela qual as hóstias modernas nas favelas barrocas do sul de Manila defenestram uma realidade positivista, desafiando o conselho contra títulos longos dado pelo meu professor de redação do primeiro ano da faculdade, que pronunciou e escreveu errado o nome do estudante refugiado burushaski que traduzia Ovídio para Csángók e gravava como freestyle sueco. [1] [2] [3] [4]

[1] Notas irão guiar os leitores pelas 5.000 páginas. Lasciate ogne speranza, voi ch’intrate.
[2] Tente ler em voz alta.
[3] Releia desde o início.
[4] Encontre os sete erros.

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