Swedenborg: teoria da correspondência

Poderíamos estar vivendo em uma ilusão? Jorge Luis Borges conta que quando Melancthon morreu, o teólogo recebeu uma casa enganosamente semelhante àquela em que vivia neste mundo: a escrivaninha e as estantes de livros. 

Assim que Melancthon acordou nesta nova morada, sentou-se à sua mesa, continuou a escrever, mas sem dizer uma única palavra sobre a caridade. Os anjos chamaram-lhe a atenção. Mas o teólogo reafirmou suas convicções.

Depois de algumas semanas, os móveis de seu quarto começaram a desvanecer-se até que finalmente não restava mais nada. Depois, o teólogo foi forçado a ser servo dos demônios.

O trecho acima, antologizado por Borges é oriundo da Arcana Cœlestia, do polímata e místico sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772). 

Filho de um bispo luterano, Swedenborg dedicou-se ao estudo de várias ciências, incluindo matemática, astronomia, mineralogia e anatomia. Swedenborg fez avanços significativos em campos como hipótese nebular e na tecnologia de transporte. Editou o primeiro periódico científico sueco, o Daedalus Hyperboreus. Era uma das mentes mais iluminadas de seu tempo.

Seus feitos científicos já lhe garantiriam um espaço na história. Contudo, mais tarde na vida, Swedenborg teve uma experiência espiritual. Alguns alegavam que ficara louco, outros diziam que agora ficara lúcido. Comunicava com anjos e demônios. Visitava lugares celestes, os quais descreviam com uma precisão de um engenheiro topográfico. Após a morte, os indivíduos continuariam a viver em um reino espiritual que consiste em vários níveis e estados de consciência. Dessas viagens astrais conceptualizou a teoria da correspondência.

A teoria da correspondência sugere que tudo no mundo físico, desde objetos e eventos até fenômenos naturais, tem uma contraparte ou representação espiritual. Em outras palavras, existe uma relação simbólica entre os reinos material e espiritual. Essa ideia se inspira no antigo conceito de “como em cima, assim embaixo”, que implica que há uma correspondência ou harmonia entre diferentes níveis de existência.

O reino espiritual seria a fonte e origem de todas as coisas. Por outro lado, o mundo físico seria uma manifestação ou reflexo das realidades espirituais. O reino espiritual seria caracterizado por verdades superiores, princípios divinos e leis eternas, enquanto o mundo físico seria uma expressão mais limitada e transitória dessas qualidades espirituais.

Através da teoria da correspondência, Swedenborg procurou preencher a lacuna entre o material e o espiritual, encorajando os indivíduos a explorar os significados e simbolismos mais profundos por trás dos fenômenos que encontram em suas vidas diárias. O sábio sueco ensinava que, ao entender as correspondências entre o físico e o espiritual, um indivíduo poderia obter luz sobre os aspectos ocultos da realidade e desenvolver uma compreensão mais profunda da ordem divina.

Haveria vários elementos do mundo físico com suas contrapartes espirituais. Swedenborg propôs que o coração humano, além de sua função fisiológica, também representa o centro das afeições e do amor de uma pessoa. Da mesma forma, sugeriu que a luz no mundo físico corresponde à verdade e compreensão espirituais, enquanto a escuridão representa ignorância ou cegueira espiritual.

O mundo físico que percebemos com nossos sentidos é relativamente limitado e semelhante a uma sombra em comparação com o reino espiritual. Nossa existência terrena é marcada por uma sensação de separação e ignorância, enquanto o mundo espiritual oferece uma maior compreensão da realidade. Daí a importância de desenvolver o intelecto e a percepção espiritual para se alinhar com as verdades superiores e transcender as ilusões do mundo físico.

O inferno não seria um lugar de condenação eterna ou punição infligida por Deus, mas um estado de espírito. O amor e a misericórdia de Deus abrangem todos os indivíduos e todos têm a oportunidade de serem salvos. No inferno os indivíduos que escolheram o mal e o egoísmo se encontram em uma comunidade que reflete seus próprios desejos e tendências negativas. Vivem sem perceberem a salvação disponível.

O mundo físico que percebemos com nossos sentidos é relativamente limitado e semelhante a uma sombra em comparação com o reino espiritual. Nossa existência terrena é marcada por uma sensação de separação e ignorância, enquanto o mundo espiritual oferece uma maior compreensão da realidade. Daí a importância de desenvolver o intelecto e a percepção espiritual para se alinhar com as verdades superiores e transcender as ilusões do mundo físico.

As obras teológicas de Swedenborg, principalmente Arcana Cœlestia (1749–1756) e Céu e Inferno (1758), enfatizavam a importância do livre arbítrio e descreviam a vida após a morte como um reino de sensações vívidas e imortalidade pessoal. Suas doutrinas influenciaram pensadores como Ralph Waldo Emerson, William Blake e Jorge Luis Borges. Embora não fundasse uma religião, duas denominações surgidas após a sua morte mantém seu legado. Foi sepultado na catedral de Uppsala.

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