Erik Erikson: os estágios psicossociais do desenvolvimento

Algumas vezes nos surpreendemos divagando se seria possível reinventarmos ou se somos condicionados a uma armadura de personalidade desenvolvida no passado, principalmente na infância.

O psicanalista e pesquisador do desenvolvimento psicossocial teuto-americano Erik Erikson não somente argumentava que era possível mudanças pessoais como também mapeou esses estágios. Para Erikson, a personalidade se desenvolvia pela resolução de tensões entre várias etapas ao longo da vida.

1. Confiança x Desconfiança: até 2 anos.

Nesse estágio, o bebê interage com seus cuidadores próximos. Desses primeiros atos de socialização surge um sentimento de segurança que desenvolverá a confiança nas pessoas e no ambiente. Os comportamentos de insegurança, desconfiança e ansiedade seriam efeitos colaterais de negligência nessa fase.

2. Autonomia x Vergonha e Dúvida: entre 2–3 anos.

A fase de aquisição da linguagem coincide com o senso de autonomia. A criança começa a entender que é um ser social dentre outros e a aprender a manipular objetos. Ser ela própria é aceitável nesse círculo social desenvolvendo sua autonomia. Contudo, críticas repressivas tendem a causar sentimentos de dúvida ou vergonha. A vergonha seria uma raiva de si mesmo pela exposição à censura.

3. Iniciativa x Culpa: entre 4–5 anos.

Uma vez desenvolvida a autonomia, a criança parte para a iniciativa. Aplica suas capacidades físicas e mentais para expandir em outras áreas de forma criativa e social. Amplia sua rede social além da família imediata, alfabetiza-se e desenvolve a imaginação. Os mesmos brinquedos ganham funções diferentes e o mundo ao redor é mais explorado intensamente. A iniciativa (ou falta dela) gera a responsabilidade, internalizada na forma de culpa.

4. Diligência x Inferioridade: entre 6–11 anos.

A liberação da criatividade é um verdadeiro dique se abre. Surge, então, a necessidade de controlar a imaginação e direcionar o foco criativo para processos de socialização formal, principalmente a educação. A industriosidade, a diligência e a perseverança são recompensantes. Contudo, se há muita cobrança ou inadmissão de falhas, pode surgir uma desmotivação e sentimento de inferioridade.

5. Identidade x Confusão de Identidade: entre 12 – 18 anos.

Já na adolescência domina a demanda pela identidade. A tensão entre ser diferente e se conformar às normas de algum grupo para ser aceito gera a crise de identidade. Há pressão para assumir um papel na sociedade (qual carreira seguir? Quem sou na minha família? Quem sou? Como quem vou me relacionar?)

Acompanhado pelas drásticas e autoconscientes transformações biológicas, o adolescente muda rapidamente muito de seus traços de personalidade. Às vezes, não se reconhece nos novos papéis, resultando em uma confusão.

6. Intimidade x Isolamento: entre 19—40 anos.

Uma vez estabelecida a identidade, a pessoa aproxima-se de outras conforme os valores, gostos e interesses que em conjunto formam essa mesma identidade. Essa socialização em faculdades, trabalho ou relacionamento íntimo requer uma identidade forte, “saber o que quer”. A incompreensão (mútua ou não) de outros sujeitos ou a dificuldade em forjar relações íntimas podem empurrar a pessoa para o isolamento.

7. Generatividade x Estagnação: entre 40—60 anos.

A socialização adulta anterior pode resultar em uma carreira, família ou amizades duradouras. Aqui começa uma atividade reflexiva de transmissão dos bastões. É o tempo de educar seus filhos. Socialmente, é quando se torna comum engajar-se em causas com uma articulação maior e menos com improvisos ou paixões espontâneas. O papel profissional requer tanto reconhecimento quanto influência em seu meio, inclusive além das recompensas meramente utilitárias. Se os projetos frustram ou sua autoavaliação não é satisfatória, há um estagnação e autossabotagem.

8. Integridade x Desespero: entre 60 anos e resto da vida.

É a fase do balanço. A pessoa madura reflete sua vida. Sua história e legado são avaliados. Quer por arrependimento ou gratidão, a pessoa pode se tornar mais doce. Quer por revolta ou indiferente, uma pessoa amarga que liga menos para a opinião alheia. Contudo, se não houver um sentimento de realização, a tendência é ao desespero e não conformidade com o fim da vida.

A não resolução satisfatória de uma fase afetaria as fases subsequentes. Entretanto, Erik Erikson acreditava que a terapia poderia encontrar meios para superar e compensar um estágio deficiente.

Erik Erikson (1902 — 1994)

Nascido em Frankfurt filho de Karla Abrahamsen, uma dinamarquesa de família judia abastada. A mãe já vivia separada do corretor Valdemar Salomonsen e o menino teve vários sobrenomes: Salomonsen, Abrahamsen, Homburger e Homburger Erikson. Sua mãe casou-se com seu pediatra quando Erik ainda era pequeno. Teve duas meio-irmãs, recebeu o sobrenome Homburger do padrasto e por muito tempo sua origem foi mantida em segredo.

Na escola e na adolescência surge a crise de identidade. Suas feições nórdicas contrastavam com seus colegas, sua condição de minoria judaica, idem. Essa crise reflete nos sobrenomes que usou e na busca pela identidade de seu pai biológico. Passa a estudar em um ateliê de artes e a vagar pela Europa, dormindo muitas vezes ao relento.

Em 1927 chega a Viena. Na cidade arranja trabalho de tutor de uma família rica e conhece a Anna Freud, que o analisa. Envolve-se com as pesquisas desenvolvimentais em uma escola infantil e casa-se com a coreógrafa e educadora canadense Joan Serson.

Desenvolve uma nova identidade quando em 1933 a família emigrou para os Estados Unidos e assume o novo nome: Erikson, filho de Erik, conforme a patronímia escandinava. Naturalizado americano em pouco tempo, abre uma clínica para terapia infantil e leciona em Harvard, Berkeley e Yale, mesmo sem um diploma universitário.

Envolve-se em pesquisas etnográficas entre os sioux, reportando o desenraizamento e de ruptura que identitária em conflito com a ampla sociedade americana. Cada vez mais leva em consideração elementos da história, antropologia, filosofia, teologia, política e arte em seu trabalho. Sua consciência dos fatores sociais e ambientais, raras para os psicanalistas da época, o aproximou de pesquisadores da nascente cibernética. Fez análises biográficas profundas de Lutero, Gandhi e Hitler com o método psicanalítico.

Sua obra mais conhecida Infância e sociedade, publicada em 1950, com seus ensaios e teorias desenvolvimentais, deu-lhe reconhecimento amplo. Nesse livro, em seu capítulo 7, aparece as Oito Idades do Homem.

Erik Erikson distinguia-se de Freud em vários aspectos. Erikson acreditava que a construção da personalidade não se limitava às fases cruciais da infância, mas por toda a vida. O foco de Erikson no ego fez que ele considerasse fatores externos, ambientais e culturais, na formação psicossocial. A interdisciplinaridade e a apresentação de suas teorias em evidências nas humanidades e ciências sociais garantiram sua aceitação fora dos círculos psicanalíticos, principalmente na psicologia do desenvolvimento.

SAIBA MAIS

ERIKSON, Erik H. Infância e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.

SANTROCK, John W. Child Development. Nova Iorque: McGraw-Hill, 2001.

Os estágios morais de Kohlberg

A pirâmide de Maslow: a hierarquia das necessidades

As sete idades do homem de Shakespeare

Como citar esse texto no formato ABNT:

Citação com autor incluído no texto: Alves (2020)

Citação com autor não incluído no texto: (ALVES, 2020)

Na referência:

ALVES, Leonardo Marcondes. Erik Erikson: os estágios psicossociais do desenvolvimento. Ensaios e Notas, 2020. Disponível em: https://ensaiosenotas.com/2020/06/13/erik-erikson-os-estagios-psicossociais-do-desenvolvimento/ . Acesso em: 28 mar. 2020.

13 comentários em “Erik Erikson: os estágios psicossociais do desenvolvimento

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    1. Olá, Alinne.

      Obrigado pela visita ao site e pela citação.

      Você pode citar no formato ABNT nos seguintes modos.

      – Citação no meio do texto com o autor incluído: “Segundo Alves (2020)…”

      – Citação no texto sem citar o autor: “…Erik Erikson dividiu a vida em oito estágios desenvolvimentais (ALVES, 2020)”

      Na referência:

      – ALVES, Leonardo Marcondes. Erik Erikson: os estágios psicossociais do desenvolvimento. Ensaios e Notas, 2020. Disponível em: https://ensaiosenotas.com/2020/06/13/erik-erikson-os-estagios-psicossociais-do-desenvolvimento/ . Acesso em: 28 mar. 2021.

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  1. Estou estudando e usei esta página como complemento, eu gostei muito. Eu possuo sugestões: Na primeira fase vocês poderiam falar da questão do surgimento da esperança, não sei bem que tipo de esperança surge na criança nesse período, mas sei sobre esse surgimento pois tem no material do meu professor, e vcs devem saber sobre isso.

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