When the sun goes down
And the band won’t play
I’ll always remember us this way.
Dois filmes de se tirar o fôlego. Lançados quase simultaneamente o Nasce uma Estrela [A Star is Born] e Bohemian Rhapsody cativam pela atuação e música.
Embora não quero aqui fazer uma resenha, dizer sobre os elementos (fotografia, figurino, enredo, atuação, produção musical) que uma crítica comportada normalmente faz, gostaria de deixar minhas impressões. Portanto, cuidado com os spoilers.
O enredo do Nasce uma Estrela não é novo. Teve versões em 1937, 1954 e 1976 e retrata o cantor consagrado mas decadente que levanta a carreira de uma talentosa cantora que não tinha tido oportunidades. Confesso que de cara nem reconheci Lady Gaga fora da personagem, sem maquiagem. Realmente ela é uma performer, frase repetida pelo personagem Freddie Mercury no outro filme. O vozeirão em músicas como Shallow, Alaways remember us this way, I’ll never love again — as quais foram para a minha playlist — ainda ressoa na minha memória duas semanas após ver o filme. É um bom verme de ouvido, para usar o conceito do Bob Esponja.
Bradley Cooper dirigiu e atuou bem. Cara inchada, cabelo ensebado, carismático, alcoólico e atormentado por traumas familiares o personagem Maine retrata os Kurt Cobains da vida que têm as dificuldades de conciliar saúde mental com o sucesso.
Lady Gaga representou Ally, com um pouco de traços autobiográficos. Nascida Stefani Germanotta, Lady Gaga é de uma família trabalhadora da Grande Nova Iorque, com talento para compor mas com problemas de autoimagem, levou tempo para receber o devido reconhecimento.
O desconforto com a aparência, no caso de Ally, com o nariz, é tema comum também com Freddie Mercury e seus dentes. Nenhum arriscam a operar e arriscar suas vozes. Bom para nós. Ambos também são queers, deslocados, que encontram na perfomance o sentimento de pertencimento.
Já a hagiografia dirigida por Bryan Singer (que sumiu do set de filmagem e a obra foi terminada por outro diretor) conta com a esforçada atuação de Rami Malek. O cara incorporou o personagem, cantou muito bem, mas ninguém dá para competir com a voz do original, né?! Todavia, a trilha sonora contou com uma mistura de áudios originais de Mercury e novas gravações por Rami Malek e Marc Martel, um cantor canadense que faz cover do vocalista do Queen.
Passei a apreciar mais as músicas ao ver o processo criativo de composição e gravação das músicas. Ally e Maine criam suas canções na calçada, no piano, em viagem. Os membros do Queen rabiscam cadernos, criam no piano, mas desenvolvem algumas músicas dentro do estúdio com criatividade e jocosidade.
Ambos as narrativas pulam direto do anonimato para o sucesso, poupando os expectadores (e ouvintes) de histórias melosas das dificuldades de se galgar o estrelato. São sérios concorrentes ao Oscar, provavelmente em categorias similares.