Tamra gentilmente abordava estranhos nas ruas, nos shoppings, nos restaurantes e, com um sotaque estrangeiro falso, pedia para tirar uma foto deles. Surpresos e envaidecidos, aquiesciam.
Mais tarde, trazia o notebook para a mesa de algum aconchegante bistrô e com algum incauto amigo, certamente conhecido naquele mesmo dia, Tamra deleitava-se. Os retratados serviam de espécimes para seu desprezo. Não os poupava de nenhuma comparação elogiosa: que face equina, que olhos de toupeira, que expressão imbecil, que dentes de rato, que orelhas do Pateta, que buços de morsa, que pança de barril, que magreza de cadáver, que banquetinha, que remedo de gente, e outras finezas mais.
Ria até ficar roxa. Tomava um gole de vinho branco, fingia cansaço e preparava para se despedir enquanto o convidado pedia a conta. Fazia menção de sacar o cartão, mas aceitava com protestos as insistências do comensal em pagar o repasto. Grata, retribuía: “Que noite agradável! Vamos tirar uma selfie para marcar a gentileza sua”.
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