Richard Rorty (Nova Iorque 1931–Palo Alto 2007) filósofo neo-pragmático ou pós-analítico. Defendeu uma epistemologia anti-realista e anti-essencialista centrada na utilidade, nas convenções e no progresso social, em rejeição à busca de uma verdade objetiva. Controverso, flertou mas não poupou críticas ao marxismo, a Dewey e à filosofia analítica.
Filho de um casal marxistas patrióticos e anti-Stalinistas, era neto do teólogo e ativista do Evangelho Social Walter Rauschenbusch.
Educado nas universidades de Chicago (BA 1949, MA 1952) e Yale (PhD 1956), viveu o momento do pós-guerra e Guerra Fria. O introvertido e leitor voraz Rorty encontrou amparo no programa educacional de Robert Hutchins, que cultivava a educação dos grandes livros na Universidade de Chicago. Nessa instituição conheceu Amélie Oksenberg, uma antropóloga e filósofa belgo-americana com interesses em retórica e filosofia da mente com quem se casaria. Em Yale, estudou os conceitos lógico-matemáticos de Alfred North Whitehead. Assumiu várias posições acadêmicas ensinando filosofia e literatura comparada.
Editou uma antologia sobre a virada ou giro linguístico, crendo que os problemas sobre a verdade, conforme os postulados de Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein, poderiam ser resolvidos a partir do escrutínio da linguagem. Mais tarde, abandonaria essa posição, passando a aceitar as limitações da linguagem e firmando-se no pragmatismo.
Uma epistemologia pragmática
Junto de W.V.O.Quine (1908-2000), Donald Davidson (1917 – 2003) e Hilary Putnam (1926 – 2016), Richard Rorty foi um dos reformuladores do pragmatismo norte-americano. Rorty argumentava que deveríamos nos libertar das metáforas da mente e conhecimento que fundamentam os problemas tradicionais da epistemologia e da metafísica. A proposta dele seria uma síntese historicista e naturalista, baseada em Dewey, Hegel, Gadamer, Heidegger e Darwin. Para Rorty, as respostas de Dewey às provocações sobre a verdade de Russell seriam incoerentes com o pragmatismo, pois não se discutia a “natureza da verdade”. O pragmatismo deveria limitar-se à descrição da concepção do “verdadeiro” na linguagem.
Os pressupostos do fundacionalismo — doutrina epistemológica na qual o conhecimento pode ter bases em axiomas sem provas fundamentadas — não faziam sentindo para Rorty. Para ele, qualquer declaração era igualmente válida, dependendo de seu uso e atribuição sociais, sem haver declarações ou axiomas “mais fundamentais” que outros. O contexto temporal afeta todas as teorias. Os meios epistemológicos — a ciência ou a filosofia — são meros gêneros literários que descrevem fatos que somente existem enquanto descritos com palavras. Essas disciplinas criam um vocabulário que são válidos quando para expressar o que pensamos é a realidade. Isso diminui o papel empírico e lógico da verificação se proposições da filosofia e da ciência correspondem à realidade.
Sua epistemologia pragmática implicava na rejeição do realismo, antirrealismo e idealismo, sendo considerado por seus críticos um relativista subjetivo, designações com as quais não se identificava.
Consequentemente, a filosofia era para Rorty não uma inquirição objetiva ou científica, mas um meio de diálogo com outras formas do conhecimento humano, especialmente a literatura, as artes, religião, ciências naturais e a política.
Uma ética liberal
Politicamente, se definia um liberal irônico. Um admirador e crítico da democracia social-liberal de Dewey, via o regime democrático como um projeto a ser perseguido. Defendia uma cultura de direitos humanos global para contrapor à educação sentimental que classifica parte da humanidade em termos excludentes de desumanos ou subumanos. Tomando a política externa norte-americana como, exemplo, Rorty criticava demandar lealdade das pessoas para com seus grupos em detrimento à humanidade. Nessas concepções, a deslealdade com o grupo é vista como irracional e imoral, mesmo que sendo leal a toda humanidade. A concepção essencialista de moral, negando-lhe as influências da história, obscurecia o relacionamento com “os outros”.
Ao invés de demandar a lealdade intransigente, nas relações políticas Rorty achava melhor negociar, reconhecendo que “os outros” têm suas próprias agendas morais. Porém, não se tratava em renúncia à moral ou à lealdade ao grupo. Em outras palavras, ainda que os valores democráticos norte-americanos deveriam ser apreciados o destino manifesto norte-americano de democracia não se impõe. Dessa construção moral é que se forjariam os laços de lealdade.
OBRAS
A virada linguística: ensaios no método filosófico (1967) editor.
Filosofia e o espelho da natureza (1979)
Objetividade, Relativismo e Verdade (1991)
Consequências do Pragmatismo (1982)Tradução de Vera Ribeiro. São Paulo: Martins, 2007.
Contingência, ironia e solidariedade (1989)
Philosophical papers (1991-1998)
Verdade e progresso. Tradução de Denise R. Sales. Barueri, SP: Manole, 2005.
Ensaio sobre Heidegger e outros: escritos filosóficos (2). Tradução de Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999.
SAIBA MAIS
- http://plato.stanford.edu/entries/rorty
- http://www.iep.utm.edu/rorty/
- http://web.stanford.edu/~mvr2j/rr/
- https://esbocosfilosoficos.com/tag/richard-rorty/
- ARAÚJO, Inês Lacerda. Castro, Susana de (orgs). Richard Rorty: filósofo da cultura. Curitiba: Champagnat, 2008.
- SOUZA, José Crisóstomo de (org.). Filosofia, racionalidade, democracia: os debates Rorty & Habermas. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
- PINTO, Paulo Roberto Margutti. Richard Rorty, arauto de uma nova visão de mundo. Kriterion, Belo Horizonte , v. 48, n. 116, p. 527-531, Dec. 2007 .