O que faria se alguém te obrigasse a dar choques elétricos em outra pessoa por ela responder erroneamente a uma pergunta?
O psicólogo social Stanley Milgram testou isso. Esse pesquisador da Universidade de Yale partiu do pressuposto que as pessoas obedecem àqueles com autoridade mesmo quando violando suas consciências. Arranjou uma máquina assustadora, marcando desde 30 a 450 volts, com ponteiros indicando “choque leve”, “choque moderado” , “choque pesado” até “perigo: choque severo” e “XXX”.
De um lado, ficava uma pessoa (um ator) disposta a receber os choques, um dos voluntários, o “aluno”, um contador de 47 anos. De outro lado, sentaram 40 voluntários homens entre 20 e 50 anos de idade, recrutados por um anúncio de jornal e pagos US$4,50 pelo experimento. Os “professores” obedeciam cegamente às ordens de aumentar a potência do choque a cada resposta errada de um teste de memória.
A cada aumento de voltagem e choque recebido, o ator se contorcia simulando dor.

RESULTADOS
Dos envolvidos, 14 recusaram a passar de 260 volts, mas 40 (65% deles) chegaram até os 435 volts, o último nível antes da voltagem letal.
Após o experimento, os voluntários passaram por uma sessão informativa na qual esclareceram o real propósito e simulação da pesquisa (debrifing).
O experimento de Milgram, replicado depois por ele com voluntários não pagos (estudantes universitários), descobriu que quanto maior a distância e menor familiaridade entre a “vítima” e o voluntário, maior a chance de obedecer e subir as voltagens.
Essse ousado experimento de Milgram serviu para explicar como a funciona a excusa de estar “somente seguindo ordens” violando os preceitos éticos e morais do indivíduo. Entretanto, esse experimento é também controverso eticamente por mentir e simular dor com seus envolvidos.
O bom do experimento de Milgram é o alerta a não confiar em uma santimônia narcisista. Antes de se julgar moralmente superior, melhor orar “não nos induzas à tentação”.
ATUALIZAÇÃO
Em 2015 foi rodado o filme O experimento de Milgram (Experimenter) com roteiro e direção de Michael Almereyda. A cinebiografia é bem feita, com comentários do protagonista (representado por Peter Sarsgaard) quebrando a quarta parede. Retrata também outros experimentos clássicos (conformidade de Asch, degraus de separação no mundo pequeno, o estranho familiar, as cartas perdidas, o experimento de olhar para cima em um prédio).
VEJA TAMBÉM
O experimento da prisão de Stanford
Estudos clássicos em psicologia
MILGRAM, Stanley. Obedience to authority: an experimental view. New York: Harper and Row, 1974.