Os capítulos sombrios da história do imperialismo britânico revelam que há ainda muita coisa para Sua Majestade prestar contas. Segue uma lista dos danos.

Mármores de Elgin
No início do século XIX, Lord Elgin, embaixador britânico no Império Otomano entre 1801 e 1812, retirou esculturas do Partenon de Atenas. Desde então conhecidas como os Mármores de Elgin, elas foram levadas ao Museu Britânico em 1816. Apesar dos pedidos persistentes da Grécia por sua devolução, o museu se recusa a restituí-las. A UNESCO já apelou pela devolução dos mármores à Grécia, sem sucesso. A controvérsia continua a prejudicar as relações diplomáticas entre a Grécia e o Reino Unido.
Fome em Bengala
A Fome de Bengala de 1943 constitui um dos episódios mais cruéis da má administração colonial britânica e de um democídio associado às decisões do governo de Winston Churchill. Em meio à Segunda Guerra Mundial, a recusa em liberar estoques de alimentos e as políticas que dificultaram seu transporte contribuíram para a morte de cerca de três milhões de pessoas na província de Bengala, hoje dividida entre a Índia e Bangladesh.
Remoção da População das Ilhas Chagos-Diego Garcia
Na década de 1960, o governo britânico removeu à força o povo chagossiano de suas casas na remota ilha de Diego Garcia, no Oceano Índico. A população deportada foi abandonada em territórios como Maurício e a ilha Reunião, locais dos quais não eram cidadãos nem com os quais possuíam vínculos históricos. O objetivo da remoção foi a construção de uma base militar dos Estados Unidos. As autoridades britânicas alegaram que os chagossianos não eram nativos da ilha, mas empregados temporários de companhias britânicas. Contudo, os fatos indicam que, à época da expulsão, a maioria da população era nativa do arquipélago e não mantinha pertencimento étnico ou social com outros territórios. A luta pelo direito de retorno permanece até hoje.
Malvinas/Falkland
A disputa em curso pelas Ilhas Malvinas/Falkland revela o impacto de longo prazo do controle militar britânico e as cicatrizes deixadas pela guerra de 1982 com a Argentina. A anexação original das ilhas pelo Reino Unido foi ilícita e remete a episódios semelhantes, como a ocupação britânica das ilhas brasileiras de Trindade e Martim Vaz. Atualmente, o argumento britânico fundamenta-se no princípio da autodeterminação dos povos. A população nascida e criada nas ilhas tornou-se, ao longo do tempo, nativa e optou por permanecer sob soberania britânica. Curiosamente, esse mesmo argumento não é reconhecido pelo Reino Unido no caso das Ilhas Chagos.
Rebelião Mau Mau
O governo britânico reprimiu com brutalidade a Rebelião Mau Mau no Quênia, entre 1952 e 1956. As forças da Coroa ignoraram as Convenções de Genebra e recorreram sistematicamente à tortura, a assassinatos em massa e à detenção de mais de 100 mil pessoas em campos de concentração, atingindo indiscriminadamente a população civil.
Guerras do Ópio
As Guerras do Ópio do século XIX, travadas entre o Império Britânico e a China, foram impulsionadas pela imposição do comércio de ópio. O moralismo vitoriano revelou-se profundamente hipócrita quando o Reino Unido utilizou sua força militar para forçar a venda de uma substância altamente viciante e destrutiva. Além de atuar como traficante de drogas em escala imperial, o Reino Unido garantiu o controle de Hong Kong e impôs à China o pagamento de pesadas indenizações.
Os Toubles na Irlanda do Norte
Em 1972, o Domingo Sangrento marcou um dos episódios mais sombrios dos Troubles na Irlanda do Norte, quando soldados britânicos abriram fogo e mataram treze civis desarmados durante uma marcha pacífica por direitos civis. As consequências desse massacre continuam a ressoar na complexa história das relações entre irlandeses e britânicos.
Os Troubles, que se estenderam do final da década de 1960 até o final dos anos 1990, foram marcados por violência contínua entre nacionalistas irlandeses, unionistas e as forças de segurança britânicas. A assinatura do Acordo de Sexta-Feira Santa, em 1998, encerrou formalmente o conflito, mas deixou feridas políticas, sociais e simbólicas que ainda persistem na Irlanda do Norte.

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