Carta do Chefe Machemba ao Major von Wissmann

No coração da África Oriental fica a terra do povo Yao. Durante séculos, esse povo bantu agricultor e pescador — também conhecidos como ajauas ou wayao — prosperou em harmonia em seu território. Mas enquanto os ventos do colonialismo varriam o continente, o Chefe Machemba ergueu-se como um guardião da independência do seu povo.

Foi uma época em que as potências europeias lançaram os seus olhos sobre África, ansiosas por conquistar territórios e extrair os seus recursos. Entre seus agentes estava o major Hermann von Wissmann (1853 – 1905), um representante do Império Alemão, que procurou estender a influência de sua nação sobre as terras dos Yao. Então o povo vivia onde são hoje o Malawi, o norte do Moçambique e o sul da Tanzânia.

As investidas alemãs foram brutais. Com a experiência adquirida nas guerras prussianas e no Congo, as forças de Wissmann utilizavam metralhadoras contra guerreiros com armas tradicionais. Queimavam vilas e campos. Todos que recusavam à sujeição eram mortos. Os prisioneiros eram escravizados. Logo, a região costeira estava sob domínio de Wissmann. No entanto, o chefe Machemba desafiou os alemães em 1890. Resistiu a três investidas dos alemães contra o planalto de Makonde com uma guerra de guerrilhas. Em março de 1891 firmou um tratado de paz, mas ainda continuaria a resistir militarmente e a recusar a pagar impostos até o ano 1899, quando se refugiou com seus seguidores no Moçambique.

Numa carta dirigida ao major von Wissmann, manteve sua firme recusa em aceitar o domínio colonial. Com eloquência e convicção, declarou que embora o povo Yao estivesse aberto ao comércio e à cooperação, não se submeteria à autoridade alemã.

Ouvi suas palavras, mas não consigo encontrar razão para obedecer-lhe – prefiro morrer primeiro. Se o que você deseja é amizade, então estou pronto para isso, hoje e sempre; mas para ser seu súdito, isso não posso ser. Se o que você deseja é a guerra, então estou pronto, mas nunca para ser seu súdito. Não caio a seus pés, pois você é criatura de Deus assim como eu. Eu sou o Sultão aqui na minha terra. Você é o Sultão aí na sua. No entanto, ouça, eu não lhe digo que você deve me obedecer; pois eu sei que você é um homem livre. Quanto a mim, não irei até você e, se você for forte o suficiente, venha me pegar.

Um chefe Yao

SAIBA MAIS

Morris, Brian. “THE RISE AND FALL OF THE YAO CHIEFDOMS.” The Society of Malawi Journal 67, no. 1 (2014): 5–15. http://www.jstor.org/stable/24332663.

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