Turismo, tragédia e exoticização na Ilha de Pentecostes

A cerimônia de mergulho na terra, conhecida como Nagol ou N’gol, é um ritual tradicional praticado pelo povo da Ilha de Pentecostes em Vanuatu. É um rito de passagem e um ritual simbólico de fertilidade realizado pelos homens nessa ilha da Melanésia.

Durante a cerimônia de mergulho na terra, uma torre é construída com galhos e cipós. Os homens sobem até o topo da torre de 20 a 30 metros e cada participante amarra cipós nos tornozelos. Então saltam da plataforma, mergulhando em direção ao solo. Os cipós são cuidadosamente medidos para permitir que os mergulhadores cheguem perto de tocar o solo sem realmente atingi-lo. Os mais audases tocam levemente a testa no chão.

O objetivo da cerimônia de mergulho em terra é garantir uma colheita abundante de inhame e demonstrar bravura. Acredita-se também que garanta a fertilidade para os homens e suas comunidades. O ritual é praticado há séculos e é um importante evento cultural para o povo da Ilha de Pentecostes. Tal cerimônia é um predecessor do moderno bungee jumping.

Em 1974, a Rainha Elizabeth II visitou a região. Para entrenter a monarca com algo exótico, a administração colonial britânica organizou um salto. Os ilhéus não queriam participar. Não era parte do ritual deles saltar nessa época. E ainda, os cipós não estavam na estação certa para antigir a elasticidade necessária. De qualquer forma, um homem venturou-se a saltar para a Rainha. O impacto foi grande. Hospitalizado, não sobreviveu.

O incidente leva à reflexão do impacto do turismo. No dia de Pentecostes — celebração do pluralismo cultural, quer como festa de colheitas, quer como infusão do Espírito Santo sobre uma população multicutural da Jerusalém do século I — a ilha homônima relembra os efeitos de descontextualizar o sagrado para fins de entretenimento de turistas.

O turismo traz benefícios, aproxima os povos, permite chances de reivenção e preservação de ambientes e povos locais. No entanto, possui limites.

Poucas pessoas leem as diretrizes para o turismo ético. A Assembleia Geral da ONU aprovou o Código Global de Ética para o Turismo em 2001, incentivando sua efetivação pela Organização Mundial do Turismo. Esse código está disponível em português.

Gosto de um código anterior, informal, mas bem compreensivo. O Centro de Turismo Responsável, com sede em San Anselmo, Califórnia, elaborou um Código de Ética para Viajantes:

Código de Ética para Viajantes

  • Viaje com espírito de humildade e com um desejo genuíno de conhecer e conversar com a população local.
  • Esteja ciente dos sentimentos da população local. Evite o que possa ser um comportamento ofensivo. A fotografia, em particular, deve respeitar pessoas.
  • Cultive o hábito de ouvir e observar, em vez de meramente ouvir e olhar ou saber todas as respostas.
  • Perceba que outras pessoas podem ter conceitos de tempo e padrões de pensamento que sejam diferentes dos seus – não inferiores, apenas diferentes.
  • Em vez de ver apenas o exótico, descubra a riqueza da outra cultura e modo de vida.
  • Familiarize-se com os costumes locais; respeite-os.
  • Lembre-se que você é apenas um entre muitos visitantes; não espere privilégios especiais.
  • Ao pechinchar, lembre-se de que os mais pobres dos comerciante pode desistir de um lucro, mas não quer desistir de sua dignidade pessoal.
  • Não faça promessas a pessoas locais ou a novos amigos que consiga cumprí-las.
  • Passe algum tempo todos os dias refletindo sobre suas experiências para aprofundar sua compreensão. O que te enriquece pode estar roubando outros.
  • Você quer uma casa longe de casa? Por que viajar?

Turismo responsável

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