Introversão e Extroversão: dois traços de personalidade

Wandinha e Enid, nada poderia ser tão contrastante. Frequentemente confundidos com outros traços de personalidade — calado e tagarela, tímido e desinibido, antipático e sociável — a introversão e extroversão dão cores ao modos que vivemos uns com os outros.

Introversão e extroversão são dois traços de personalidade que descrevem como as pessoas respondem a estímulos sociais e ambientais. Enquanto os introvertidos tendem a ser reflexivos e reservados, os extrovertidos tendem a ser expressivos e sociáveis. Os ambivertidos, por outro lado, ficam em algum lugar no meio do espectro introversão-extroversão, com uma mistura equilibrada de ambas as características.

A teoria da introversão e extroversão de Carl Jung foi baseada na ideia de que as pessoas diferem na forma como processam informações e respondem a estímulos. Jung acreditava que os introvertidos têm uma natureza mais reflexiva e contemplativa, enquanto os extrovertidos são mais expansivos e orientados para a ação. De acordo com Jung, os dois traços de personalidade não são mutuamente exclusivos, e a maioria das pessoas exibe elementos de ambos em graus variados.

Jung veio com a teoria, mas sua validação seria empiricamente validada mais tarde. O trabalho de Hans Eysenck sobre introversão e extroversão também foi influente, particularmente na área da neurociência. Suas ideias foram usadas para informar estudos sobre a função cerebral e desenvolver intervenções destinadas a ajudar pessoas com diferentes tipos de personalidade a prosperar em vários contextos sociais e profissionais. Eysenck baseou-se nas ideias de Jung, propondo que introvertidos e extrovertidos diferem em seus níveis de excitação cortical. Sugeriu que os introvertidos têm um nível naturalmente alto de excitação, o que significa que são mais sensíveis a estímulos externos e são facilmente dominados por muita interação social. Os extrovertidos, por outro lado, têm um nível mais baixo de excitação, o que significa que precisam de mais estímulo para se sentirem engajados e energizados.

Diferenças psicológicas, sociais e neurológicas

Psicologicamente, os introvertidos tendem a ter um mundo interior rico, preferindo a solidão e a introspecção à socialização ou a gastar conversa fora. Ambientes lotados ou barulhentos podem ser percebidos opressores e desgastantes. Em contraste, os extrovertidos florescem em situações sociais, encontrando energia e estímulo na interação com os outros. Eles tendem a ficar entediados ou inquietos quando ficam sozinhos por muito tempo.

Socialmente, os introvertidos podem ter dificuldade em falar em público, assertividade e a formar redes sociais. Em contrapartida, os extrovertidos podem se destacar nessas áreas. No entanto, os introvertidos podem ser grandes ouvintes e pensadores, muitas vezes mostrando consideração e sensibilidade em suas interações com os outros. Os extrovertidos, por sua vez, tendem a ser líderes, comunicadores e networkers naturais, com talento para persuasão e influência social.

As diferenças neurológicas entre introvertidos e extrovertidos foram estudadas extensivamente. Pesquisas apontam que eles têm diferentes padrões de atividade cerebral, com diferentes níveis de atividade nos sistemas de recompensa e excitação do cérebro. Os introvertidos tendem a ser mais sensíveis à estimulação sensorial e requerem menos estimulação externa para atingir seu nível ideal de excitação cortical. Os introvertidos tendem a ter mais atividade no córtex frontal, que está associado à introspecção e à resolução de problemas, enquanto os extrovertidos têm mais atividade na amígdala, que está associada ao processamento de emoções e estímulos sociais.

Tipos de Introversão

Os introvertidos costumam ser considerados pessoas tímidas e socialmente ansiosas que estão sempre sonhando acordadas ou quietas. No entanto, há muito mais na introversão. Na verdade, uma pesquisa recente (Grimes et al. 2011) aponta que existem quatro tipos diferentes de introvertidos. Esses tipos incluem introvertidos sociais, introvertidos pensantes, introvertidos ansiosos e introvertidos contidos. Cada tipo de introvertido experimenta lutas únicas.

Os introvertidos sociais são extrovertidos, mas ainda precisam de um tempo sozinhos para recarregar as energias. Até podem parecer extrovertidos quando estão com seus amigos íntimos, mas tendem a compartilhar pouco sobre si mesmos com outras pessoas. Lutam para se sentir emocionalmente esgotados se ficarem fora por muito tempo, mesmo que estejam se divertindo.

Os introvertidos pensantes são sonhadores que gostam de passar o tempo em seu próprio mundinho. Muitos acham que são indiferentes aos outros porque estão perdidos em seus próprios pensamentos. Porém, a realidade é bem mais complexa, porque se limitam em expressar suas conclusões e opiniões. Eles têm um processo de pensamento único e preferem experimentar seus pensamentos em vez de explicá-los aos outros. Isso torna difícil para as pessoas se conectarem com eles.

Os introvertidos ansiosos, também conhecidos como introvertidos tímidos, muitas vezes repassam encontros sociais em suas cabeças e ruminam sobre seu comportamento. Eles anseiam por solidão, mesmo perto de amigos íntimos. Eles se sentem desconfortáveis em situações sociais novas ou grandes e podem desenvolver transtorno de ansiedade social em casos extremos. Eles passam dificuldades com as pessoas que confundem sua aversão a situações sociais com grosseria.

Os introvertidos contidos são reservados, pensativos e não gostam de mudanças. Eles preferem ficar sozinhos e, se saírem, precisam de amplo aviso antecipado. Eles prosperam em sua rotina e acham difícil colocar a mente e o corpo em movimento logo após acordar. Eles lutam em lidar com as pessoas, forçando-os a se socializar e se sentindo apressados em situações de proximidade social.

Desafios para os introvertidos

Os introvertidos enfrentam lutas únicas em um mundo que muitas vezes valoriza a extroversão em detrimento da introversão. De serem percebidos como tímidos a serem instruídos a falar mais ou lidar com conversa fiada, os introvertidos geralmente se sentem estranhos. Eles vão achar difícil participar de eventos sociais, fazer contatos ou trabalhar em equipes. Sair com os amigos, mesmo gostando deles, pode ser algo que suga as energias.

Em um mundo onde a diversidade é cada vez mais um valor a ser cobiçado, é tempo de reconhecer o papel e respeitar (a distância) dos introvertidos. Nada de destacá-los no meio da sala de aula ou forçá-los a se apresentar diante de plateias. Reconhecer que muitos trabalham melhor sozinho e remotamente é outra coisa a ser mudada. Também é de se aproveitar a liderança silenciosa de introvertidos e direcioná-los a comunicar efetivamente.

Por isso, entender seu tipo de personalidade pode ajudar os introvertidos a comunicar suas necessidades e fortalecer os relacionamentos interpessoais.

SAIBA MAIS

Beebe, John. “Extraversion-Introversion (Jung’s Theory).” In Encyclopedia of Personality and Individual Differences, 1522-525. Cham: Springer International Publishing, 2020.

Grimes, J. O., J. M. Cheek, and J. K. Norem. “Four meanings of introversion: Social, thinking, anxious, and inhibited introversion.” annual meeting of the Society for Personality and Social Psychology, San Antonio, TX. 2011.

Eysenck, Sybil B. G., Hans J. Eysenck. “The Personality of Judges as a Factor in the Validity of Their Judgments of Extraversion-Introversion.” British Journal of Social and Clinical Psychology 3, no. 2 (1964): 141-44.

Vigdel, Hans Eskil. Ingen introverte i himmelen: Om å gi plass til kreativitet og den gode individualismen. Lunde forlag, 2019.

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