Cientistas e migrantes na Independência do Brasil

Dona Leopoldina e José Bonifácio, tela de Georgina de Albuquerque (1922)

É devido o crédito a duas pessoas – ambos cientistas e com experiência na vida migrante – na independência do Brasil.

A imperatriz  D. Leopoldina (1797 — 1826) foi uma naturalista, migrante e articulada política. Seria a primeira mulher chefe de Estado nas Américas na modernidade. A austríaca construiu no Brasil seu lar. Além de seu trabalho de campo nos arredores do Rio de Janeiro, patrocinou as expedições científicas que visavam descrever e mapear a fauna, flora e recursos minerais do Brasil.

José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), o conselheiro de estado, também era cientista – a mineralogia era sua paixão – e tinha passado a experiência de migração pelos anos em trânsito na Europa. Deixou tão boa impressão no mundo acadêmico escandinavo (estudou em Uppsala) que a andradita, mineral identificado por ele, mais tarde receberia essa nomenclatura em sua homenagem. Apesar de todo sucesso e ter enfrentado a invasão francesa em Portugal, era um retornado. Preferia acreditar no Brasil.

Sob as pressões de militares nas províncias do norte. Dona Leopoldina não se intimidou. Deixou passar em branco o aniversário da autoritária e colonialista “Revolução” do Porto de 1820, que de liberal só o era para os interesses das elites da metrópole. Mas a ameaça de golpe era real.

Em Portugal, as Cortes exigiam o retorno do príncipe D. Pedro para Lisboa. Adicionalmente, planejavam implantar juntas de governo alinhadas em todas as províncias. Depois de cinco anos de estatuto de igualdade, o reino do Brasil seria dissolvido. A partir disso, um novo governo seria nomeado por Lisboa. Para executar esses planos, em Portugal as forças militares estavam sendo preparadas para dar um golpe no Brasil.

Cientes da ameaça, Dona Leopoldina e José Bonifácio convocaram o Conselho de Estado e no dia 2 de setembro decidiram pela independência do Brasil.

Como cientistas preocupados em compreender o potencial natural do país, Dona Leopoldina e José Bonifácio tinham a segurança de que a nação possuía recursos para crescer sozinho. O raciocínio arguto refinado pela vida científica permitia fazer um cálculo refinado para a aposta política. A experiência migrante favorecia contrastar entre o que éramos e o que podíamos ser. Essa experiência também afetava a mentalidade anti-colonial. Se o Brasil fosse tratado como um subalterno no cenário das nações, seria sempre subordinado a outros interesses estrangeiros. A constituição de um lar nacional, um canto que como migrante se sinta seu, é uma das prioridades de pessoas que passam por essa experiência.

D. Pedro estava em viagem pela província de São Paulo. Como regente, Dona Leopoldina tinha sua confiança para tomar decisões, cabendo-lhe ratificar posteriormente seus atos.

Meio às desinformações e intrigas palacianas, D. Pedro deu crédito à sua esposa e ao leal José Bonifácio. Em um pousio de tropas às margens do riacho do Ipiranga recebeu a carta do Rio de Janeiro. Diante da ameaça, aceitou o que de fato já tinha sido feito: a independência do Brasil.

Ainda no desenrolar dos eventos que garantiram a independência, Dona Leopoldina e José Bonifácio articularam para uma transição que evitasse guerras (ainda que ocorressem regionalmente) e mantivesse a nação unida. No entanto, surpreende que a independência da maior nação da América da época tenha sido decidida não por militares, mas por dois cientistas e migrantes.

SAIBA MAIS

Rezzutti, Paulo. D. Leopoldina: a história não contada: a mulher que arquitetou a independência do Brasil. Leya, 2017. Um tratamento popular.

2 comentários em “Cientistas e migrantes na Independência do Brasil

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