Pascal sobre a justiça

Blaise Pascal

É perigoso dizer ao povo que as leis não são justas, pois ele só as obedece porque acredita que sejam justas.

É por isso que é preciso dizer-lhe ao mesmo tempo que é necessário obedecer a elas porque são leis, como é preciso obedecer aos superiores não por serem justos, mas por serem superiores.
Assim qualquer sedição fica prevenida, se se puder fazer entende isso e que (essa é) propriamente a definição de justiça.

É justo que o que é justo seja seguido; é necessário que o que é o mais forte seja seguido.
A justiça sem força é impotente. A força sem justiça é tirânica.
A justiça sem força é contestada, porque há sempre os maus.
A força sem a justiça é condenada.
Deve-se, pois, juntar a justiça e a força.
E para isso fazer que o que é justo seja forte e o que é forte seja justo.

A justiça está sujeita a discussão. A força é bem reconhecível e sem discussão. Assim, não foi possível dar força à justiça, porque a força contradisse a justiça e disse que ela era injusta; e disse que era ela, a força, que era justa.
E assim, não podendo fazer com que o que é justo fosse forte, fez-se com que o que é forte fosse justo.

Não podendo fazer com que fosse forçoso obedecer à justiça, fez-se como que fosse justo obedecer à força.
Não se podendo fortificar a justiça, justificou-se a força.

Blaise Pascal Pensamentos 66 (326); 103 (298); 81(299)

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