Os predecessores de Sir William Jones nos estudos Indo-Europeus

A descoberta das relações entre as línguas indo-europeias é um marco fundamental na história da linguística. Embora Sir William Jones seja frequentemente creditado como o pioneiro dessa área, seu célebre discurso de 1786 na verdade se baseou em observações e hipóteses formuladas por diversos estudiosos que o precederam. Vários intelectuais, ao longo dos séculos, perceberam semelhanças notáveis entre as línguas indo-europeias, especialmente entre o grego, o latim, o sânscrito e as línguas germânicas.

Um dos primeiros a registrar essas observações foi Filippo Sassetti, um mercador e erudito italiano que viajou para a Índia em 1585. Sassetti notou paralelos surpreendentes entre o sânscrito e o italiano. Listou exemplos como as palavras “deva” (que significa “deus” em sânscrito) e “Dio” (que significa “Deus” em italiano), e “sapta” (que significa “sete” em sânscrito) e “sette” (que significa “sete” em italiano). Apesar da acuracidade de suas observações, elas não foram amplamente conhecidas na época.

No século XVII, Marcus Zuerius van Boxhorn, um erudito holandês, deu um passo significativo ao propor, em 1647, a existência de um ancestral comum para várias línguas europeias e asiáticas. Essa família linguística hipotética incluía o grego, o latim, o persa e as línguas germânicas. Van Boxhorn denominou esse proto-idioma de “cita”, uma designação que, embora curiosa e remetesse a um povo nômade que habitou uma das regiões prováveis da origens do indoeuropeu, não ganhou aceitação.

Gaston-Laurent Coeurdoux foi um missionário jesuíta francês que atuou na Índia a partir de 1767. Lá, realizou uma comparação sistemática entre o sânscrito, o latim e o grego. Coeurdoux identificou semelhanças tanto gramaticais quanto lexicais entre essas línguas. Enviou suas descobertas à Academia Francesa de Ciências, mas não foram amplamente publicadas, limitando seu impacto.

O intelectual escocês Lord Monboddo (James Burnett) também contribuiu para a compreensão das relações linguísticas indo-europeias. Em sua obra monumental “Of the Origin and Progress of Language,” publicada entre 1774 e 1792, Monboddo argumentou que o sânscrito, o grego e o latim compartilhavam uma origem comum. Ele chegou a sugerir que o sânscrito poderia ser ainda mais antigo que o grego e o latim, uma ideia que antecipava debates posteriores sobre a cronologia das línguas indo-europeias. Monboddo conhecia pessoalmente Sir William Jones e é possível que suas ideias tenham influenciado o pensamento de Jones.

Outros estudiosos europeus, como Benjamin Schulze (em 1725) e Jean-François Pons (em 1743), também fizeram observações importantes sobre as semelhanças estruturais entre o sânscrito e as línguas europeias. No entanto, suas observações eram preliminares e careciam de uma estrutura sistemática para organizá-las e interpretá-las.

Finalmente, Andreas Jäger, um erudito alemão que viveu no século XVII, formulou a hipótese de uma língua antiga (“cita”) como a fonte de muitas línguas europeias e asiáticas. Embora suas ideias fossem em grande parte especulativas, elas prenunciaram o trabalho posterior na linguística comparativa.

Apesar das contribuições significativas desses estudiosos anteriores, Sir William Jones é amplamente considerado o nome fundamental no estabelecimento da linguística indo-europeia. Isso se deve ao fato de que, em seu discurso de 1786, Jones foi o primeiro a articular claramente a ideia de uma língua ancestral comum (que mais tarde seria chamada de Proto-Indo-Europeu), a comparar sistematicamente a gramática (e não apenas o vocabulário) entre as línguas e a propor um modelo de família linguística que se tornou a base para a linguística histórica indo-europeia. Portanto, embora Jones não tenha sido o primeiro a perceber as conexões entre essas línguas, seu discurso de 1786 marcou o início formal do campo da linguística comparativa indo-europeia.

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