Francis Fukuyama (Chicago, 1952) é um cientista político e filósofo norte-americano. Seu trabalho é reconhecido por suas análises sobre democracia, governança e a evolução dos sistemas políticos, abrangendo teoria política, relações internacionais e filosofia da história.
O Pensador Descendente de japoneses, Francis Fukuyama formou-se em estudos clássicos na Universidade Cornell e concluiu o doutorado em ciência política na Universidade Harvard, orientado por Samuel P. Huntington. Antes de se fixar como pesquisador sênior na Universidade Stanford, trabalhou no Departamento de Estado dos EUA e lecionou em instituições como a George Mason University e a Johns Hopkins University. Seu pensamento ganhou notoriedade global no contexto do colapso da União Soviética e do aparente triunfo das democracias liberais ocidentais no final da Guerra Fria.
O Fim da História Fukuyama tornou-se uma figura proeminente com seu ensaio de 1989, posteriormente expandido no livro O Fim da História e o Último Homem (1992). Nele, argumentou que a democracia liberal representaria o “ponto final da evolução ideológica da humanidade”. Influenciado por Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Alexandre Kojève, Fukuyama sustentou que a democracia liberal, articulada com o capitalismo de livre mercado, havia emergido vitoriosa como a forma final e mais satisfatória de governo, após o declínio do comunismo e de outras ideologias totalitárias. Críticas e revisões posteriores levaram Fukuyama a matizar sua tese. Reconheceu que, embora a democracia liberal possa constituir um ideal, ela enfrenta desafios significativos, como o ressurgimento de regimes autoritários, o aumento da desigualdade socioeconômica e a ascensão de movimentos populistas. A emergência da China como potência global e as crises internas nas democracias ocidentais levaram-no a refinar seu argumento, esclarecendo que a história não havia “terminado” em um sentido literal, mas que a democracia liberal continuava sendo o sistema político mais evoluído e desejável.
Ordem Política e Decadência Política Na obra Ordem Política e Decadência Política (2014), Fukuyama investiga os elementos constitutivos de um Estado estável e funcional. Identifica três pilares fundamentais: um Estado forte, caracterizado por uma burocracia eficaz e pela capacidade de fazer cumprir as leis; o primado do direito (Rule of Law), que assegura um sistema legal imparcial e universalmente aplicado; e um governo responsável e democrático (Accountable Government), que garante a participação cidadã e a prestação de contas. Fukuyama argumenta que a ausência ou a fragilidade desses pilares, ou a corrupção das instituições, conduz à decadência política. Este fenômeno pode afetar tanto nações em desenvolvimento, através do clientelismo e da má governança, quanto democracias estabelecidas, manifestando-se, por exemplo, na polarização política e na paralisia decisória observadas nos Estados Unidos.
A Importância da Confiança e do Capital Social Em Confiança: As Virtudes Sociais e a Criação da Prosperidade (1995), Fukuyama explora a relação entre cultura e desenvolvimento econômico. Defende que sociedades com alto índice de confiança interpessoal e forte capital social – como, segundo sua análise, Alemanha e Japão – tendem a desenvolver economias mais dinâmicas e instituições mais sólidas. Em contraste, sociedades caracterizadas pela baixa confiança, que ele identificou em algumas nações da América Latina e da África, enfrentariam maiores obstáculos à cooperação, à eficiência administrativa e ao combate à corrupção, dificultando a governança e o progresso econômico.
Política de Identidade e os Desafios da Democracia Liberal No livro Identidade: A Exigência de Dignidade e a Política do Ressentimento (2018), Fukuyama aborda os perigos que a política de identidade, focada em grupos específicos, pode representar para a coesão social e a estabilidade das democracias liberais. Argumenta que, embora as demandas por reconhecimento e dignidade sejam legítimas, a fragmentação excessiva da sociedade em identidades grupais baseadas em ressentimento pode minar o senso de propósito comum e a solidariedade nacional. Para Fukuyama, a democracia liberal precisa encontrar um equilíbrio entre a proteção dos direitos individuais e o cultivo de uma identidade nacional compartilhada e inclusiva.
Crítica ao Neoconservadorismo e Política Externa Embora inicialmente associado a correntes neoconservadoras e tendo apoiado a intervenção no Iraque em 2003, Fukuyama distanciou-se posteriormente dessas posições. Passou a criticar o que considerou um excessivo intervencionismo militar na política externa norte-americana e a defender uma abordagem mais realista e cautelosa para a promoção da democracia, com ênfase na construção paciente de instituições e no desenvolvimento de longo prazo, em vez de imposições externas de mudança de regime.
Biotecnologia e o Futuro da Humanidade Em Nosso Futuro Pós-Humano: Consequências da Revolução Biotecnológica (2002), Fukuyama manifesta preocupações éticas sobre os avanços da biotecnologia. Alerta que tecnologias como a engenharia genética e o desenvolvimento de inteligência artificial avançada poderiam, potencialmente, alterar a natureza humana fundamental e minar o princípio da igualdade sobre o qual se assentam os valores democráticos. Defende a necessidade de regulação e debate público para orientar o desenvolvimento tecnológico de forma a preservar a dignidade e os valores humanos.
OBRAS PRINCIPAIS (títulos originais com traduções conhecidas em português)
- The End of History and the Last Man (1992) (O Fim da História e o Último Homem)
- Trust: The Social Virtues and the Creation of Prosperity (1995) (Confiança: As Virtudes Sociais e a Criação da Prosperidade)
- Our Posthuman Future: Consequences of the Biotechnology Revolution (2002) (Nosso Futuro Pós-Humano: Consequências da Revolução Biotecnológica)
- State-Building: Governance and World Order in the 21st Century (2004) (Construção de Estados: Governança e Ordem Mundial no Século XXI)
- Political Order and Political Decay: From the Industrial Revolution to the Globalization of Democracy (2014) (Ordem Política e Decadência Política: Da Revolução Industrial à Globalização da Democracia)
- Identity: The Demand for Dignity and the Politics of Resentment (2018) (Identidade: A Exigência de Dignidade e a Política do Ressentimento)
- Liberalism and Its Discontents (2022) (O Liberalismo e Seus Descontentes)
SAIBA MAIS
- Perfil de Francis Fukuyama no Freeman Spogli Institute for International Studies, Universidade Stanford.
- Artigos e ensaios de Fukuyama em publicações como Foreign Affairs, The American Interest (onde foi editor), e Journal of Democracy.
- FUKUYAMA, Francis. O Fim da História e o Último Homem. Rio de Janeiro: Rocco.
- FUKUYAMA, Francis. Identidade: A Demanda por Dignidade e a Política do Ressentimento. Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil.
- FUKUYAMA, Francis. O Liberalismo e Seus Descontentes. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
(atualizado em 2019)

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