Causas do apagão aéreo no Brasil

A cena se repete: um senhor enfartando na fila, várias crianças chorando, uma delas com a fralda suja e por trocar, pessoas gritando, xingando, caras vermelhas suando pura cólera, um sujo estudante barbudo dormindo no chão, um executivo falando aos berros ao celular. O voo foi cancelado e está sem expectativas reais de sair do chão. As agentes de aeroporto estão todas descabeladas, tentando conter o ânimo dos mais exaltados e manter a própria sanidade mental.

Esta é a dantesca descrição do inferno previsto para os próximos seis anos na aviação brasileira.

A demanda de voos cresceu, hoje a classe C viaja mais e um sem número (disseram-me 10.000 a mais cada ano) de pessoas voarão pela primeira vez. Aeronaves não faltam, mas faltam coberturas de radar, renovação e ampliação de aeroportos, novos aeródromos, mão-de-obra especializada, regulamentação simples e eficiente.

O projeto SIVAM já ampliou muito a cobertura da região norte do Brasil, mas o triste incidente do voo Gol 1907 e o Legacy provou que há ainda muitas manchas cegas no espaço aéreo. Também demonstrou que o controle estatal (militar) nas torres de controle provou ser ineficiente: profissionais mau-pagos, estressados, sem qualificações (mesmo linguística, poucos falam inglês), mantidos em um regime de semi-prisão.

Pensam em construir novos aeroportos em São Paulo, folgando o já encoberto pela cidade Congonhas e o muito usado Guarulhos, mas com infraestrutura obsoleta. O emprego do Viracopos como terceira opção para a região da cidade de São Paulo se tornou a experiência mais viável pelo momento, mas não resolve todos os problemas: distância da capital, nem mesmo uma linha de ônibus servindo passageiros há, falta ainda outra pista, emperrada nos laudos de impactos ambientais.

Nos últimos anos Viracopos se tornou o “hub” da Azul e um centro logístico para o setor cargueiro, aumentando a demanda do aeroporto imensamente, mas sem investimento da INFRAERO (“infrazero” no jargão dos aeronautas) em ampliação. Imagino se construir o Trem de Alta Velocidade, como serão as coisas…

Outro problema que percebi é a falta de investimento na formação do aeronauta. Como querem ser supridos com mão-de-obra qualificada sem não há linhas de créditos para a educação de pilotos, mecânicos, comissários ou controladores de voos?  Os estudos de um piloto custa em média R$80 mil e gosto pensar que estou viajando em um avião pilotado por gente qualificada. É nossa vida que está em risco. Recentemente a ANAC iniciou um processo de bolsas para piloto, mas os requerimentos são muitos, a necessidade grande e a grana pouca. Creio que deveria ter uma cooperação das grandes companhias aéreas, principais usuárias deste tipo de profissionais, para financiar suas formações.

Ampliar a participação da iniciativa privada, como desestatizar a INFRAERO, investir em pessoas e infraestruturas, garantiria uma solução permanente ao sistema aéreo brasileiro e crescer nossa economia com segurança.

Se todos os setores envolvidos (governo, agências reguladoras e operadoras, companhias aéreas) já sabiam desta espada de Dâmocles, porque não garantiram uma solução?

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