
Em um mundo de crescente automação e processos simplificados, há algo cativante nas engenhocas desnecessariamente complexas, mas inegavelmente hipnotizantes. As máquinas de Rube Goldberg, nomeadas em homenagem ao criativo engenheiro que virou cartunista Rube Goldberg (1883-1970), incorporam esse encanto. Esses intrincados dispositivos usam uma série de reações em cadeia para realizar uma tarefa simples.
O engenhoso Rube Goldberg virou cartunista por um acaso. Originalmente um engenheiro que se formou na UC Berkeley em 1904, começou a desenhar quando encontrou um emprego como cartunista esportivo do San Francisco Chronicle, apesar de sua formação superficial em artes. Para espanto seu, as ilustrações caprichosas logo ganharam distribuição nacional, coincidindo com sucesso na era de ouro dos desenhos animados. Por essa razão, vários de seus conceitos foram incorporados em séries como Tom & Jerry.

O nascimento das máquinas de Rube Goldberg remonta às ilustrações mecânicas de reação em cadeia de Goldberg. Sua primeira criação notável, a “Máquina de Redução de Peso Automática”, foi revelada em 1914, prendendo os leitores com seu design complicado. Mais reconhecimento veio em 1921, quando Marcel Duchamp, uma figura influente da vanguarda, publicou alguns dos designs de Goldberg no New York Dada. Mais tarde sua série quinzenal no Collier’s Weekly de 1929 a 1931, intitulada “As invenções do professor Lucifer G. Butts”, fez de seus cartuns uma publicação esperada a cada semana.
O professor Butts, uma paródia de um professor de engenharia de Berkeley, alimentou a criatividade de Goldberg. A série apresentava uma variedade de dispositivos fantásticos, incluindo engenhocas projetadas para pesar o próprio mundo. Os desenhos de Goldberg borraram a distinção entre homem e máquina, muitas vezes incorporando pessoas e animais no processo mecânico. Essa fusão de humanidade e invenção acrescentou um elemento de humor às suas criações, bem como uma velada crítica da interação humano-máquina que hoje chamaríamos de transhumanismo.

Uma das conexões mais icônicas com as máquinas de Rube Goldberg aparece no filme de Charlie Chaplin de 1936, Tempos Modernos. Goldberg e Chaplin eram amigos, e Chaplin até incorporou uma invenção inspirada em Goldberg em seu filme. A infame “Billows Feeding Machine” era uma engenhoca que visava eliminar as pausas para o almoço, aumentar a produtividade e diminuir os custos indiretos. No entanto, como esperado com as máquinas de Rube Goldberg, o dispositivo apresentou um mau funcionamento caótico.
A brincadeira virou coisa séria. A Universidade de Purdue, em Indiana, realiza anualmente o Concurso Nacional de Máquinas Rube Goldberg, com outras competições seguindo pelo mundo.
Em um mundo que muitas vezes prioriza eficiência e praticidade, esses dispositivos extravagantes nos lembram da alegria encontrada no processo e não no produto.
Talvez, o atrativo das máquinas Rube Goldberg seja sua abordagem multidisciplinar para a solução de problemas. Elas misturam elementos de engenharia, física, arte e narrativa em uma harmoniosa sinfonia de invenção. Observando as complexidades dessas máquinas, pode-se apreciar a fusão de perícia técnica e talento artístico.
Também fascina por ser uma cadeia linear de ações e reações. Apesar da aparência de complicação desnecessária, na realidade uma máquina de Rube Goldberg é de fato como uma sequência simples, embora longa. Cada etapa da máquina é relativamente direta e o resultado geral é obtido por meio de uma série de relações de causa e efeito, sem múltiplos fatores agindo em cada fase como em sistemas complexos.
Além de seu apelo estético, as máquinas Rube Goldberg oferecem uma oportunidade de introspecção. Elas nos lembram que a inovação pode surgir do pensamento não convencional e que a criatividade não se mantém dentro de fronteiras. Essas máquinas lembram-nos das complexidades de nossas próprias vidas, incitando-nos a abraçar a beleza da complexidade em vez de focar apenas na eficiência.
SAIBA MAIS
George, Jennifer. The Art of Rube Goldberg: (A) Inventive (B) Cartoon (C) Genius. New York: Abrams ComicArts, 2013.
Goldberg, Rube. The Rube Goldberg Plan for the Post-War World. New York: N.Y. F. Watts, Inc., 1944.
Goldberg, Rube and Philip Garner. Rube Goldberg: A Retrospective. New York: Delilah Communications, 1983.
Goldberg, Rube and Charles Keller. The Best of Rube Goldberg. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall Inc., 1979.
Wolfe, Maynard Frank and Rube Goldberg. Rube Goldberg: Inventions. New York: Simon & Schuster, 2000.

Excelente artigo !
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