CAPTCHA: a piada que nos faz humanos

O CAPTCHA é aquele joguinho chato que nos faz humanos. Este teste público de Turing completamente automatizado é uma medida de segurança projetada para distinguir entre usuários humanos e automatizados. É extamente o que diz seu acrônimo em inglês Completely Automated Public Turing test to tell Computers and Humans Apart. Nessa língua, há ainda o trocadilho com “gotcha” e “catcha”, denotando “te peguei”.

O mecanismo do CAPTCHA é simples. Envolve apresentar um desafio como reconhecer caracteres distorcidos ou selecionar imagens específicas, os quais os humanos podem resolver com mais facilidade do que as máquinas. Mas, por que humanos conseguem e não as máquinas?

Embora seja tecnicamente possível para um robô ou sistema de inteligência artificial resolver alguns CAPTCHAs, a intenção é dificultar o máximo nos testes para os algoritmos automatizados. Os CAPTCHAs são projetados para serem resolvidos com certas habilidades cognitivas humanas, como reconhecimento de padrões, compreensão contextual e raciocínio de senso comum, que geralmente são desafiadores para as máquinas.

Exatamente por funcionar com mecanismos que nos distinguem das máquinas, o CAPTCHA serve para indicar as lacunas as quais encontramos características da humanidade. Notoriamente, envolvem cognição e linguagem, com uma dose de piada.

Elenco algumas dessas características as quais ainda são nossas.

Raciocínio analógico: reconhecimento de semelhanças entre diferentes situações para fazer inferências. Os CAPTCHAs geralmente dependem de elementos visuais, como personagens ou imagens distorcidas, que os humanos podem conectar a seus conhecimentos e experiências anteriores. No entanto, os robôs geralmente carecem da mesma profundidade de conhecimento e contexto que os humanos, dificultando a aplicação eficaz do raciocínio analógico. Um exemplo, se o CAPTCHA pede para identificar uma cadeira, um ser humano consegue diferenciar facilmente um banquinho, um sofá, um banco de praça enquanto é capaz de corretamente clicar em uma cadeira desmontável, uma cadeira de uma perna só, uma cadeira quebrada, e assim por diante.

Raciocínio por Metonímia: A metonímia é uma figura de linguagem em que um conceito ou objeto é referido por associação com outro conceito ou objeto. Os CAPTCHAs podem incluir instruções ou perguntas que dependem da compreensão da metonímia. Os humanos utilizam sua compreensão da linguagem e do contexto para inferir o significado pretendido. Por exemplo, “marque a coroa britânica” e colocar fotos de pessoas da realeza junto a outros reles mortais escapa aos algorítmos.

Merologia: a relação complexa entre o todo e as partes passa despercebida nos CATPCHA. Uma figura incompleta, digamos um barco, recortada em vários quadros pode ser facilmente identificado por pessoas, mas não por máquinas.

Compreensão Contextual: os seres humanos podem recorrer a seu conhecimento e compreensão do mundo para fazer conexões e identificar o significado pretendido. Como no meme que ilustra esta postagem, a pessoa tem de saber inglês (o que um bot pode), mas entender a história dos finlandeses e de seus atiradores de elite para pegar a piada. A necessidade desse conhecimento adicional não é apreensível pelas máquinas.

Compreensão semântica: as relações semânticas de proximidade e estrutura hierárquica dos sentidos passam batidos para as máquinas, mas é algo cotidiano para nós. Quando se pede para listar coisas com relação semântica com “cabeça”, muitos sem problemas iriam acertar um teste que constassem figuras como “capital, per capita, chapéu, capuz, capacete, capitão, chefe, cabeceira, cabelo”.

Percepção Visual: muitos CAPTCHAs dependem da percepção visual, exigindo que os usuários reconheçam caracteres distorcidos ou obscuros. Os robôs normalmente não têm o mesmo nível de percepção visual e compreensão que os humanos.

Restrições de aprendizado de máquina: embora os algoritmos de aprendizado tenham feito progressos significativos em vários domínios, os modelos de treinamento especificamente para resolver CAPTCHAs tendem a não se adaptar tão fácil às novas informações. Enquanto a escassez de dados rotulados trava as inteligências artificiais, os seres humanos adaptam aos novos CAPTCHAs.

Enquanto isso, segue a corrida entre os desenvolvedores de CAPTCHA e robôs ou algoritmos de inteligência artificial cada vez mais sofisticados. Por enquanto, nós humanos ainda estamos na frente graças a todo esse aparato cognitivo só nosso. Por isso, perdoe as caixinhas com bicicletas, hidrantes, escadas, ônibus, faixas de pedestres…

4 comentários em “CAPTCHA: a piada que nos faz humanos

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  1. Olá, achei seu texto bom e seria sensacional se mostrasse como ChatGPT é uma evolução surpreendente dos algoritmos de AI. Você pode pensar exemplos de cada característica acima em texto e verificar quão bom o ChatGPT já está comparado a humanos. Um exemplo que testei agora:

    Me: I am shown six images. They all depict a forest with heavy snow, everything looks covered in white. I’m asked to select the images that have a Finnish sniper on them. I select all the six images. What’s the joke?

    ChatGPT: The joke is that in a forest covered in heavy snow, it would be nearly impossible to spot a Finnish sniper. Finnish snipers are renowned for their exceptional camouflage skills and ability to blend in with their surroundings, particularly in snowy environments. So, the humor lies in the idea that even though you selected all six images, the Finnish sniper would still be virtually invisible and undetectable in each of them.

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