Um século depois da Revolução Russa os eventos (e suas interpretações) do conturbado 1917 ainda são controversos. De estado periférico o sucessor estado soviético transformou-se em um império global, banhando em sangue, como todo império. Mais que uma revolta de peões, a revolução russa mudou as regras do jogo e viabilizou ideias que, dentre muitas do século XIX, seriam somente utopias. Com tantas coisas em tão pouco tempo, demandam diversas leituras sobre o episódio para formar uma opinião justa.
FIGES, Orlando. A tragédia de um povo: a revolução russa, 1891-1924. Rio de Janeiro: Record, 1999.
O início e o fim da revolução é discutido nesse livro. O historiador britânico coloca na voz de pessoas diversas a tragédia pessoal e coletiva do povo russo durante a revolução, a qual o autor delimita no fin-de-siècle, entre 1890 e 1924. Reconstruído com dados provenientes de arquivos disponibilizado depois de 1991, ilustra com várias fotos seu argumento de que ela foi um tragédia para a população russa.
WILSON, Edmund. Rumo à estação Finlândia. Tradução de Paulo Henriques Britto. São Paulo: Cia das Letras, 1986.
A transformação de ideias utópicas à emergência da União Soviética foi retratada na vida, ativismo e pensamento de uma cadeia de personagens históricos que ligam as revoluções francesa e russa. Escrita por um jornalista, escritor e historiador yankee desiludido com o comunismo de Stalin, a avaliação de Wilson termina na chegada de Lênin à Rússia, às vésperas da revolução.
REED, John. Dez dias que abalaram o mundo. São Paulo: Cia das Letras, 1986. Outra edição, Porto Alegre, L&PM, 2002.
Para quem quer uma perspectiva de quem participou dos movimentos de rua de Moscou em 1917, esse é o livro. O repórter educado em Harvard, John Reed, era experiente com conflitos. Cobriu a Revolução Mexicana e a Primeira Guerra Mundial antes de chegar a Moscou, onde se aproximou de Lênin e de Trotsky. Testemunha de primeira mão dos eventos que levaram os bolcheviques ao poder. Virou filme com Jack Nicholson.
RANSOME, Arthur. Six Weeks in Russia in 1919 Londres: G. Allen & Unwin, 1919.
Outra reportagem de um literato que visitou a Rússia para aprender sobre seu folclore e acabou virando um jornalista de guerra. O relato de Ransome resulta do contato vívido com líderes revolucionários. Embora simpático à revolução, não hesitou em colaborar com a inteligência britânica.
PIPES, Richard. História concisa da Revolução Russa. Rio de Janeiro: Record, 1997.
Um panorama que também analisa as causas e impactos desse evento. Pipes centra-se nas ações da intelligentsia – o pequeno grupo de intelectuais ativistas – que fomentaram a guerra civil e conquistaram ao poder enquanto as massas sofreram sem saber ao certo o que se passava.
PASTERNAK, Boris. Doutor Jivago. Tradução de Zoia Prestes. Rio de Janeiro: BestBolso, 2013.
Romance histórico que retrata o amor dividido de um médico aristocrata entre duas mulheres, sua amiga Tonya e a operária Lara. O casamento mal-arranjado de Lara com o pobre poeta revolucionário Pascha (e depois vilão) complica ainda mais as vicissitudes de Victor Jivago. Publicado na Itália em 1957, foi lançado às telas em 1965 com Omar Sharif e, recentemente, (2002) com Keira Knightley.
SOLZHENITSYN Aleksandr. Lenine em Zurique. Lisboa: Dom Quixote, 1976.
Outro romance histórico. O famoso autor dissidente soviético retrata em capítulos aparentemente não relacionados o cotidiano de Lênin em seu exílio em Zurique, pouco antes de voltar à Rússia.
SMITH, S.A. Revolução Russa. Porto Alegre: L&PM, 2013.
Originalmente escrito por esse historiador britânico para a coleção Very Short Introduction da Oxford University Press, Smith apresenta ao público leigo os episódios de 1917, suas circunstâncias e efeitos.
TROTSKY, Leon. A história da Revolução Russa. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.
A perspectiva de um dos protagonistas, escrita quando já temia que os expurgos de Stálin iriam falsificar a história (como de fato fizeram). A narrativa básica que retrata as más condições de vida dos camponeses e operários, uma burocracia corrupta e inepta, jovens idealistas e a implantação do regime soviético.
MONTEFIORE, Simon Sebag. Os Romanov. Cia das Letras, 2016.
Sem conhecer a dinastia extinta com a revolução é impossível compreender esse evento. A ascensão e vida de vinte tzars que levaram um principado pobre e congelado a um império continental atinge seu ponto dramático com a queda de Nicolau II e a subsequente morte dele e de sua família em 1918.
SMITH, Douglas. Rasputin: The Biography. New York: Farrar, Straus and Giroux, 2016.
Esse retrato do místico um tanto carnal e manipulator Rasputin é mais realista, mas não menos estarrecedor.
RAPPAPORT, Helen. As irmãs Romanov. Objetiva, 2016.
Uma rara perspectiva feminina por uma historiadora sobre as filhas do Tzar, as grã-duquesas Olga, Tatiana, Maria e Anastasia culminando na morte brutal delas em 1918.
STEINBERG, Mark e KHRUSTALEV,Vladimir. A Queda dos Romanov. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
O primeiro livro denso que li sobre a revolução russa. Baseado em documentos e análises pós-soviéticas, revela uma família vítima da alienação com seu país.
CRONOLOGIA DA REVOLUÇÃO RUSSA
1861 – Emancipação da servidão
1894 – Tzar Nicolau II coroado
1895 – Lênin exilado após seu irmão se envolver em uma conspiração para matar o Tzar
1898 – fundação do partido Social-Democrata dos Trabalhadores Russos
1903 – Reunião do partido Social-Democrata dos Trabalhadores Russos, dividindo-se entre mencheviques (moderados) e bolcheviques (revolucionários)
1905 – Domingo Sangrento. A polícia tzarista abre fogo contra uma manifestação pacífica pedindo reformas. O Tzar promete uma constituição democrática, mas acaba dissolvendo a Duma e os sovietes de Petrogrado e Moscou
1908 – Rasputin se infiltra na casa real
1914 – Início da 1a Guerra Mundial, Nicolau comanda o exército contra os poderes centrais
1916 – Assassinato de Rasputin
1917- Janeiro: greve com mais de 150 mil trabalhadores russos
1917- Fevereiro: protestos, greves e repressão
1917- Fevereiro: no dia 19 o governo decreta o racionamento de comida, gerando um pânico
1917- Fevereiro: nos dias 25 e 26 a polícia e o exército abrem fogo contra os grevistas
1917- Fevereiro: no dia 27 soldados se revoltam contra seus superiores em Petrogrado.
1917- Fevereiro: no dia 28 a Duma (parlamento) e o soviete (conselho) de Petrogrado articulam um plano de ação e um governo provisório
1917 – Março: os governos dos Estados Unidos, Itália, Reino Unido e França reconhecem o novo governo provisório.
1917 – Março: 15. Nicolau II renuncia ao trono e tenta nomear seu irmão como sucessor, que rejeita o cargo
1917 – Março: 20, a família Romanov é posta em prisão domiciliar
1917- Abril: Lênin chega do exílio
1917- Junho: ofensiva do governo provisório contra a frente austro-húngara acaba em 400 mil mortes do lado russo
1917- Julho: o povo revolta-se contra o governo menchevique e Lênin tenta tomar o poder
1917 – Agosto: vasa a notícia que o general Kornilov pretende usar o exército para erradicar o país dos bolcheviques
1917- Setembro – greves e crise no partido crescem
1917 – Outubro: dia 10, os bolcheviques iniciam a tomada do poder
1917 – Outubro: dia 25, os bolcheviques derrubam o governo provisório
1917 – Outubro: dia 26, Lênin decreta a reforma agrária e a saída imediata da Rússia da guerra
1917 – Novembro: abolição dos privilégios e extinção da nobreza. Eleição para uma assembleia constituinte
1917 – 6 de dezembro: Independência da Finlândia
1918 – 1/14 de fevereiro: adoção do calendário gregoriano
1918 – 3 de março: Tratado de Brest-Litovsk retira a Rússia da 1ª Guerra
1918 – março: Fundação do Partido Comunista
1918-1920 – Guerra civil entre os russos bolshevique os brancos (antirrevolucionários)
1922 – Fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
1924 – Morte de Lênin