O teólogo e pastor luterano alemão Martin Niemöller (1892–1984) teve uma trajetória complicada. Inicialmente um nacionalista conservador e até apoiador de algumas políticas iniciais do regime nazista, Niemöller tornou-se uma figura proeminente da Igreja Confessante (Bekennende Kirche), que se opôs à tentativa de nazificação das igrejas protestantes alemãs. Sua crescente oposição a Hitler levou à sua prisão em campos de concentração, como Sachsenhausen e Dachau, de 1938 a 1945. Essa transformação pessoal, de uma certa complacência para uma resistência que lhe custou a liberdade, confere uma verossimilhança irônica às suas palavras.
Embora por vezes atribuído erroneamente a Bertolt Brecht, o impacto do poema-confissão de Niemöller reside justamente na sua origem: a dolorosa constatação de alguém que viveu as consequências da apatia coletiva. As palavras foram proferidas com diversas variações após a Segunda Guerra Mundial, como parte de seus sermões e discursos.
A omissão, o não agir, o calar-se diante da injustiça cometida contra o outro, é o tema central. Niemöller não acusa os atos de perseguição em si – estes são o pano de fundo factual – mas sim a falha moral daqueles que, não sendo o alvo imediato, escolheram o silêncio, contribuindo para a escalada do horror.
Quando a voz de um é silenciada e os demais se omitem, a mordaça se aproxima de todos.
Primeiro, os nazistas vieram buscar os comunistas, mas, como eu não era comunista, eu me calei.
Depois, vieram buscar os judeus, mas, como eu não era judeu, eu não protestei.
Então, vieram buscar os sindicalistas, mas, como eu não era sindicalista, eu me calei.
Então, eles vieram buscar os católicos e, como eu era protestante, eu me calei.
Então, quando vieram me buscar… Já não restava ninguém para protestar.

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