O método comparativo é uma técnica fundamental na linguística histórica usada para estabelecer relações entre diferentes línguas e reconstruir a língua ancestral da qual elas se originaram, conhecida como protolíngua. Ele se baseia na comparação sistemática de línguas relacionadas, buscando identificar e analisar palavras cognatas, paralelismos gramaticais e, em recentes estudos, similaridades semânticas.
Cognatos: A chave para a reconstrução
Cognatos são palavras em diferentes línguas que compartilham uma origem comum, ou seja, descendem da mesma raiz ancestral. Um conjunto de cognatos é um grupo de palavras que apresentam semelhanças tanto na forma (som) quanto no significado.
A palavra “three” em inglês é cognata de palavras como “tri” em sânscrito, “treis” em grego, “trēs” em latim, “drei” em alemão, e assim por diante. Ao aplicar o método comparativo a esse conjunto, os linguistas podem reconstruir a forma da palavra na protolíngua indo-europeia, que seria *treyes. O asterisco indica que a forma é reconstruída e hipotética.
Distinguindo semelhanças verdadeiras de acidentais ou empréstimos
Não há uma conexão intrínseca entre a forma de uma palavra e seu significado. Isso significa que a semelhança entre palavras em diferentes línguas não é estatisticamente provável de ocorrer por acaso. Portanto, quando encontramos cognatos, eles são considerados evidência de parentesco linguístico. No entanto, é necessário distinguir semelhanças verdadeiras de semelhanças acidentais ou palavras emprestadas de outras línguas (empréstimos).
- Semelhanças Acidentais: A palavra persa moderna que soa e significa o mesmo que a palavra inglesa “bad”. Embora a semelhança seja notável, as correspondências sonoras entre o persa moderno e outras línguas indo-europeias não se repetem em um número suficiente de palavras. Isso indica que a semelhança é provavelmente acidental.
- Empréstimos: Distinguir cognatos de empréstimos é mais complexo. Uma estratégia comum é focar no vocabulário básico (palavras para conceitos fundamentais, como partes do corpo, números, fenômenos naturais), pois essa área do vocabulário é menos suscetível a empréstimos.
O Processo de Reconstrução
Dado um conjunto de cognatos, o linguista histórico reconstrói a forma da palavra na protolíngua. Esse processo envolve:
- Examinar as Correspondências Sonoras: Comparar os sons nas palavras cognatas em cada língua.
- Aplicar Estratégias de Reconstrução:
- Regra da Maioria: Reconstruir o som que ocorre no maior número de línguas comparadas.
- Regra do Realismo: Reconstruir o som que teria sofrido a mudança sonora mais comum ou natural.
- Considerar a Estrutura Linguística: Se houver análises alternativas, escolher a que for mais consistente com a estrutura geral da língua.
- Aplicar a Navalha de Occam: Preferir a análise mais simples e direta.
- Especificar as Mudanças Sonoras: Após reconstruir a forma da protolíngua, determinar as mudanças sonoras que ocorreram em cada língua filha para chegar à forma atual das palavras.
- Verificar a Regularidade: Confirmar se as mudanças sonoras propostas ocorreram de forma consistente em todo o conjunto de cognatos.
Paleontologia Linguística
Além de reconstruir línguas, a linguística histórica também pode ser usada para obter informações sobre a cultura, sociedade e localização geográfica dos falantes da protolíngua.
A paleontologia ou arqueologia linguística usa itens lexicais reconstruídos para inferir aspectos da vida dos povos antigos. A evidência linguística sugere que os falantes do proto-indo-europeu eram agricultores, conheciam a família, criavam animais, usavam veículos com rodas, sabiam contar, viviam em pequenas aldeias e acreditavam em vários deuses.
A localização original dos indo-europeus é sugerida como uma área da Europa Central e Ocidental onde as árvores de faia e bétula coexistiam. Da mesma forma, o sistema de parentesco proto-atabascano sugere práticas culturais como casamento entre primos cruzados bilaterais, troca de irmãs e poliginia sororal.


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