O rigor e validade metodológicos nas ciências sociais são temas que sempre assombraram a filósofos da ciências e cientistas sociais. O pesquisador das ciências naturais, as quais são focadas em estabelecer causa e efeito ou correlações, sente menos a dificuldade de estudar sujeitos que respondem reflexivamente ao investigador, como o ser humano. A tentativa de propor coerência a fenômenos humanos demanda dos cientistas sociais a adoção de teorias complexas e constante revisão de epistemologias e métodos.
Apesar desses desafios, é possível objetividade (limitada) nas ciências sociais sem apelar para paradigmas positivistas.
O sociólogo e cientista político francês Raymond Aron (1905-1983), influenciado pela metodologia sociológica de Durkheim, pela categorização lógico-matemática de Pareto e pelo conceito de compreensão (Verstehen) de Weber argumenta que o cientista social deve reduzir os vieses na investigação da realidade, sem a pretensão de neutralidade. Porém, rejeitando o postulado de Weber sobre a possibilidade de a razão permitir estabelecer posições morais e políticas seguras por meio das ciências sociais, Aron lista parâmetros deontológicos pelos quais se possibilitariam compreender o comportamento não lógico dos fenômenos sociais:
- O cientista social não pode selecionar arbitrariamente os elementos da realidade ou os distorcer.
- O cientista social deve evitar o uso arbitrário das palavras para as definições operacionais e distingui-las dos termos empregados nos resultados das pesquisas.
- O cientista social deve ser cauteloso e não generalizar fenômenos inerentemente imprecisos como se certos ou precisos fossem.
- Em pesquisa social não se deve escolher arbitrariamente o que é importante ou essencial.
- A ciência social deve ser aberta, por isso o cientista social deve apreciar a discussão e a crítica. Argumentos de autoridade ou retórica de intimidação para desqualificar uma interpretação devem ser evitados a todo custo.
- Na escolha de hipóteses, interpretações, terminologias deve-se aplicar os juízos de valor, não caprichos de uma opinião baseada em preferências.
Saiba mais
ARON, Raymond. Introduction to the Philosophy of History: An Essay on the Limits of Historical Objectivity. Boston: Beacon Press, 1961.
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999.