
Piadinha, não sei se os fashionistas e metrossexuais seriam tão audazes para assumir uma tonsura. Crescente em popularidade, vários cortes e penteados masculinos em voga possuem origens religiosas.
Os dreadlocks rastafaris têm inspiração bíblica. A religião rasta, que reinterpreta o cristianismo etíope, observa o mandado de Números 6: 5: “Todos os dias do voto do seu nazireado sobre a sua cabeça não passará navalha; até que se cumpram os dias, que se separou para o Senhor, santo será, deixando crescer as guedelhas do cabelo da sua cabeça.” e também Levíticos 19:27: “Não cortareis o cabelo, arredondando os cantos da vossa cabeça, nem danificarás a ponta da tua barba”. Tal injunção é cumprida pelos judeus hassídicos na forma de peiot, costeletas crescidas.
Já o coque masculino — o qual alguns chamam de coque samurai quando se raspa o lado da cabeça — é aquém ao jura, o penteado dos sikhs, religião monoteísta originária da Índia. Os homens sikhs mais observantes não cortam o cabelo, em obediência a uma doutrina chamada kesh. Quando em 1699 o Guru Gobind Singh instituiu as distintivas (khalsa, os Cinco Ks) para os sikhs, previu que “meu sikh não usará navalha. Para ele o uso da navalha ou barbear-se será tão pecaminoso quanto um incesto. Portanto, a distintiva de tal símbolo é prevista para considerar os sikhs puros”. O coque no topo protege o dasam duaar (o décimo portão) que abre o corpo do homem sikh para Deus. Geralmente prendem o cabelo com um pente de madeira, o kangha. Para proteger o cabelo, o uso de turbantes é também comum entre os seguidores do sikhismo.
A tonsura, um ritual de tosar ou rapar parte do cabelo, começou a ser praticado entre cristãos da bacia do Mediterrâneo no século VIII. Hoje é ainda parte do ritual de ordenação católica e usada por algumas ordens monásticas. O significado não é tão claro, com explicações variam desde imitar os apóstolos até se desfazer de vaidade. Todavia, como ritual, serve para separar o clero de sua vida secular.
A sacralização do cabelo é uma prática comum a todas grandes religiões. Sendo um sinal conspícuo, torna-se fácil expressar sinais religiosos exteriormente com o cabelo. Ocasionalmente, acabam secularizados e incorporados à moda da grande sociedade.
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