Keynes: A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda

A obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em 1936 pelo economista britânico John Maynard Keynes, moldou o pensamento econômico, afetou políticas públicas e estabeleceu as bases da macroeconomia moderna. Escrita no contexto da Grande Depressão, a obra questionou os preceitos da economia clássica, que se mostrava incapaz de explicar e solucionar a persistente crise de desemprego.

Estrutura da Obra

A Teoria Geralentral. Embora possa parecer complexo, Keynes organiza as suas ideias da seguinte forma:

  • Livro I: Introdução: Keynes define o problema do desemprego e critica a teoria clássica, particularmente a Lei de Say, que postula que a oferta cria a sua própria procura. Ele argumenta que as economias podem, de facto, encontrar-se em equilíbrio com desemprego involuntário.
  • Livro II: Definições e Ideias: São introduzidos conceitos fundamentais como a propensão a consumir, o multiplicador, a eficiência marginal do capital e a preferência pela liquidez.
  • Livro III: A Propensão a Consumir: Analisa os fatores que determinam a despesa em consumo e como esta afeta a procura agregada.
  • Livro IV: O Incentivo para Investir: Discute os determinantes do investimento, focando na taxa de juro e na eficiência marginal do capital, fortemente influenciada pelas expectativas dos empresários (“espíritos animais”).
  • Livro V: Salários Nominais e Preços: Aborda a relação entre salários, preços e emprego, argumentando contra a ideia clássica de que a redução dos salários nominais necessariamente restauraria o pleno emprego.
  • Livro VI: Notas Curtas Sugeridas pela Teoria Geral: Inclui reflexões sobre o ciclo econômico, o mercantilismo, as leis da usura, e as implicações sociais da sua teoria.

Principais Argumentos

A profundidade crítica de A Teoria Geral reside na sua radical contestação dos fundamentos da economia clássica e na sua proposta de um novo paradigma para entender o funcionamento das economias capitalistas. Os seus principais argumentos incluem:

  • Princípio da Demanda Efetiva: O nível geral de emprego não é determinado pela oferta de trabalho, mas sim pela demanda agregada (ou efetiva) por bens e serviços. Se a demanda agregada for insuficiente, a economia pode estabilizar-se num equilíbrio com desemprego.
  • Insuficiência da Demanda Agregada: Keynes argumentou que, em certas circunstâncias (como durante uma depressão), não há mecanismo automático que garanta que a demanda agregada seja suficiente para gerar pleno emprego.
  • Papel das Expectativas: As decisões de investimento são cruciais para a demanda agregada e são fortemente influenciadas pelas expectativas incertas e voláteis dos empresários sobre o futuro, um conceito que ele chamou de “espíritos animais”.
  • Preferência pela Liquidez: Os agentes econômicos podem preferir reter riqueza na forma de dinheiro (liquidez) em vez de investi-la, especialmente em tempos de incerteza, o que pode levar a taxas de juro que não equilibram poupança e investimento ao nível de pleno emprego.
  • Intervenção Governamental: Dada a possibilidade de desemprego persistente, Keynes defendeu a intervenção ativa do governo através de políticas fiscais (gastos públicos, impostos) e monetárias para estabilizar a economia, estimular a demanda agregada e combater o desemprego.

Recepção

A publicação de A Teoria Geral desencadeou o que ficou conhecido como a “Revolução Keynesiana”. Inicialmente, a obra gerou intenso debate e controvérsia. Muitos economistas clássicos resistiram às suas ideias, enquanto uma nova geração de economistas abraçou a sua abordagem como uma explicação mais realista para os problemas econômicos da época.

  • Impacto Imediato: A obra rapidamente ganhou influência, especialmente nos Estados Unidos, onde as suas ideias forneceram uma justificação teórica para as políticas do New Deal.
  • Pós-Segunda Guerra Mundial: O keynesianismo tornou-se a ortodoxia econômica dominante no mundo ocidental, influenciando políticas econômicas por várias décadas e associando-se a um período de crescimento econômico e baixo desemprego.
  • Críticas e Declínio: A partir da década de 1970, com o surgimento da estagflação (coexistência de inflação alta e baixo crescimento), o keynesianismo começou a ser desafiado por novas escolas de pensamento, como o monetarismo e a nova economia clássica.
  • Ressurgimento: As ideias de Keynes experimentaram um ressurgimento de interesse e relevância após a crise financeira global de 2008, quando muitas das suas análises sobre incerteza, falhas de mercado e a necessidade de intervenção governamental pareceram novamente pertinentes.

A obra é consistentemente citada como um dos livros mais influentes na história do pensamento econômico, ao lado de A Riqueza das Nações de Adam Smith e O Capital de Karl Marx.

História editorial e da recepção.

  • Publicação Original: “The General Theory of Employment, Interest and Money” foi publicada pela primeira vez em fevereiro de 1936 pela Macmillan and Co., em Londres.
  • Traduções: A obra foi traduzida para várias línguas, incluindo o alemão (já em 1936), o japonês (1941) e o francês (1942). A primeira tradução para o português, intitulada “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, surgiu mais tarde e diversas edições foram publicadas ao longo dos anos por diferentes editoras no Brasil e em Portugal.
  • Edições e Comentários: Ao longo das décadas, “A Teoria Geral” foi objeto de inúmeras reedições, incluindo edições críticas e comentadas que ajudam a contextualizar e interpretar o texto. Paul Krugman, por exemplo, escreveu uma introdução para uma edição da Palgrave Macmillan em 2007.
  • Obras Relacionadas: Keynes já havia explorado temas relacionados em obras anteriores, como “Tratado sobre a Moeda” (1930), e ele próprio via “A Teoria Geral” como uma evolução do seu pensamento, resolvendo ambiguidades de trabalhos prévios.

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