O que é cognição?

A cognição é a capacidade do cérebro de pensar, imaginar, perceber, planejar, raciocinar, lembrar, criar, além de resolver problemas. Talvez seja a atividade mais complexa conhecida hoje no universo, resultando de uma harmonia entre um componente físico (o “hardware”) e um processo emergente (o “software”).

A psicologia cognitiva é o ramo dessa ciência que estuda como pensamos, principalmente como um sujeito individual. Já as ciências cognitivas é o estudo interdisciplinar (coloque aí a antropologia, a fisiologia, a neurologia, a linguística e, claro, a psicologia) dos processos do pensamento.

Como funciona a cognição

Sem contar os aspectos biológicos e materiais (a parte neurológica) da cognição, este processo envolve vários mecanismos. Estabelecemos categorias para organizar as novas informações. Entre esses mecanismos e categorias estão os conceitos e seus respectivos protótipos que permitem organizar rapidamente nosso pensamento via esquemas.

Conceitos são categorias ou agrupamentos de informações oriundas das experiências: seu sistema linguísticos, imagens percebidas ou imaginadas, ideias ou memórias, eventos vividos. As informações apreendidas pela experiência são categorizadas — arquivadas — e depois combinadas em estruturas cognitivas. Por sua vez, os conceitos ajudarão a processar novas informações.

Os conceitos são organizados em hierarquias. Um exemplo é a categorização taxonômica. Em termos simples, cachorro e gato são espécies de conceitos organizados pelo gênero animal. No entanto, não são categorias rígidas. Um cachorro pode ser um bichinho de estimação, um guia para cegos, guarda, um desenho, uma palavra, um símbolo, e por aí vai. Conceitos em uma posição alta na hierarquia tendem a serem genéricos e abstratos. No nível mais baixo identificamos um cachorro em particular.

Para recuperar rapidamente um conceito da memória, utilizamos um protótipo. Coragem, o cão covarde ou o Snoopy evocam a imagem caricata de uma representação de um cachorro e dos traços do personagem específico.

A cognição utiliza esquemas, os quais são grupos de conceitos associados. Também chamados de esquematas, alguns esquemas envolvem rotinas de pensamento e comportamento. Os esquemas cognitivos ajudam a funcionar adequadamente em várias situações sem ter que “pensar duas vezes” sobre elas. Os esquemas aparecem em situações sociais e rotinas de comportamento diário. Às vezes, os esquemas podem estar um pouquinho fora da curva e aí temos problemas…é quando vemos parâmetros inexistentes, como um cão raivoso nos perseguindo em uma simples sombra.

Vale distinguir entre esquema de eventos e esquemas de papéis. Os esquemas de eventos agrupam comportamentos executados sempre da mesma maneira. Por isso é chamado de script ou roteiro cognitivo. Ler um texto requer familiaridade com a língua e com o gênero textual. Assim, distinguimos entre uma placa de trânsito sinalizando um cãozinho na pista e uma bula de remédio veterinário. Já o esquema de papéis é conjunto de expectativas que definem os comportamentos de um agente que ocupa uma determinada função. Por isso, morremos de medo ao encararmos um temerário Pinscher.

Esses processos não param. Mesmo que você não perceba, o cérebro está sempre realizando ativamente todas as ações cognitivas. Enquanto você lê este artigo, suas células nervosas estão produzindo conexões elétricas e químicas de forma dinâmica. Sem parar, seu cérebro está organizando informações, decidindo qual a prioridade de percepção e armazenamento enquanto produz o entendimento. Ler este texto é uma experiência fantástica com milhões de células do seu corpo processando experiências que outros, por sua vez, antes de você vivenciaram (podemos chamar isso de cultura).

Cognição e a mente

O termo cognição compreende todas as formas de conhecimento e consciência. A cognição faz parte — juntamente com o afeto e a conação — dos três componentes do modelo tradicional da mente humana. 

A separação entre razão (meramente só um aspecto da cognição) e emoção (por sua vez, também um dos elementos do afeto) é meramente didática ou funcional. Hoje a ciência cognitiva demonstrou que o pensamento e as emoções operam em conjunto e são basicamente experiências. Sabe aquele sentimento de cair a ficha ou concluir algo? Pois é, trata-se de uma emoção/cognição: a anagnórise. E há uma renca de processos cognitivos ou mentais que sequer temos um nome cotidiano.

O filme DivertidaMente (2015) lida com as emoções, mas este modelo fofo pode muito bem representar os processos cognitivos.

Pensamento rápido e devagar

Apesar de a cognição ocorrer de uma forma unificada, não dedicamos os mesmos recursos para todos os processos. Os psicólogos cognitivos Daniel Kahneman e Amos Tversky propuseram a distinção entre pensamento “rápido” e “devagar”.

O pensamento rápido responde às necessidades de sobrevivência imediata. São os processos cognitivos intuitivos, automáticos e difíceis de suspender. A heurística, modelos que sabemos não serem acurados, mas que nos servem de modo suficientemente útil ou boa, é um exemplo.

Já o pensamento lento leva muito tempo e energia. É a análise de todos os dados disponíveis. A a conclusão é fundamentada.

Essa distinção de Kahneman (2012) lembra as duas formas de conhecimentos proposta por Platão: a doxa (opinião) e a episteme (o conhecimento fundamentado). Como não somos especialistas em tudo, temos de contatarmos com a opinião para muitas áreas. Por vezes, confiamos na autoridade (alguém com episteme sobre o assunto).

Metacognição

Compreender a metacognição, ou seja, ter consciência que há processos de pensamentos e uma lacuna entre a realidade e o próprio pensamento, ajuda a viver melhor.

Honestamente, como humanos pensamos muito mal. Processamos informações de modo errado com mais frequência que admitimos. Porém, a reflexão crítica ajuda a superar os estereótipos, vieses e preconceitos. Isso ajuda as pessoas a pensar de forma mais justa e acurada.

SAIBA MAIS

Kahneman, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. São Paulo: Objetiva, 2012.

Hastie, Reid. “Problems for judgment and decision making.” Annual review of Psychology 52.1 (2001): 653-683.

Smith, Edward E., Kosslyn, Stephen M. Cognitive Psychology: Mind and Brain. New Jersey: Pearson, 2013.

Ward, Jamie. The student’s guide to Cognitive Neuroscience. Hove: Psychology Press, 2015.

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Conhecimento tácito: Michael Polanyi

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