Pedro Páramo

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“Vim a Comala porque me disseram que aqui vivia meu pai, um tal Pedro Páramo.” Juan Preciado abre o romance explicando os motivos da sua viagem ao pueblo de sua finada mãe, Dolores Preciado. Ela, no leito de morte, urgiu ao filho buscar o que era dele por direito, tomado pelo pai, Pedro Páramo.

Pedro Páramo é um personagem imoral. Pai biológico de boa parte dos habitantes de Comala que Juan Preciado encontra, mas deixa a cidadezinha morrer de miséria quando o povo fica indiferente à morte de seu único amor, a amiga de infância Susana San Juan. Com violência e engano, Pedro Páramo fez sua vida. Casou com Dolores Preciado para herdar os bens do sogro credor para depois se livrar dela.

Com as corrupções dos poderosos, principalmente Pedro Páramo, Comala está morta. E seus habitantes também: perambulam pela cidade, sem consciência que já passaram desta vida, mas notando o fim alheio.

Como a busca pelo pai (e pelo sentido da vida), a obra é fragmentária. Reza a lenda que o manuscrito era maior. Mas conforme uma anedota, Rulfo após escrever Pedro Páramo jogou o manuscrito para o alto, embaralhou as páginas, rasgou e descartou algumas delas. O resultado final é o romance desconexo. Sarcasticamente, dizia que nem ele, o autor, entendia a obra.

O autor com longo nome de hidalgo, Juan Nepomuceno Carlos Pérez Rulfo Vizcaíno (1917 — 1986), era filho de uma família de fazendeiros que perdeu sua fortuna durante e depois da Revolução Mexicana. Juan Rulfo cresceu órfão em vilarejos como a fantasmagórica Colima, antes de se estabelecer na capital. Trabalhou em vários serviços acompanhando engenheiros e antropólogos em campo, o que lhe permitiu conhecer o México profundo. Em 1962 passou a trabalhar no Instituto Nacional Indigenista (INI), onde foi editor de publicações. Como na escrita antropológica, Rulfo conseguia expressar o universal pelo particular: não é uma história sobre um pueblito mexicano, é antes uma digressão das condições universalmente compartilhadas pelo ser humano.

Era um escritor perfeccionista. Escrevia, re-escrevia e destruía seus manuscritos. Talvez jamais publicaria algo, se não fosse um amigo ter insistido na publicação da coletânea de contos O chão em chamas em 1953, e dois anos depois viria a público Pedro Páramo. Nos contos retrata as arbitrariedades do poder e da violência. Os personagens são solitários, sem rumo e com famílias desregradas. A aridez e a pobreza são desesperadoras. (Páramo em espanhol mexicano refere-se à região desolada e seca). O romance seria um livro curto (as edições por pouco passam de uma centena de páginas) e seria sua última obra.

Consagrou-se como autor do que seria chamado de realismo mágico ou realismo fantástico, empregando recursos estilísticos como fluxo de consciência, mudanças do ponto de vista e tempo não linear. Orientou novos escritores e impressionou mestres como Jorge Luis Borges, Vargas Llosa e Gabriel García Márquez. Dizem que Gabo recitava longos trechos da novela de memória. Foi o suficiente para figurar entre os grandes autores da literatura latino-americana.

SAIBA MAIS

Juan Rulfo entre antropólogos

RULFO, Juan. Pedro Páramo. Madrid: Cátedra, 1983 [1955].

3 comentários em “Pedro Páramo

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  1. Leonardo,

    fico-lhe agradecido pela visita ao Uaíma. Ao entrar aqui nessa página, ou nesta junção de páginas, cada qual com suas luzes, senti que não é possível passar por aqui sem que se faça uma pausa, pelo que lhe dou parabéns pelo blog/site bem preparado, elegante, cujo conteúdo é do meu agrado, e certamente do agrado de muitos e muitas.

    Rever Pedro Páramo é caminhar em silêncio, sentar-se em silêncio, mas pensar aos gritos. Tenho um velho exemplar desta obra.

    Um abraço.
    Darlan M Cunha

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