Listas, vertiginosas listas

a vertigem das listas

ECO, Umberto. A vertigem das listas.  Rio de Janeiro: Record, 2010.

É um tanto paradoxal ter uma lista em uma lista de desejos. Umas das variantes do paradoxo de Russell, o dos catálogos, pode ser expresso da seguinte forma: se uma lista contém todas as listas que não listam elas próprias, essa lista se listaria? Aliterações à parte, o livro de Umberto Eco A vertigem das listas meta-cataloga essa obsessão humana em ordenar o universo.

A lista é o meio-termo entre a bricolagem e a engenharia. Sem ser uma classificação rígida ou um mero conjunto desordenado de elementos, os critérios para organizar a informação variam e se aplicam desde listas de fins práticos, como para a compra, como o rol de coisas infinitas, como a de seres imaginários na literatura. Com essa distinção, Eco apresenta as grandes enumerações das humanidades. Nessa bela obra resultante de uma exposição e palestras do autor no Louvre em 2009 correm diante dos nossos olhos textos de autores como Homero, Dante, Barthes, Italo Calvino, Cervantes, Goethe, Joyce,  Mann, Neruda, Rabelais, Proust, Victor Hugo, Poe e Shakespeare, além das ilustrações de Bosch, Dalí, Goya, Da Vinci, Doré, Rubens e Andy Warhol.

Um verdadeiro loci communes que elenca o repositório cultural do Ocidente, cada unidade – um ensaio do autor, trechos de um conto ou poema, uma pintura – é dotada de sentido em si própria e constrói um sentido maior quando o livro é lido em conjunto. Sendo uma lista, não há uma ordem necessária de leitura.

Junto da História da Beleza (Record, 2004) e da História da Feiura (Record, 2007), a Vertigem das listas de Umberto Eco forma um cânone de coisas a serem apreciadas. É uma amostra de uma obra literária que abre o apetite para conhecê-la toda. É uma pintura que atiça a vontade de percorrer sem pressa os grandes museus. Dessa forma, a aquisição (no meu caso, presente de aniversário de minha esposa) dessa bela encadernação de capa dura e impressões brilhantes não esgota uma lista de desejo. Eis aí o paradoxo, A vertigem das listas alimenta ainda mais minhas listas de desejo de ler e de ver.

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